Com volumes crescentes na maioria de seus produtos em ambiente de juros baixos, a atual conjuntura de aperto monetário não tem ajudado muito a B3. Em meio a um cenário mais desfavorável para renda variável com alta da Selic, despesas pressionadas pela inflação, investimentos e menor resultado financeiro, o lucro (reportado) da B3 de R$ 1,1b, caiu -0,8% t/t e -8,5% a/a, mas em linha com nossas estimativas e expectativas do mercado. Sem muito momentum por parte do volume, não vemos grandes gatilhos de curto prazo. Mas colocando em perspectiva a magnitude e a velocidade da alta dos juros, os volumes da B3 até que tem se comportado com grande resiliência. Na nossa visão, o mal desempenho das ações pode ter tido outras motivações além do cenário macroeconômico mais difícil. A B3 continua sofrendo de tempos em tempos com riscos de nova competição, constante aumento de passivos judiciais bilionários, eleição presidencial e pressões regulatórias para aumentar a competição e introduzir novas tecnologias.
Apesar do momento desfavorável, a ação está barata quando comparamos a seus pares globais. Negociando ao valuation de apenas 14,2x P/L 22 (com benefício fiscal) e 17,2x P/L 22 (lucro reportado), a B3 negocia a um grande desconto de exchanges em outros países que negociam a múltiplos acima de 25x P/L22. Eventualmente, a melhora do cenário macro, que enseja o fim próximo do ciclo de elevação da Selic, pode contribuir para a recuperação dos volumes e resultados. Até 11/ago o volume médio de ações negociado foi de R$ 26,8b, em comparação a R$ 21,6b em julho. Apesar de cedo para falar, o crescimento em agosto pode ensaiar o início de uma recuperação dos volumes no 2S.
Receitas: derrapando em meio a queda de volumes
As receitas líquidas da B3 foram de R$ 2,24b b no 2T, queda de -1,9% t/t e -7,3% a/a. O desempenho fraco foi resultado dos menores volumes negociados no segmento de ações, que corresponde a 42% da receita total. O volume médio diário negociado de ações caiu -9,9% t/t e -15,4% a/a, com a receita retraindo -7% t/t e -14% a/a. No segmento de taxas de juros, câmbio e commodities a queda do número de contratos negociados foi de -8,5% t/t e -2,9% a/a, com receita flat (estável) t/t e 4% a/a das receitas.
Contrapondo as receitas e volumes fracos em ações, taxas de juros e commodities, as receitas do balcão de renda fixa cresceram 11,3% t/t e 24,7%. O resultado contribuiu para as receitas totais de balcão, que cresceram 6,1% t/t e 13,7% a/a. A receita de infraestrutura para financiamentos ficou flat t/t e caiu 5,3% a/a e a receita de tecnologia, dados e serviços também ficou estável t/t crescendo 28% a/a. A diversificação da B3 em outros segmentos além da negociação de ações vem se provando positiva para mitigar a queda das receitas ante o ambiente macro desafiador.
Despesas: sob pressão com investimentos
As despesas operacionais da B3 totalizaram R$ 843m no trimestre, queda de 1,6% t/t e 12,4% a/a. As despesas foram impactadas principalmente pelas despesas de pessoal (-1,4% t/t e +11,8% a/a) e de tecnologia e telecomunicações (+10% t/t e +41,1% a/a).
Resultado financeiro: pior t/t com menos caixa
O pré-pagamento de um CCB e intensificação do programa de recomprar da companhia reduziram a posição de caixa da B3. O caixa saiu de R$ 18,5b para R$ 15,1b. Como consequência, a B3 teve uma queda de 7,2% t/t da receita financeira, mesmo com a elevação da Selic média. O pré-pagamento do CCB também pressionaram as despesas financeiras, que cresceram 18,4% t/t e 228,2% a/a. A menor receita, somada as despesas financeiras pressionadas, gerou um resultado financeiro mais fraco de R$ -15,3m.
O resultado financeiro também foi impactado pelos efeitos da variação cambial sobre empréstimos em moeda estrangeira, que totalizou uma perda de R$ 55,1m. Este impacto é neutralizado no imposto, gerando a alíquota efetiva mais baixa que observamos no 2T. A alíquota efetiva foi de 21,1% no 2T21 (vs. 33,7% no 1T e 33,8%).
