Pontos-chave do relatório:
• Assaí deve mostrar crescimento de receita acima do Atacadão, impactado por um maior nível de Same Store Sales a/a e aberturas nos últimos 12 meses;
• Alavancagem financeira deverá ficar em evidência no primeiro semestre, se aproximando (mas não atingindo) o patamar de 3,0x;
• Dada a competitividade, empresa deve continuar investindo em margem;
• Menor montante de juros capitalizados e maiores despesas financeiras devem impactar fortemente o lucro no trimestre.
O Assaí irá divulgar seus resultados do 1º trimestre de 2023 no dia 04/maio, após o encerramento do pregão.
Neste trimestre, começamos a ver operação de players de varejo alimentar impactada por sinais de reversão da alta na inflação alimentar. Para Carrefour, por exemplo, esperamos impactos no Same Store Sales já neste trimestre, com o Atacadão apresentando um indicador menor na visão ano contra ano (análise completa da prévia CRFB3 1T23 aqui).
Com influência das crises de oferta relacionadas a pandemia e ao conflito no Leste Europeu, a categoria de “Alimentos e Bebidas” mantinha um patamar inflacionário persistente acima de 10,0% desde setembro de 2020.
A recente divulgação dos dados do IPCA de mar/23 quebrou esse padrão pela primeira vez em 30 meses. A inflação da categoria alimentar acumulada dos últimos 12 meses foi de 7,3%, caindo abaixo do patamar de duplo dígito que vinha sendo reportado. Em nossa visão, essa tendência de arrefecimento da inflação de “Alimentos e Bebidas” veio para ficar, dado o aumento de previsões da safra brasileira e manutenção dos preços de commodities agrícolas no mercado internacional.
Após um longo período de inflação alimentar impulsionando o crescimento do top line das companhias de supermercados, acreditamos que dinâmica de vendas do setor em 2023 será impactada por uma desaceleração dos preços, sem recomposição imediata de volume na cesta média do consumidor, o que implica em um menor nível de Same-Store-Sales (SSS) para o ano.
Dada a pressão de curto prazo trazida pelo projeto de conversões e pelo nível de alavancagem, estamos cortando o preço-alvo de Assaí para R$ 20,00 (anteriormente em R$ 23,50), implicando em um upside de 54% em relação ao preço de fechamento da quinta-feira (20).
Negociando a um múltiplo atrativo, 13x P/E 2023E, e considerando o potencial de entregar valor ao acionista, mantemos a nossa recomendação de COMPRA para ASAI3. Acreditamos que o 1º semestre será desafiador em relação a margens e geração de caixa, contudo, esperamos uma forte recuperação ao longo do 2º semestre.
Outro montante de venda do controlador Casino ainda neste ano poderia pressionar as ações no curto prazo, porém o operacional da companhia segue “redondo”. Detalhamos nossas expectativas em relação ao resultado do 1T23 do Assaí abaixo.
Expectativa para o trimestre
Para o Assaí, esperamos que o efeito inicial negativo da desaceleração da inflação alimentar seja parcialmente compensado pelo impacto positivo sobre as vendas da expansão realizada nos últimos 12 meses, com 60 novas lojas abertas em 2022. A companhia deve finalizar o trimestre com 266 lojas.
Assim, em nossa visão, a principal contribuição positiva para o crescimento da receita bruta da companhia virá do aumento de quase 40% a/a da área de vendas realizado nos últimos 12 meses.
Na visão sequencial, devemos ver uma redução do nível de Same Store Sales para 8,0% a/a, anteriormente em 10,0%, dada a sazonalidade positiva de vendas para o 4º trimestre. Contudo, na comparação com os três primeiros meses de 2022, mesmo com os sinais de desaceleração alimentar, devemos ver um avanço de +120bps a/a do indicador (SSS 1T22 de 6,7% a/a).
Com apenas 3 conversões finalizadas no 1T23, as 16 unidades restantes a serem convertidas deve ter uma abertura espalhada ao longo de 2023. Em nossa visão, isso deve ter um leve impacto negativo sobre o ritmo de crescimento de vendas no trimestre. Estimamos um faturamento bruto de R$ 16,6b (+32,7% a/a; -5,0% t/t) e uma receita líquida de R$ 15,2b (+32,4% a/a; -5,0% t/t).
Conforme feito nos últimos trimestres, frente a um cenário mais competitivo para o segmento de Cash-and-Carry, o Assaí deve continuar reinvestindo parte dos ganhos de lojas com melhor mix de margem em esforços para aumentar o fluxo nas unidades situadas em regiões mais competitivas. Desse modo, estimamos uma margem bruta estável em 16,0% (+0bps a/a; -120bps t/t).
Neste 1T23 as despesas pré-operacionais, relativas às conversões, devem continuar pressionando o lucro operacional da companhia. No entanto, na comparação anual, o impacto sobre a margem EBITDA deve ser menor do que o observado nos últimos trimestres, uma vez que temos menos conversões realizadas no período e um menor número de lojas a serem convertidas este ano. Assim, esperamos uma margem EBITDA de 6,4% (-14 bps a/a).
A alavancagem deste trimestre deve ser impactada pelo cronograma de pagamentos ao Extra. Com um pagamento de R$ 500m no 1T23 e outra parcela de R$ 700m no 2T23, devemos observar um patamar mais elevado de alavancagem durante o período, com uma relação Dívida Líquida/EBITDA estimada em 2,7x para o 1S23.
Vale ressaltar que a companhia possui contratos de empréstimos e financiamentos relacionados a covenants que implicam na obrigação da manutenção da relação Dívida Líquida/EBITDA inferior a 3,0x. Em nossa visão, o nível de alavancagem representa um ponto de atenção para os próximos trimestres. Considerando os pagamentos a serem feitos no 1S23, a companhia deverá ser cautelosa para evitar pressões adicionais sobre a alavancagem. No curto prazo a alavancagem financeira deve pressionar a última linha da companhia.
Dado o pagamento de R$ 1,2b a ser feito no 1S23, devemos observar maiores níveis de despesas financeiras e um menor montante de juros capitalizados beneficiando a receita financeira, impactando negativamente o resultado financeiro da companhia. Para o 1T23, estimamos um resultado financeiro líquido de -R$ 521m (+72,6% a/a).
Com ritmo de crescimento de vendas impactado pelo cenário de desinflação e por um menor número de aberturas no trimestre, acreditamos que o resultado do 1T23 sofra uma relevante pressão do alto nível de alavancagem. Estimamos um lucro líquido de R$ 41m (-81,0% a/a), implicando em uma margem líquida de 0,3% (-160bps a/a).
Porém, acreditamos que esse impacto será temporário. A rápida maturação das lojas convertidas, que vem apresentando performance de vendas entre 2,0x e 2,5x superior ao formato de hipermercado, deve continuar ajudando a diluir o peso das despesas operacionais nos próximos trimestres. Adicionalmente, passados os pagamentos das lojas convertidas, as novas unidades devem impulsionar a geração de caixa operacional, aliviando o nível de alavancagem da companhia a partir do 2S23.