Com um cenário desafiador nos segmentos internacionais, um ambiente global inflacionário e custos de commodities em alta, a Ambev entregou um trimestre mais fraco em termos de receita, pouco abaixo de nossas expectativas. Entretanto, houve uma melhoria de margens, pouco acima do que nós e o mercado esperávamos.
Ainda assim, não enxergamos melhorias operacionais relevantes ou um ambiente macroeconômico menos desafiador do curto prazo, além de enxergarmos pouco potencial de crescimento para a companhia. Desta forma, seguimos com a nossa recomendação de VENDA para as ações da companhia, com preço-alvo de R$ 13,00.
Análise dos resultados
Como mencionado, este foi um trimestre razoável para Ambev. A companhia reportou uma receita líquida de R$ 22,7b, um crescimento de 3,1% a/a e 10,2% t/t, um EBITDA de R$ 7,1b, avanço de 4,8% a/a e 26,9% t/t, e bastante em linha com nossas expectativas. Assim, a empresa alcançou uma margem EBITDA de 31,3%, com um crescimento de 0,5 p.p. a/a e 4,1 p.p. t/t, equivalente a 2,2 p.p. acima do que o mercado esperava e 2,3 p.p. acima de nossas expectativas. Por fim, foi reportado um lucro líquido de R$ 3,9b, um pouco abaixo do que esperávamos.
Desta forma, a Ambev fechou 2022 com números decentes, tendo entregue uma receita líquida de R$ 79,7b, um avanço de 9,4% em relação a 2021, um EBITDA de R$ 23,8b, crescimento de 3,9% a/a, uma margem EBITDA com declínio de 1,8 p.p., e um bottom-line (lucro líquido) de R$ 15,2b, 12,6% maior que 2021.
A empresa encerrou o ano com uma dívida consolidada de R$ 3,1b e com um caixa de R$ 16,6b. Ou seja, a companhia possui dívida líquida negativa de R$ 15,4b, o que significa que o saldo de disponibilidades da Ambev supera o valor de seu endividamento bruto, um grande sinal de solidez financeira.
Cerveja Brasil
O segmento Cerveja Brasil apresentou um bom crescimento no volume de vendas, de 4% a/a, totalizando 26,6m de hectolitros, o maior volume trimestral da história. Este crescimento foi impulsionado pela força comercial da Ambev no Brasil durante a Copa do Mundo FIFA, somado ao retorno do consumo fora de casa.
A receita líquida atingiu R$ 10,8b, crescimento de 16,9% a/a, decorrente tanto dos fatores supracitados quanto de um crescimento interessante das marcas premium (como Original, Chopp Brahma, Stella Artois e Corona) de mais de 20% a/a em termos de volume. Vale observar que o segmento Brasil trata-se de um dos segmentos mais relevantes da companhia, tendo representado 47,6% da receita líquida consolidada neste trimestre.
Além disso, este segmento entregou um EBITDA de R$ 3,1b, avanço de 11,2% a/a. Assim, a margem EBITDA alcançou 28,7%, equivalente a um ligeiro declínio de 1,5 p.p.. Nota-se ainda que a inciativa digital Zé Delivery contribuiu para a entrega de 16m de pedidos, com seu GMV crescendo 13% a/a e alcançando cerca de 4,8m de MAU (monthly active users), devido a um aumento de seu awareness.
No entanto, ainda que o segmento tenha apresentado bons números neste trimestre, parcialmente impactado positivamente pela Copa do Mundo, o ambiente macroeconômico do Brasil continua desafiador, com alta inflação dos preços da cerveja e um câmbio desvalorizado. Além disso, os preços das principais commodities utilizadas para a produção de cerveja, alumínio e trigo, seguem em patamares elevados (embora já arrefecendo).
NAB Brasil (non-alcoholic beverages Brasil)
O segmento de não alcoólico no Brasil apresentou um desempenho semelhante ao segmento Cerveja Brasil. Houve um crescimento de 6% a/a no volume, o qual atingiu 9m de hectolitros, e um avanço de 25,7% a/a na receita, a qual alcançou R$ 2b. Além disso, o segmento entregou um EBITDA de R$ 481m, um crescimento de 22,0% a/a, e, desta forma, a margem EBITDA alcançou 23,8%, um pequeno recuo de 0,7 p.p.. Vale notar que este é um segmento ainda pouco relevante para a companhia, tendo representado 8,9% da receita consolidada neste trimestre.
CAC (América Central e Caribe)
O segmento CAC novamente apresentou resultados desanimadores tanto em termos de receita quanto em EBITDA. A receita atingiu R$ 2,7b, recuo de 7,3% a/a, e o EBITDA alcançou R$ 1b, declínio de 11,6% a/a. Assim, o segmento apresentou uma margem EBITDA de 37,2%, equivalente a uma queda de 1,7 p.p..
O desempenho de dois do principais países do segmento, República Dominicana e Panamá, continuaram fracos. No primeiro, houve uma melhora sequencial de volume, mas os volumes seguiram abaixo do ano passado. No segundo, a companhia ainda não conseguiu recuperar o market share que havia perdido. Observa-se que, neste trimestre, este segmento representou 13,7% da receita consolidada.
LAS (América Latina do Sul)
O segmento LAS veio fraco em termos de receita, mas bom em termos de EBITDA. A receita alcançou R$ 4,8b, uma queda de 14,6% a/a, impactada por volumes mais fracos decorrentes de um declínio das indústrias de cervejas no Chile e Argentina (devido a forte inflação) e Paraguai (dado temperaturas atipicamente baixas). Já o EBITDA atingiu R$ 2b, equivalente a um crescimento de 7,0% a/a. Desse modo, a margem EBITDA do segmento alcançou 42,2%, um crescimento interessante de 8,6 p.p. a/a. Nota-se que o segmento LAS, neste trimestre, representou 21,2% da receita consolidada.
Canadá
No segmento Canadá, houve uma queda de volume de 5,4% a/a, impactado por uma indústria de cerveja com fraco desempenho (por sua vez, impulsionado pelo mau tempo). A receita atingiu R$ 2,3b, um declínio de 9,7% a/a, e o EBITDA alcançou R$ 485m, queda de 13,7% a/a. Dessa forma, o segmentou apresentou uma margem EBITDA de 20,7%, equivalente a um pequeno recuo de 0,9 p.p..
Entretanto, nota-se que as marcas de cerveja da Ambev conseguiram ganhar market share pelo quinto trimestre consecutivo, impulsionado pelas marcas acima do segmento core, em especial, Michelob Ultra e Corona, e o portfólio artesanal. Observa-se ainda que o segmento representou 10,3% da receita consolidada da companhia neste trimestre.
Olhando adiante
Enxergamos que, com os preços do alumínio em queda, e com o câmbio possivelmente buscando menores patamares, poderá ser observada um redução dos custos da companhia ao longo ano, assim como uma continuação da tendência de gradual recuperação de margens observada neste trimestre. No entanto, não vemos grandes melhorias operacionais nos segmentos internacionais da companhia e identificamos pouco potencial de crescimento, fatores que nos mantém cautelosos com os papéis de Ambev.