Neste relatório, compartilhamos nossas impressões sobre o B3 Day. No geral, notamos uma postura mais otimista por parte da gestão em relação ao desempenho de 2024 e anos subsequentes, que podem ser impulsionados pela volta de volumes mais expressivos em diversos produtos da bolsa, decorrente da queda das taxas de juros, do lançamento de novos produtos e da nova estrutura de Dados e Serviços, que consolida as recentes aquisições de Neoway e Neurotech.
A B3 apresentou sua nova estrutura de Dados e Analytics, destacando a separação de produtos e serviços entre as recentes e promissoras aquisições de Neoway e Neurotech, as quais atualmente representam aproximadamente 5-6% da receita total da companhia. A meta é expandir a participação de Dados e Analytics de 5% para 10-20% do total de receita em 3-5 anos, sendo, provavelmente, o principal impulsionador de crescimento da Exchange.
Outra fonte de crescimento, conforme CEO Gilson, são os novos produtos dentro das unidades já existentes, como a recente plataforma dark pool (fórum privado para negociação de títulos), solução para mitigar a falta de liquidez de posições short, horário estendido, opções de Copom, entre outros. Gilson ressalta que o CAGR da bolsa de produtos listados seria apenas de 7%, em vez de 14% desde 2018, não fosse pela introdução de novos produtos, tais como iniciativas de minicontratos, listagem de novas empresas, ETFs, FII e BDRs. Embora não exista uma solução única, a inovação contínua de novos produtos ainda pode contribuir para o crescimento da B3.
No entanto, a introdução de novos produtos não foi o bastante para impulsionar as receitas em 2022 e 2023, que permanecem estagnadas há dois anos. Melhoras do cenário macroeconômico e das condições internacionais serão cruciais. Com o início do processo de corte de juros no cenário nacional desde agosto de 2023 e expectativas do primeiro corte nas taxas americanas em meados de 2024, acreditamos que o investidor volte a procurar ativos de maior risco (maior retorno), impulsionando os volumes da bolsa (ações) e de muitos outros produtos da B3, embora haja uma contrapartida de menor demanda para produtos de renda fixa.
Por fim, a queda programada de depreciação e amortização para 2024 e 2025 relacionadas a aquisição da Cetip conforme indicado no guidance deve levar a uma expansão do lucro contábil da empresa, ajudando os mais desavisados a ficarem mais otimistas.
Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR com preço alvo em R$ 16,00, implicando um upside de 16%. Além disso, acreditamos que a B3 negocia a um valuation atrativo a 15,9x P/L 24E (com benefício fiscal), abaixo de pares internacionais, que negociam média a 19,6x P/L 24E (incluindo B3).
Drivers de Receita: Ainda com fôlego
Segundo o management, no curto prazo os principais direcionadores de crescimento de receita são (i) mercado de ações com a retomada de volume com a queda de juros e desenvolvimento de novos produtos e (ii) crédito privado que acabou sendo um pouco ofuscado no ano pelos casos de Americanas e Light.
Como mencionado, no médio prazo (3-5 anos), a empresa projeta que a vertical de Dados/Analytics impulsionará ainda mais a geração de receita, alcançando aproximadamente 15% do total de receita, em comparação aos atuais 5%. Essa transição tende a tornar a linha de receita menos suscetível a ciclos econômicos a longo prazo.
Dados & Analytics: de 5% da receita para 10-20%
O segmento de Data & Analytics planeja crescer substancialmente em importância ao longo do tempo, buscando se tornar a principal empresa de dados do Brasil e, possivelmente, da América Latina. A empresa também tem como objetivo desenvolver produtos de alto valor agregado nesse setor.
Como parte desse plano, a B3 realizou uma divisão entre os produtos e serviços das duas empresas adquiridas para evitar a canibalização de receitas. Antes da reestruturação, estimava-se uma sobreposição de produtos de cerca de 20-30%. Com a nova divisão, foram criadas quatro verticais de produtos e serviços: (1) Mercado de Capitais, (2) Vendas e Marketing, (3) Prevenção de Perdas e (4) Crédito. A Neoway ficou encarregada principalmente das verticais de Mercado de Capitais e Vendas e Marketing, enquanto a Neurotech ficou com as verticais de Prevenção de Perdas e Crédito. Algumas iniciativas de dados apresentadas durante o evento são:
- Produto de segmentação de investidor. Destinado a corretoras de valores e bancos, este produto capacita essas instituições a compreender profundamente o perfil de cada cliente. Isso possibilita a oferta de propostas de valor mais direcionadas, além de identificar questões relacionadas a compliance e lavagem de dinheiro.
- Produtos para prevenção de fraudes. A B3 tem a capacidade única de identificar movimentações de clientes em todas as instituições financeiras. Essa abordagem diferenciada permite detectar fraudes que um banco isoladamente poderia não identificar.
- Produtos para Relações com Investidores (RI). Fornecendo um sistema que capacita os profissionais de RI a compreender as alocações dos investidores e compará-las com históricos passados.
- Soluções para o Setor de Saúde. A Neurotech desenvolveu um sistema de Inteligência Artificial (IA) para compreender pedidos de reembolso em planos de saúde. Esse sistema otimiza significativamente o setor de saúde.
- Setor automotivo.A Neurotech oferece um serviço que informa as seguradoras sobre sinistros, indicando se o sinistro deve ser pago ou não em apenas 5 minutos.
- Soluções de Crédito.A Neurotech fornece informações aprimoradas para instituições financeiras, permitindo avaliar a capacidade de um cliente para obter crédito.
- Criação de índices para o mercado de varejo: Esta iniciativa visa impulsionar o mercado de crédito, fornecendo índices relevantes para o segmento de varejo.
Novos Produtos/Serviços
A B3 está planejando lançar novos produtos e serviços para impulsionar as negociações e aumentar a receita, incluindo:
- ETFs de Ações e Índices: Expandir a oferta de Exchange Traded Funds.
- Estratégias de Long & Short: Fomentar o lado “short” para ampliar o conhecimento sobre essa estratégia.
- Produtos Estruturados de Derivativos: Atrair investidores varejo e institucionais com produtos derivativos estruturados.
- Outras Operações com Opções: Diversificar operações com estratégias adicionais envolvendo opções.
Além disso, a empresa está empenhada em ampliar o horário de negociação da bolsa. De acordo com a gestão, o projeto está pendente de aprovação regulatória. Acreditam que, ao abrir o mercado 1-2 horas antes do horário atual, poderiam capturar um maior volume de transações da Europa. Estender o horário de fechamento também pode atrair mais investidores individuais, que tendem a movimentar fundos após o expediente, conforme indicam estudos da empresa.
Recentemente, a B3 lançou um sistema para negociações de grandes blocos fora do livro de ofertas central, conhecidos como “Dark Pools”. Embora o sistema seja recente, a empresa já observa um aumento nas transações de ativos menos líquidos. No entanto, as instituições financeiras podem optar por instalar sistemas semelhantes internamente, o que poderia reduzir o volume na B3, levantando preocupações sobre as receitas futuras da empresa.
Pessoas
Na esfera qualitativa, chamou nossa atenção o baixo índice de rotatividade de funcionários na B3, que está em 13,5% (-3,6pp a/a), em comparação com a média de 20% no setor financeiro. Além disso, o management destacou que as equipes operam com maior autonomia e em projetos de períodos mais curtos, possivelmente resultando em maior engajamento. A gestão também enfatiza que todas as áreas da empresa estão testando novos desenvolvimentos de maneira incremental antes de escalá-los, permitindo que a empresa “erre pequeno” e reduza custos.
Guidance 2024
O guidance divulgado recentemente para 2024, por meio de um fato relevante, não trouxe grandes surpresas e está relativamente em linha com o guidance de 2023. Um dos fatores que devem elevar um pouco as despesas para 2024 é a incorporação da Neurotech, que terá um impacto maior em 2024 do que em 2023 em aproximadamente 5 meses.
O ponto de destaque no guidance de 2024 foi a depreciação & amortização, que sinaliza uma queda significativa em comparação a 2023 devido ao término da amortização de certos intangíveis relacionados à fusão da BM&F e Cetip. Antecipamos que essa redução terá um impacto positivo na expansão do lucro contábil em 2024. Além disso, considerando que a amortização ainda ocorrerá em alguns meses de 2024, projetamos uma queda adicional nessa linha em 2025, ano em que não mais incorreremos nessas despesas.
A redução do payout para 2024 é atribuída à queda na depreciação & amortização, levando a empresa a ajustar a distribuição de lucros, já que o lucro societário seria maior.