A alta dos juros, o panorama macroeconômico mais desafiador e eleições presidenciais geram um cenário mais desafiador para B3 no curto prazo, com potencial perda de momentum em suas receitas. Mesmo barata a um valuation de apenas 14,2x P/L 22 (com beneficio fiscal) e 17,2x P/L 22 (lucro reportado), quando comparado com pares globais acima de 25x P/L22, existem poucos gatilhos para destrave de valor no curto prazo. O cenário deve pressionar com resultados mais fracos no trimestre, queda dos volumes e receitas e robusto avanço das despesas. No 2T, esperamos uma receita caindo 4,2% t/t e 9,5% a/a e um lucro de R$ 1,15b (-2,7% t/t e -6,0% a/a). Estimamos um lucro contábil de R$ 1,08b no 2T22, com queda de -1,7% t/t e -9,3% a/a. Para o lucro ajustado (sem beneficio fiscal), esperamos uma queda de -2,7% t/t -6,0% a/a para R$ 1,16b.
O ambiente mais difícil fez com que a ação da B3 tivesse uma performance inferior ao IBOV no último ano. O desempenho no curto prazo contrapõe a tese de decoupling (descolamento) entre preços da ação de B3 e índice Ibovespa, que tínhamos desde 2016. Por um bom período a tese se provou assertiva, com a ação descolando do índice desde 2017, quando a queda das taxas de juros e ambiente macro mais favorável geraram um forte crescimento dos volumes da B3. Olhando para frente, uma eventual queda das taxas de juros e menos incerteza política com o fim das eleições presidenciais, os volumes e resultados podem se recuperar, voltando a destravar valor para a ação.
Mas alguns fatores específicos também pesaram na cotação, como a sinalização de maior abertura do regulador à competição e reclassificação de passivos judiciais. A CVM passará a possibilitar a negociação de grandes lotes em OTC e definiu o critério para as regras de best-execution (melhor execução de ordens) para clientes não qualificados. No que se refere a reclassificação, a B3 revisou a chance de perda de uma disputa judicial que herdou da BM&F, cujo valor atualizado é de R$ 31,2b, de remota para possível. A mudança infere uma probabilidade de perda que varia de 30-70%. Entretanto, continuamos a ver uma baixa possibilidade de perda da B3 no processo.
Receita: Impactada pela queda de volumes
As receitas devem ter um desempenho mais fraco no 2T, dada a queda dos volumes em listado, segmento mais relevante para a B3 (números já reportados). Mesmo com a alta do segmento de balcão, beneficiado com a alta da Selic e emissões de renda fixa que continua aquecido, o avanço não deve ser suficiente para conter a queda da receita consolidada. De forma geral, não estamos muito otimistas para as receitas da B3 no ano, que devem continuar sendo impactadas pela queda dos volumes, prejudicados pelo macro desafiador e elevação das taxas de juros. Nos projetamos uma receita bruta de R$ 2,44b para o 2T22, queda de -3,9% t/t e -8,7% a/a.
Apesar da eleição presidencial poder pressionar o IBOV, a gradativa aproximação do evento eleitoral pode beneficiar o turnover (giro de volume) no 3T, por conta de um cenário potencialmente de maior incerteza e volatilidade. Do lado negativo, a sazonalidade costuma pressionar os volumes no 3T, em função das férias no hemisfério norte.
Despesas: pressão de maiores investimentos
Como sempre, as despesas são sempre a maior incógnita no trimestre dado que os volumes são reportados antecipadamente. Esperamos que as despesas sigam pressionadas ao longo do ano, impactadas pelos maiores investimentos da B3. No 1T as despesas operacionais cresceram robustos 29,5% a/a. A somatória de queda dos volumes e continuidade da maior pressão de despesas pode gerar uma queda do lucro t/t no 2T.