A B3 reportou mais um trimestre com pouca evolução de lucro (de lado t/t e 8% abaixo do 4T21). Com o cenário de juros alto que desfavorece a maior parte de seus produtos, a B3 reportou um lucro contábil de R$ 1,0b no 4T22, em linha com nossas expectativas, mas 13% menor que o consenso do mercado. Esse resultado foi marcado por alguns itens que podem ser classificados como não-recorrente no montante de R$ 25m (líquido de imposto).
De certa forma, as receitas até tiveram uma boa evolução de +5,6% a/a e +2,4% t/t, impulsionadas por maiores volumes no balcão, principalmente nos produtos de renda fixa, e receita de dados e tecnologia com a incorporação da aquisição da Neoway. As despesas, no entanto, tiraram um pouco do brilho operacional do trimestre. Com crescimento de 20,5% a/a e 15,7% t/t, as despesas aumentaram acima das expectativas por conta da sazonalidade no 4T, incremento da Neoway e itens não-recorrentes de rescisão contratual, despesa de M&A entre outras.
Apesar do valuation atraente, o cenário de queda de juros mais acentuada em 2023, que poderia ajudar vários produtos da B3, fica cada vez mais distante, dado a piora das discussões político-econômicas. Além disso, a companhia continua a receber intimações relacionadas a disputas judiciais fiscais e improbidade administrativa. Por fim, em fevereiro, o fundo soberano de Abu Dhabi Mubadala Capital comprou a Americas Trading Group (ATG), um concorrente potencial da B3. Sem muitos gatilhos de curto prazo, apesar de gostarmos das iniciativas de crescimento, tecnologia e diversificação, além do valuation atraente, reconhecemos que faltam motivos para ver o papel descolar da bolsa no curto prazo (vide também B3 (B3SA3) | Perspectivas 2023 e Prévia 4T22: Faltam gatilhos).
Eventos importantes que ajudam a diversificar receitas e fortalecer áreas core como balcão e tecnologia:
- Aquisição da Neurotech. No 4T22, a B3 adquiriu a Neurotech, empresa de tecnologia especializada em soluções de inteligência artificial, machine learning e big data.
- Tesouro Renda+, Renda Fixa para Aposentadoria. Em janeiro, a B3 lançou o Tesouro Renda+, novo produto do Tesouro Direto lançado em parceira com a Secretaria do Tesouro Nacional, voltado ao investidor pessoa física. O produto é uma nova opção de investimento de aposentadoria.
- ETFs que Pagam Dividendos. B3 anunciou, também em janeiro, o início da disponibilização para listagem de ETFs locais e internacionais que distribuam proventos para os cotistas.
- Aquisição da Datastock. A B3 concluiu em fevereiro a aquisição da Datastock, empresa de tecnologia especializada em gestão de estoque de lojas de veículos. Com o valor de até R$ 80m (R$ 50m no fechamento da transação e até R$ 30m em earn-outs em 5 anos), a aquisição contribui para o fortalecer os segmentos de infraestrutura para financiamento e dados & analytics.
ADTV: Volumes devem se arrefecer com juros altos
O volume médio diário negociado de ações (ADTV) ficou em R$ 32b no 4T22, patamar razoavelmente elevado dado o nível alto de juros. Os volumes foram favorecidos pelo aumento do giro (turnover) devido principalmente ao aumento da volatilidade no período das eleições presidenciais.
Receita: Apesar do juros mais altos, uma pequena evolução
A receita líquida veio em R$ 2,57b, em linha com o que esperávamos e flat t/t, no a/a a variação foi de 5,9%. Mesmo com um cenário mais fraco para o segmento listado a receita conseguiu avançar a/a, impulsionada pelo segmento balcão (5,7% t/t e 15,8% a/a) e o de tecnologia, dados e serviços (4,7% t/t e 26% a/a).
Listado. Mesmo com um ano desafiador para o segmento, o ADTV se manteve estável no ano, mas quando somado a uma diminuição na margem de negociação/pós-negociação em 0,2 bps resultou em uma queda 0,2% a/a na receita. Além disso, outro contribuidor foi a linha de juros, moedas e mercadorias que apresentou um volume médio transacionado maior em 6,8% a/a e flat t/t.
Balcão. Em um ano com taxas de juros mais elevadas, há uma demanda maior por instrumentos de renda fixa. No 4T22, houve um forte avanço no volume de novas emissões e no estoque médio de instrumentos de captação bancária, crescendo respectivamente 16,6% e 22,7% a/a. Desse modo, a linha conseguiu uma receita melhorando 5,7% t/t e 15,8% a/a, ajudando o resultado como um todo.
Infraestrutura para financiamento. A linha não apresentou grandes mudanças na comparação t/t e a/a. Isso deve-se por conta de uma estabilidade do número de veículos vendidos e financiados.
Tecnologia, dados e serviços. A evolução da receita em 4,7% t/t e 26% a/a foi consequência do aumento da utilização pelos clientes (3,1% t/t e 12,6%), o que compensou a queda no número de clientes. Além disso, houve a consolidação das linhas de receita da Neoway, que aumentaram em 80% a receita do subsegmento de Dados e analytics. Entretanto, mesmo com a exclusão da nova subsidiária o crescimento foi de 18,5% a/a, por conta de maiores receitas em market data.
Despesas: Aumento pressionou as margens
As despesas operacionais chegaram em R$ 976m, avanço de 15,7% t/t e 20,5% a/a. No 4T22, como comentado na prévia, as despesas de pessoal e tecnologia tiveram uma evolução expressiva, consequência da sazonalidade. Entretanto, no trimestre, a companhia ainda contabilizou despesas não recorrentes, nas linhas de pessoal e serviços de terceiros, piorando o resultado. Ambas as despesas não recorrentes têm a ver com rescisões contratuais e gastos com M&A no montante bruto de R$ 37,4m, que foram realizadas com base no serviço de consultoria externa, movimento realizado para buscar ganhos de eficiência.
Resultado financeiro: Melhorou
O resultado financeiro de R$ 48,6m no 4T22 foi um dos destaques, navegando em níveis positivos (- R$ 50,1m 3T22), mas ainda com queda de 43,9% a/a. O resultado positivo foi possível por conta de receitas financeiras crescendo de maneira mais acelerada que as despesas financeiras, que caíram t/t. Além disso, a empresa teve um ganho de R$ 19,2m em uma estrutura de hedge sobre empréstimos em moeda estrangeira, melhorando em relação aos R$ -16,7m visto no 3T22.