No 1T24, a B3 reportou um resultado sem grandes evoluções. O cenário econômico internacional incerto continua a afetar os mercados, com a postergação do início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos tendo repercussões globais, incluindo na bolsa de valores brasileira. Essa incerteza tem se refletido em volumes de negociação mais modestos, dificultando o crescimento das receitas e, por consequência, do lucro da B3. O lucro líquido contábil recorrente no 1T24 foi de R$ 994 milhões, um aumento de +8,6% em relação ao trimestre anterior (t/t), mas uma redução de -8,7% em relação ao ano anterior (a/a). Esse resultado ficou aproximadamente 3% abaixo das nossas estimativas e do consenso de mercado.
Embora a B3 tenha realizado esforços significativos para diversificar suas operações ao longo dos anos, lançando novos produtos, adquirindo empresas de tecnologia e explorando outras iniciativas, a persistente volatilidade do mercado tem sido um desafio.
O trimestre não trouxe grandes surpresas, com a receita bruta ainda sendo afetada negativamente pelo segmento de listados, especialmente devido à queda de 2,8% t/t e 6,4% a/a no volume financeiro médio diário (ADTV) da bolsa totalizando R$ 23,6b no 1T24. Com isso, a receita total ficou praticamente estável (-1,1% t/t e +0,2% a/a), totalizando R$ 2,47 bilhões no trimestre. Além disso, as despesas foram mais pressionadas na comparação anual devido ao programa Desenrola e à consolidação da Neurotech (adquirida no 2T23). Houve também um efeito não-recorrente de reconhecimento de um impairment de R$ 67,6 milhões, que não teve impacto no caixa, resultante da revisão para baixo das projeções de fluxo de caixa durante o restante da vida útil de plataformas desenvolvidas internamente.
Do lado positivo, as receitas de balcão, infraestrutura para financiamentos e tecnologia/dados avançaram +13,2% a/a, +33,7% a/a e +10,5% a/a, respectivamente. A receita de listados (maior segmento), no entanto caiu -9,1% a/a e -1,4% t/t. O EBITDA ficou em R$ 1,57b, melhorando +7,8% t/t, mas caindo -3.0% t/t. A margem EBITDA ficou em 71,3% (+6,18pp t/t e -2,14pp a/a).
Volume (ADTV) x Juros (CDI): A queda dos juros ainda não impulsionou o aumento dos volumes.
Para o restante do ano, esperamos uma melhora do lucro contábil, beneficiado especialmente pelo fim da amortização de ativos intangíveis a partir do 2S24. Projetamos um lucro líquido contábil de R$ 4,7b para 2024, representando um aumento atrativo de +14% a/a. No entanto, o nosso lucro ajustado (sem benefício fiscal) de R$4,85b já ajusta os intangíveis e, portanto, não deveria sentir o crescimento de lucro. Nessa visão, enxergamos o lucro ajustado crescendo apenas 0,4% a/a em 2024.
Apesar das perspectivas menos animadoras para o ano de 2024, consideramos que as ações da B3 já refletem essas expectativas, negociando a um múltiplo P/L de 14,0x para 2024, enquanto os pares internacionais são negociados em torno de 20x P/L para o mesmo período. Acreditamos que o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos pode ser um catalisador positivo para as ações da B3. Portanto, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR, com um preço-alvo de R$ 13,80.
B3 (B3SA3) | Resultado 1T24: Segmento listado continua sendo impactado por volumes fracos
Desenvolvimento Estratégicos Recentes
A B3 lançou o contrato futuro de Bitcoin em abril para atender investidores interessados em proteção contra a volatilidade da criptomoeda, bem como para oferecer opções de diversificação e exposição a esse ativo em um ambiente regulado.
Além disso, a B3 lançou o índice VXBR, também conhecido como “VIX brasileiro”, em parceria com a S&P Dow Jones em março, para acompanhar a volatilidade implícita do mercado local e possibilitar a criação de produtos ligados a esse índice, alinhado com o desenvolvimento do mercado brasileiro.
No mês de abril, a B3 também promoveu revisões na política de tarifação de renda variável, que visam simplificar a atual tabela de tarifação entre diferentes perfis de clientes, bem como garantir maior eficiência aos mercados. A expectativa da B3 é que não haja impactos materiais na receita. O período de certificação das alterações está previsto para o 4T24 e a entrada em produção está prevista para o 2T25.
Por fim, a empresa aprovou a 8ª emissão de debêntures no montante total de R$ 4,5b com prazo de 5 anos e taxa a ser definida no bookbuilding, mas limitado a CDI + 0,7% ao ano. A emissão será utilizada para refinanciar as dívidas já existentes com um custo menor, além de alongar o perfil da dívida. A B3 utilizará os recursos para pré-pagar as debêntures da segunda série da 5ª emissão e da totalidade das debêntures da 6ª emissão.
Receita: Segmento listado segue sofrendo com os baixos volumes
A receita bruta de R$ 2,5b no tri teve pouca evolução (-1,1% t/t e +0,2% a/a), ficando em linha com nossas projeções dada a baixa volumetria da bolsa. O volume financeiro médio diário (ADTV) ficou em apenas R$ 23,6b no 1T24, queda de -2,8% t/t e -6,4% a/a. Devido a esse baixo volume negociado, o destaque negativo do trimestre ficou com o segmento de listados que contraiu -1,4% t/t e -9,1% a/a, mas que foi compensado por uma melhor performance nos outros segmentos.
No trimestre, a Neurotech contribuiu com uma receita R$ 30,3m. No entanto, excluindo o efeito da Neurotech (não estava consolidada no 1T23), a receita total teria contraído -1% a/a, ficando em R$ 2,43b.
Listado. A receita ficou em R$ 1,4b, queda de -1,4% t/t e -9,1% a/a. A forte queda anual do segmento foi impactado em especial por: (i) negociação e pós-negociação (+1,2% t/t e -5,5% a/a) devido ao baixo volume negociado na bolsa; (ii) empréstimos de ações (-17,2% t/t e -41,9% a/a) devido à queda de 0,62pp na taxa média dos contratos negociados; e (iii) juros, moedas e mercadorias (-4,2% t/t e -12,1% a/a) devido a menores volumes e menor RPC nos contratos de derivativos de câmbio, menores receitas com contratos de juros em reais (R$) e dois dias úteis a menos que no 1T23.
Balcão. A receita chegou a R$ 395,8m, registrando uma ligeira queda trimestral de 0,8%, mas uma expansão anual significativa de +13,2% a/a. Esse bom desempenho anual foi impulsionado por (i) instrumentos de renda fixa (-1,6% t/t e +16,2% a/a) que se beneficiou do crescimento no estoque médio de instrumentos de captação bancária e aumento na receita do Tesouro Direto; e (ii) outros (+4,4% t/t e +19,9% a/a), reflexo do aumento no estoque médio de cotas de fundos.
Infraestrutura para financiamento. A receita ficou em R$ 148m, com um forte crescimento anual de +33,7%, embora tenha caído -3,4% t/t. O aumento anual é atribuído às receitas da plataforma desenvolvida para o Desenrola e pelo crescimento do número de veículos financiados.
Tecnologia, dados e serviços. A unidade teve uma receita de R$ 509,8m (-2,3% t/t e +10,5% a/a). Esse desempenho foi impulsionado por dados e analytics (-8,0% t/t e +26,2% a/a), que foi beneficiado em relação ao ano anterior pela entrada da Neurotech. Excluindo a Neurotech, a expansão anual seria de apenas +2,3% a/a. Além disso, a linha de tecnologia e acesso cresceu +4,6% t/t e +9,6% a/a, reflexo do aumento do número de clientes do segmento de balcão como as correções de preços pela inflação em produtos de tecnologia e de utilização mensal.
Despesas Operacionais: Impactadas pelo Desenrola e Neurotech
As despesas operacionais totalizaram R$ 927m no 1T24 (-13,6% t/t e +8,8% a/a), em linha com nossas estimativas de R$ 925m. Excluindo os efeitos de Neurotech e do programa Desenrola, as despesas operacionais teriam ficado mais controladas com um aumento de apenas 3,8% a/a (em linha com a inflação), totalizando R$ 884m.
No trimestre, as despesas foram beneficiadas pela queda da linha de processamento de dados (-14,4% t/t), serviços de terceiros (-56,4% t/t) e promoção e divulgação (-71,1% t/t), já que a empresa resolveu antecipar alguns gastos no 4T23 pois estava com folga no orçamento de 2023.
Já a alta anual é explicada por: (i) pessoal e encargos (+11,4% a/a) devido ao dissídio, reajuste dos planos de assistência médica e à inclusão da Neutorech; e (ii) processamento de dados (+14,1% a/a), por conta da plataforma do Desenrola e inclusão da Neurotech.
Resultado financeiro: Maior endividamento a/a impacta a linha
No trimestre, o resultado financeiro ficou positivo em apenas R$ 45,4m (+84,9% t/t e -68,1% a/a). O aumento trimestral se deu pelo maior nível de receitas financeiras (+11,4% t/t). Já a queda anual ocorreu por: (i) aumento das despesas financeiras (+6,7% a/a) devido ao maior nível de endividamento; (ii) piora das variações cambiais que ficaram negativas em -R$ 8,7m vs valor positivo de R$ 14,3m no 1T23; e (iii) menor nível de receitas financeiras (-10% a/a), pois o 1T23 foi impactado positivamente pela recompra em maior volume do Bond 2031.
Lucro antes de Imposto (EBT): Impacto do não-recorrente
No 1T24, o lucro antes do imposto totalizou R$ 1,3b, expansão de +6,1% t/t e queda de -15,3% a/a. A queda anual ocorreu pela linha “outros” que inclui o impairment realizado no trimestre no montante de R$ 67,6m, além de um menor resultado financeiro (R$ 45m no 1T24 vs R$ 142m no 1T23). Já o aumento trimestral se deu pela melhora nas despesas operacionais (-13,6% t/t) e por um maior resultado financeiro (R$ 45m no 1T24 vs R$ 25m no 4T23).
Imposto: Beneficiado pelo JCP
A alíquota efetiva de imposto ficou em 25,2% no trimestre (+1,8pp t/t e -2,2pp a/a), beneficiada em parte pelo pagamento de R$ 292,5m em JCP.