Com o aumento do consumo online, da crescente demanda por entregas ágeis e do tamanho do nosso país, o setor de logística tem ganhado cada vez mais importância dentro das empresas. Isso porque o setor de logística representa uma boa parte da receita das empresas e que, se negligenciado, pode representar aumento dos custos, perda de competitividade e trazer redução da receita pela queda do nível de serviço prestado aos clientes, que cada dia passam a estar mais exigentes e com mais opções para decidir quais empresas irão utilizar.
O setor de logística é estimado em 12% do PIB e mesmo apresentando números relevantes, achamos que ainda tem muito potencial de crescimento visto que ainda é bastante fragmentado e possui muitos players pequenos e com nível de informalidade alto. Por essas características, acreditamos que empresas que possuem alto profissionalismo, custo de capital baixo para aquisições, grande escala e presença nacional vão levar vantagem e conseguir gradualmente ocupar os espaços dos players menores e consolidar esse mercado no Brasil.
A JSL apresenta essas vantagens e achamos que ela é uma das favoritas para consolidar o mercado de logística no Brasil. Iniciamos cobertura da JSL com recomendação de comprar com preço alvo de R$ 10,00.
Visão geral do setor
O setor de logística é amplo e visa atender a demanda dos clientes ao menor custo possível, movimentando os produtos certos, no lugar correto e no tempo combinado. Por muitas vezes, pessoas confundem logística apenas como transporte, mas a logística engloba outros processos, como previsão de demanda, gestão dos insumos e dos estoques, armazenagem, redes de distribuição, gestão de frotas entre outros.
Apesar da definição ampla, 65% dos custos logísticos das empresas brasileiras são relacionados ao transporte, enquanto estoques e armazenagem representam apenas 25% e 10% respectivamente. Com a alta representatividade do modal rodoviário em um país com dimensões continentais, infraestrutura precária e estradas de má qualidade, diversas empresas buscam a terceirização da logística para reduzirem custos, que podem representar 7,6% do total da receita das empresas.
Como o setor apresenta uma baixa barreira de entrada, temos um mercado altamente pulverizado, sendo sua maior parte composta por pequenas transportadoras, caminhoneiros autônomos e players focados em apenas uma ou poucas etapas da cadeia logística em setores específicos da economia.
Devido a sua importância e complexidade, empresas tem demandado cada vez mais transportadoras com atuação em diversas localidades e cada vez mais profissionais, já que a grande maioria das pequenas transportadas tem uma gestão mais informal e que pode prejudicar as operações das maiores empresas nacionais em cenários adversos.
Outra característica desse setor é a alta correlação com o PIB, visto que com o crescimento dele, aumenta a demanda por produtos e serviços e consequentemente a movimentação de cargas também, beneficiando então o setor de logística como um todo.
Penetração do Mercado
O mercado de logística conta com mais de 900 mil players entre empresas e autônomos de diferentes portes e segmentos de atuação, sendo que 93% das transportadoras registradas operam com até 6 caminhões em sua frota.
Com tantos competidores nesse setor, a consolidação é um caminho natural. Dados mostram que os 10 maiores players logísticos do Brasil possuem 1,9% de participação do mercado, sendo a JSL a líder do setor com apenas 0,5%. Para efeito de comparação, os 10 maiores players do mercado de logística em países como os Estudos Unidas e da União Europeia possuem 34,4% e 32%, demostrando que existe oportunidade de crescimento no aumento de market share.
Escala
Em momentos de dificuldade na cadeia de produção global de automóveis, atrasos na entrega de veículos são frequentes. Empresas que possuem escala e melhor relacionamento com as montadoras levam vantagem no recebimento de veículos. Além do benefício na entrega, empresas com maior escala conseguem ter melhores condições de compra na aquisição dos veículos e de insumos importantes para a operação. Em períodos de combustível caro, a renovação da frota fica ainda mais importante já que caminhões novos são mais leves, mais econômicos e com uma maior capacidade de transporte de cargas, conseguindo uma redução importante dos custos.
Verticalização ou terceirização?
A matriz de transporte brasileira foi desenvolvida com predominância do modal rodoviário e representa 61% do total de cargas transportadas. Somando o fato de termos estradas de má qualidade e pouca infraestrutura, o custo logístico acaba ficando mais caro e ainda mais relevante para as companhias. Desse custo logístico total, 61% são custos com terceiros enquanto 39% são custos internos (logística própria).
Diante desse cenário, empresas devem priorizar a terceirização com o objetivo de reduzir ainda mais o custo, melhorar a alocação de capital e poder focar no seu core business.
Nossa Visão
Com uma demanda por prazo e preço cada vez menores, a logística é um tema muito relevante para as empresas. Nesse sentido, acreditamos que exista uma tendência na terceirização por parte das empresas com a finalidade de redução do custo e ganhos de eficiência. Empresas logísticas que possuem escala nacional para atender a diversas regiões, que atuam em segmentos variados da cadeia logística e uma gestão profissional vão levar vantagens nesse mercado. Por também ser um setor muito fragmentado, empresas que possuem balanço robusto e melhor acesso ao mercado de capitais se destacam para conseguir crédito mais barato e consolidar esse mercado.
Análise Inicial JSL
Recomendação: Comprar
Preço alvo: R$ 10,00
Tese de investimento
Estamos iniciando cobertura na JSL com recomendação de compra. Acreditamos que a empresa, líder com apenas 0,5% de participação de um setor muito fragmentado, possui oportunidades de crescimento orgânico e inorgânico pela frente. Com melhora do perfil da dívida e do IPO feito recentemente, a empresa deixa de ter o papel de holding para focar apenas na operação logística. Fazendo parte do grupo SIMPAR, maior comprador de caminhões do Brasil, a empresa consegue ter a escala necessária para conseguir melhores condições nas aquisições de ativos além de possuir segmentos diferentes (asset light e asset heavy) que ajudam a diversificar as operações e não ficar muito exposto à piora do ambiente macroeconômico.
Sobre a companhia
A JSL é a maior companhia de logística e possui o maior e mais integrado portfólio de serviços logísticos do Brasil. Oferecendo serviços de transporte rodoviário de cargas, operações de logística dedicada, distribuição urbana e serviços de armazenagem, a empresa possui uma frota de mais de 11 mil veículos próprios e mais de 18 mil colaboradores. Atualmente a empresa está presente em todos os estados brasileiros e em 5 países na América do Sul.
Ao longo dos mais de seus 65 anos de história, a JSL vem ampliando sua atuação conforme a demanda dos clientes, permitindo uma otimização das operações e maior fidelidade desses clientes. Essa fidelidade é comprovada com a duração dos seus relacionamentos, onde os 10 maiores clientes da base atual possuem em média 24 anos de serviços prestados. Com mais de 600 clientes em sua base, a empresa tem exposição a 16 setores da economia, sendo 34% da receita conectada ao consumo e 32% a commodities.
Antes de seu IPO realizado em 2020, a empresa atuava também como uma holding, papel que foi passado para a controladora SIMPAR, abrindo espaço para a empresa focar exclusivamente em serviços logísticos com administração própria e iniciar um movimento de crescimento orgânico e inorgânico. Essa organização societária permitiu melhorar a estrutura de capital da companhia e desde então a empresa já anunciou 4 aquisições, iniciando o movimento de consolidação do setor de logística brasileiro.
Modelos de negócios (Asset Light X Asset Heavy)
A atuação da empresa é dividida em dois modelos: asset light e asset heavy. Essa diversificação faz com que a empresa apresente resiliência aos ciclos econômicos com a combinação dos resultados do asset heavy, que possui contratos de longa duração e fluxos estáveis e a escalabilidade operacional da asset light.
Asset Heavy:
- Operações intensivas em ativos e mão de obra.
- Operação dedicada e customizada conforme o cliente.
- Contratos de longa duração (média de 5 anos)
- Contratos indexados à inflação e custos
- Elevado custo de troca para os clientes
Asset Light:
- Serviço feito através de agregados/terceiros
- Baixa necessidade de investimentos
- Altamente escalável
- Contratos de curta e média duração (2-3 anos)
- Precificação sobre os custos (mark-up)
Escala
A JSL faz parte do grupo Simpar, mesmo grupo que controla a Vamos (VAMO3). O grupo Simpar é o maior comprador de caminhões do país e devido ao seu poder de barganha e a grande escala, consegue ter desconto de até 30% em compra de caminhões e de até 40% em insumos e peças importantes para a operação.
Cross-Selling
A JSL tem por característica entender a operação por completo dos seus clientes. Uma vez instalada dentro dos clientes e ao seu amplo portfólio de serviços oferecidos, a empresa consegue mapear as oportunidades de melhorias e redução de custos para seus clientes e assim vender novos serviços, aumentando a penetração dentro deles e resultando em um círculo virtuoso de crescimento e aumentando cada vez mais o custo de troca.
Essa relação também é benéfica para os clientes, que conseguem melhores resultados operacionais e redução na burocracia ao negociar com menos provedores de serviços.
Plataforma digital
Através do segmento asset light, a JSL conecta em sua plataforma empresas que demandam de transporte rodoviários de cargas com caminhoneiros que fazem esse serviço. Esse segmento é altamente escalável e necessita de poucos investimentos. Atualmente a empresa tem uma base de 55 mil caminhoneiros e oferece benefícios como descontos em combustível e crédito em contas de frete para fidelizar esses caminhoneiros em sua base. Essa plataforma ajuda a alavancar o efeito rede, que quanto mais clientes tiver em sua base, mais caminhoneiros serão atraídos para fazer o frete e vice-versa.
Crescimento Inorgânico
Com a restruturação societária do grupo, a JSL realizou seu IPO e deixou de ser holding para focar em serviços logísticos. Esse movimento permitiu que a empresa melhorasse sua estrutura de capital e acelerasse o plano de crescimento. Desde então, a JSL já concluiu 4 aquisições com receita incremental de aproximadamente R$ 1,1 bi por ano.
- Fadel: Inserido no segmento Asset Heavy, com uma frota de mais de 1.600 ativos. Atuação nos setores de bebida, alimentos, bens de consumo e e-commerce com 25 filiais no Brasil e 4 unidades no Paraguai. Entre os principais clientes estão grandes empresas como: Ambev, Pepsico, Unilever e Souza Cruz.
- Transmoreno: Inserida no segmento Asset Light. Com 583 colaboradores, a empresa atua no setor de transporte de veículos novos e tem como cliente grandes montadoras como Renault e a Nissan.
- Rodomeu: Atuação no setor de transporte rodoviário de cargas de alta complexidade como o transporte de gases e químicos, máquinas e equipamentos agrícolas e para a construção civil e carga geral. Inserida no segmento Asset Heavy, a empresa possui uma frota de cerca 470 ativos e uma equipe de 250 colaboradores.
- TPC: Inserida no modelo asset light, a empresa é focada na operação de armazéns alfandegados, logística dedicada in house, cross docking e gestão integrada de distribuição, incluindo o last mile e logística reversa. Atuação em setores de cosméticos, moda, varejo, eletroeletrônicos, telecomunicações, farmacêutico, equipamentos hospitalares, bens de consumo, óleo e gás e petroquímico. A TPC esta presente em 24 estados e conta com mais de 5 mil colaboradores.
Essas aquisições ajudam na estratégia de cross-selling da JSL, que consegue adquirir mais clientes para sua carteira e propor novos serviços para eles. Outras vantagens são a redução do custo de capital das empresas adquiridas e a melhor condição de compra de caminhões e insumos para a operação devido ao poder de barganha e relacionamento com as montadoras. Com o atraso das entregas de caminhões que passamos atualmente, algumas empresas adquiridas conseguem receber seus pedidos de caminhões de forma antecipada para atender a demanda.
Riscos
Concentração de clientes: O maior cliente em termos de receita representou 11% da receita bruta total em 2020 e os 10 maiores clientes representam 44% da mesma receita. Essa concentração de clientes pode representar um risco para JSL caso essas empresas apresentem alguma dificuldade financeira ou troquem de prestador de serviço logístico.
Cultura das novas empresas: A JSL tem atuado como uma aceleradora das empresas que adquiriu. Com esse movimento de crescimento inorgânico, a JSL coloca as empresas em sua estrutura. Isso pode representar um risco caso as empresas compradas tenham uma cultura diferente da sua, impactar seu modelo de negócios e a sua reputação no mercado e não gerar valor.
Preço pago nas aquisocões e sinergias: As aquisições feitas pela JSL foram em um múltiplo médio de 5x EV/Ebitda. Atualmente a companhia negocia num múltiplo de 6,4x EV/Ebitda, portanto as aquisições feitas foram abaixo do múltiplo que a empresa negocia, o que é positivo. Empresas que crescem de forma inorgânica tem o risco de destruir valor caso paguem caro em novas aquisições e não consigam extrair as sinergias esperadas.
Ambiente Macroeconômico: Como o setor de logística tem uma correlação alta com o PIB, qualquer enfraquecimento da atividade econômica pode impactar a empresa. Com o aumento da taxa de juros, período eleitoral se aproximando e revisões para baixo do PIB, a empresa pode ser prejudicada e a retomada pode demorar mais para acontecer.
Projeções
O nosso preço alvo para a JSL é de R$10,00, representando um upside de 32% em relação ao preço de hoje. Utilizamos o método DCF de 5 anos com um crescimento na perpetuidade de 4,5%.