Neste relatório, apresentamos nossas impressões sobre o Investor Day da B3 (B3 Day), conduzido pela equipe de gestão da companhia. De maneira geral, a administração demonstrou otimismo em relação ao desempenho futuro da empresa, destacando principalmente as perspectivas para a dinâmica das receitas nos próximos períodos — ponto central de atenção para os investidores. Embora o cenário de juros elevados represente um desafio para o mercado de ações à vista (cash equities), a diversificação das receitas, com avanços mais expressivos nos segmentos de Dados e Renda Fixa, deve continuar impulsionando os resultados, mitigando o impacto do desempenho mais modesto da receita de ações.
Evolução das receitas: Com mercado de ações mais fraco, outras receitas têm ganhado representatividade no mix
Entre 2019 e 2024 LTM, o mercado de ações à vista perdeu representatividade (-8pp) frente as outras verticais que mantêm boa performance mesmo diante de um cenário com taxas de juros elevadas, como os segmentos de dados (+4pp), derivativos (+2pp), balcão (+1pp) e tecnologia (+5pp).
Para a Renda Fixa, a manutenção de um cenário de juros elevados em 2025 deve sustentar o aquecimento desse mercado. Nesse contexto, a companhia entende que há oportunidades para explorar negócios relacionados ao fornecimento de dados (um recurso ainda escasso nesse segmento), além de iniciativas voltadas à automatização. Já para dados e tecnologia, novos produtos e serviços devem continuar a serem lançados, como apreçamento, surveillance e market data histórico. Apesar de terem sido transações reconhecidas pelo mercado como “caras”, Neurotech e Neoway tem servido com grandes usinas de dados fundamentais para a expansão dessa linha de receita.
A gestão também destacou que composição dos volumes de bolsa para os próximos períodos também deve ser cada vez menos dependente do volume do mercado de ações, dado o crescimento do número e do volume de ETFs, FIIs e BDRs.
Além disso, a partir de 2025, uma nova forma de segmentação de receitas deve ser implementada, tornando a diversificação mais evidente para o mercado. As receitas devem ser reorganizadas nas categorias (i) à vista + empréstimos; (ii)Derivativos; (iii) Renda Fixa e Crédito; (iv) soluções para mercado de capitais; (v) soluções analíticas de dados e (vi) tecnologia e serviços.
Apesar da ausência de catalisadores de curto-prazo e entendermos que a B3 ainda depende da volatilidade e desempenho do mercado de ações à vista, mantemos nossa recomendação de COMPRA, fundamentada em seu valuation atrativo e na potencial expansão de novas linhas de receita em 2025, além do possível destravamento de litígios que podem gerar um fluxo de capital positivo para o papel. Nosso preço-alvo é de R$ 14,00, representando um upside de 41%. Atualmente, a B3 está negociando a um múltiplo P/L de 10,5x (com benefício fiscal) para 2024, em comparação com cerca de 20x para seus pares internacionais no mesmo período.
Diversificação: Menor dependência do mercado de ações
O principal destaque do B3 Day foi o tema relacionado a crescente diversificação de receitas da companhia, que tem se esforçado para reduzir sua dependência da performance do mercado de ações à vista (cash equities). Esse movimento ganha relevância em um cenário de juros elevados, que comprime o volume negociado na bolsa, à medida que os investidores migram para produtos menos arriscados e capazes de entregar uma boa rentabilidade, como os produtos de renda fixa. Nesse contexto, a empresa tem direcionado investimentos estratégicos para fortalecer os segmentos de derivativos, renda fixa e dados, além de procurar antecipar as demandas do mercado com a introdução de novos produtos. Essas iniciativas devem impulsionar os resultados e mitigar o impacto do desempenho mais modesto da receita proveniente de ações.
Volume Diário da Bolsa x Selic: Volume da bolsa é inversamente correlacionado com os juros
Avenidas de crescimento: Dados e Renda Fixa são os destaques
Dados de Mercado de Capitais: A empresa possui atualmente quatro principais pilares que são destaques para avançar e monetizar com dados no mercado de capitais:
- Market Data Histórico: Abrangem rankings, backtesting, avaliação de liquidez dos ativos e expansão para novas classes de ativos, como renda fixa.
- Renda Fixa: Segmento com grande carência de dados, demandando uniformização e padronização que atendam desde informações básicas até detalhamentos complexos das características dos ativos.
- Apreçamento: Descoberta de preços para emissões, garantindo transparência e independência na marcação a mercado, além de suporte eficiente para middle e back office.
- Surveillance: Monitoramento ativo dos mercados, com foco na supervisão de atividades dos clientes e mitigação de riscos.
Outras Frentes de Dados: Composta por cinco usinas de dados, englobando veículos, imobiliário, seguros, públicos e parceiros. Processo de captura e geração de dados contínuos por meio da Neoway e Neurotech, para prover soluções e serviços que resolvam problemas reais dos clientes. Cerca de 70% dos novos negócios de dados vendidos em 2024 foram originados de novos produtos desenvolvidos, destacando a eficácia no processo de expansão.
Renda fixa: A renda fixa se configura como a maior oportunidade de diversificação de receita da empresa no momento por ser um negócio contra-cíclico, se beneficiando do ciclo de altas taxas de juros e suavizando o resultado da companhia. Atualmente, é o grande mercado de crescimento no Brasil, com aumento na base de clientes, na base de emissores, nos volumes e na negociação do mercado secundário, que ainda é muito analógico.
Como há espaço para o aprimoramento deste mercado secundário, a B3 enxerga uma oportunidade para oferecer ferramentas de digitalização e automatização de processos. Nesse contexto, eles já implementaram uma plataforma de negociação digital, a TradeMate, com a intenção de produzir uma série de novos produtos digitais para a capturar essa crescente demanda em renda fixa, dentre eles: Market Data; Índices; ETFs; Derivativos de Crédito; Futuros de Índices; Solução PostTrad e STP.
Duplicatas: A B3 tem trabalhado para oferecer valor agregado aos clientes, indo além das exigências regulatórias. Uma oportunidade regulatória importante surgiu com a necessidade de registro e posterior escrituração de duplicatas, e a B3 está fortemente posicionada nesse mercado. Apesar da alta concorrência, a empresa busca se diferenciar por meio de produtos de dados e pelo fortalecimento do relacionamento com as empresas.
Nesse contexto, a B3 fornece ferramentas para a originação de duplicatas voltadas à indústria bancária, permitindo identificar perfis e clusters de clientes, realizar análises pré-desconto, gerar ratings e acompanhar a evolução dos portfólios. Por fim, oferece um serviço completo de back office as a service, incluindo suporte em casos de possíveis defaults, eliminando a necessidade de trabalho operacional pelos bancos.
Pessoa Física: A B3 vem se reposicionando estrategicamente no segmente de varejo, considerando diferentes perfis de investidores pessoa física, para atender as necessidades e demandas de seus clientes com serviços de valor agregado.
O perfil de clientes sofisticados, com 2,1 milhões de investidores private e de alta renda, é prioritário devido ao seu potencial de crescimento. Para esse público, a empresa está expandindo a Área do Investidor, que consolida informações sobre investimentos e oferece ferramentas como transferência de custódia, voto à distância e, futuramente, recolhimento de Imposto de Renda integrado à Receita Federal. Novas soluções voltadas para renda fixa também buscam monetizar serviços adicionais.
A B3 também vem focando em clientes digitais, oferecendo soluções simplificadas como as de acesso ao Tesouro Direto, e mantém sua atuação no mercado de futuros, atendendo traders ativos. Paralelamente, a empresa está desenvolvendo uma plataforma internacional de negociações, em parceria com a CVM, com previsão de lançamento em 2025 para captar até 250 mil potenciais investidores estrangeiros.
Ambiente Regulatório: Internalização é pauta, mas ainda está sob avaliação da CVM
Durante o evento, a companhia realizou um follow-up sobre o estágio da discussão sobre a aprovação da internalização no Brasil, tema latente de risco para a B3.
A internalização é o processo pelo qual uma instituição financeira executa ordens de compra ou venda de ativos dentro de sua própria estrutura, sem encaminhá-las para uma bolsa de valores pública ou outro sistema de negociação externo. Esse modelo poderia reduzir os volumes negociados na bolsa e, consequentemente, ter um impacto negativo nas receitas geradas pelas atividades de trading e pós-trading.
A companhia destacou que a CVM deve divulgar um novo relatório sobre a internalização até o final desse ano, e confirmou que, por se tratar de um assunto complexo, deve continuar a estudar a aprovação ao longo de 2025, o que indica que não devem ocorrer mudanças relevantes sobre esse tema no curto prazo.
Em um estudo recente comparando peers internacionais, também conduzido pela CVM, foi destacado que na maioria dos casos analisados, a introdução de negociações internalizadas resultou em alguma deterioração de métricas de liquidez. Adicionalmente, o estudo apontou que existem especificidades técnicas na legislação brasileira, especialmente no que se refere à custódia de ativos, que tornam a implementação dessa prática no país mais complexa. (link para leitura do relatório)
Guidance 2025: Dentro do esperado
O Guidance para 2025, que foi divulgado ao mercado na última sexta-feira (13/12), também foi apresentado e, no geral, consideramos-o como dentro do esperado, sem nenhuma movimentação relevante em relação às projeções de 2024 que indiquem algum tipo de mudança significativa de estratégia para o próximo ano.
Destacamos a leve redução da faixa de payout, que é explicada principalmente pelo fim das despesas com a amortização do intangível referentes à fusão da Cetip e BMF&Bovespa (que originou a B3), dado a diminuição da diferença entre lucro e geração de caixa. Ainda assim, o volume nominal de remuneração aos acionistas (seja via proventos ou recompra) devem continuar a crescer em 2025.
Nova segmentação de Receitas para 2025: Maior evidência para diversificação
Durante o evento, também foi apresentado a nova segmentação de receitas da B3, que será implementada a partir de 2025. O CFO, André Milanez, afirmou durante o evento que o modelo atual de classificação não representa bem a dinâmica das receitas da companhia, e que é um vestígio das classificações usadas pelas empresas que deram origem à B3 (Cetip e BMF&Bovespa). Além disso, deve trazer mais evidência à diversificação.
No novo modelo, as receitas da companhia serão divididas entre (i) à vista + empréstimos; (ii)Derivativos; (iii) Renda Fixa e Crédito; (iv) soluções para mercado de capitais; (v) soluções analíticas de dados e (vi) tecnologia e serviços.