O lucro do 3T22 da B3 de R$ 1,03b veio em linha com as nossas estimativas e 5,5% abaixo das expectativas do mercado. A receita liquida de R$ 2,26b ficou de lado em ambas comparações t/t e a/a, mesmo em um cenário de queda do volume financeiro médio diário de ações (ADTV) de -17% a/a. A queda no ADTV foi compensada pela evolução do segmento balcão (beneficiado por taxas de juros mais altas) e pelo segmento de tecnologia e dados, mostrando uma boa dinâmica de diversificação de receita.
No curto prazo, ainda temos a tese de um cenário desafiador para a B3, com juros altos e um panorama macroeconômico desafiador, que em conjunto prejudicam a migração para a renda variável. Acreditamos que o cenário político brasileiro pode também ser um risco para a tese, visto que ainda não temos definido o futuro ministro da fazenda, além de falas do futuro presidente que entonam maior irresponsabilidade fiscal, o que pode levar a uma aversão a risco com menos apetite de risco para a bolsa brasileira e mercado de capitais.
Mais a médio prazo, continuamos com nossa boa perspectiva para o crescimento da empresa, que deve manter um payout atrativo com robusta geração de caixa robusto. Desse modo, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR, com preço alvo (PA) de R$ 16,0. Negociando a 15,8x P/L 23e, a B3 continua com um bom desconto em relação à média dos múltiplos de seus pares internacionais (20,5x P/L 23e). Nova competição, eleições, mudanças regulatórias, novas tecnologias e bilionários litígios tributários e judiciais continuam a pressionar as ações a negociar com múltiplos maiores.
Do lado mais construtivo, a empresa tenta ampliar seu leque de produtos, investindo pesadamente em aquisições de tecnologia. Recentemente, a B3 divulgou duas aquisições importantes: (1) Neurotech(empresa especializada em soluções de inteligência artificial, machine learning e big data) com pagamento de R$ 619m na data de fechamento (que ainda deve ser aprovado pelos orgãos regulatórios) e R$ 523m a depender do cumprimento de metas de desempenho nos próximos quatro anos; (2) Datastock (especializada em gestão e integração de estoque de lojas de veículos) para fortalecer o negócio de veículos, com valor previsto de R$ 50m na data de fechamento (sujeito à aprovações pelos órgãos regulatórios) e até R$ 30m em metas de desempenho nos próximos cinco anos.
Do lado regulatório, a CVM definiu o tamanho mínimo dos grandes lotes, complementando a resolução 135 que passou a permitir a negociação de grandes lotes fora do ambiente de bolsa (dark pool), evitando assim interferências alheias na formação de preços dos ativos e manutenção do sigilo das partes envolvidas. Na nossa opinião, o valor mínimo estabelecido é baixo e favorece novos entrantes a concorrer com a bolsa nesse novo segmento. Além da B3, o Itaú BBA já lançou uma plataforma para a negociação de ações por seus clientes institucionais para blocos.
Receita: impactado por menos volatilidade
A receita de R$ 2,5b teve um resultado com poucas mudanças em relação ao 2T22, a nossa expectativa é de um período mais fraco, por conta do cenário global e local, que implica em menos apetite aos instrumentos de renda variável, responsável por 39,9% de toda a receita da empresa.
No segmento listado (ações e instrumentos de renda variável), a receita sofreu uma queda de 7,4% a/a, caindo para R$1,6b, por conta de uma queda de 9,2% t/t e 17% a/a no ADTV, além de uma redução de margem em 0,045 bps t/t. Além disso, no subsegmento de juros, moedas e mercadorias, a receita avançou 5,7% a/a para R$ 619m, impulsionado por um avanço no volume médio negociado (ADV) e evolução da receita média por contrato (RPC).
O segmento de balcão apresentou bons avanços, chegando em R$ 3,9b de captação bancária, evolução de 5,5% t/t e 16,6% a/a, movimento condizente com o cenário de juros mais altos, que torna a renda fixa mais atrativa. A migração para renda fixa é vista pelo avanço do número de investidores nesse ramo, de 4,7% t/t e 26,5% a/a, chegando em 2m.
O segmento de infraestrutura para financiamento (financiamento de veículos) apresentou uma queda de 10,8% a/a na receita, em função da redução no número de veículos vendidos em 6,6% a/a, além de um patamar de juros mais elevado, o que tende a desicentivar a busca por financiamento, causando um impacto negativo no Sistema Nacional de Gravames (SNG), com queda de 10,5% a/a.
No segmento de tecnologia, dados e serviços vemos um destaque positivo, com avanço na receita em 29,5% a/a, chegando a R$ 447,2m, esse movimento em virtude de um maior número de clientes, além do forte investimento realizado em expansão da área de dados. A Neoway, principal aquisição foi responsável por expansão de 64% na receita de dados e analytics, excluindo essa aquisição a linha teria se movimentado somente 9,5% a/a.
Despesas: Impactado pela aquisição da Neoway
As despesas operacionais de R$ 844m sofreram um aumento de 19,4% a/a e um aumento marginal t/t. Excluindo a aquisição da Neoway, o aumento teria sido de apenas 9,1%.
O principal destaque foi a despesa de pessoal (+0,4% t/t e 29,3% a/a), impactado pelo dissídio salarial, aquisição da Neoway e novas contratações. Excluindo a Neoway, essa linha de despesas cresceriam 13% a/a.
Resultado Financeiro: Impactado por redução de caixa
O resultado financeiro piorou, ficando em -R$ 50m, comparado a R$ -15,3m no 2T22. A queda foi consequência da redução do caixa, por conta de um pré-pagamento da debênture de 3ª emissão em R$ 3,5b, que foi parcialmente compensado pela 6 ª emissão da debênture no valor de R$ 3b.