Neste relatório, apresentamos nossas principais impressões e insights obtidos durante os encontros com investidores institucionais, o CFO André Milanez e o RI Leandro Rissato da B3, em um Non-Deal Roadshow (NDR) realizado em São Paulo.
A administração da B3 demonstrou otimismo em relação ao desempenho da empresa. No segundo trimestre de 2024, a diversificação das receitas tornou-se mais evidente, com crescimento em diversas linhas que compensaram o fraco desempenho nas receitas de renda variável. Para o segundo semestre de 2024, a expectativa é de uma dinâmica semelhante.
Apesar do cenário de juros elevados, que desafia o mercado de ações à vista (cash equities), a diversificação da B3, com um crescimento mais significativo nos segmentos de derivativos, dados e renda fixa, deve continuar impulsionando os resultados, atenuando o impacto do desempenho mais modesto da receita de ações. Com as despesas sob controle, projetamos uma dinâmica construtiva de expansão de lucro para o segundo semestre de 2024 (2S24).
Outros destaques do roadshow incluem:
- Novos Produtos: Futuro de Ethereum, Opções de Bitcoin, Futuro de Ouro, Aluguel de Ações para Estrangeiros, Early/After Hours, D+1.
- Disputa Fiscal do Ágio no CARF: Após vitória na 3ª autuação no CARF, há expectativas de que a 4ª autuação possa ser julgada ainda esse ano.
- Improbidade de R$ 43 bilhões: Possibilidade do processo ser devolvido ao TRF para reavaliação, porém sem perspectivas de quando acontecerá o julgamento no STJ. Em caso de um desfecho favorável e antecipado, seria um forte catalisador para as ações da B3, na nossa visão.
- Competição: A ATG está num estágio mais avançado no desenvolvimento de sua plataforma. De acordo com nossas conversas com o CEO da ATG, a nova plataforma deve estar operacional no final de 2025. A A5X, por outro lado, está em um patamar mais inicial. Segundo nosso levantamento, a A5X pretente lançar uma bolsa de derivativos para pessoas físicas, mas não parece querer competir com a B3 nos mesmos produtos de derivativos. Lembrando que a B3 tem a propriedade intelectual dos derivativos listados negociados em sua plataforma.
- Tecnologia e Dados: Após a reorganização, Neurotech e Neoway atingiram o breakeven. Estão se preparando para lançar novos produtos além dos dados em tempo real. A reorganização dividiu o segmento em cinco unidades: Market Data, Crédito, Vendas/Marketing, Seguros e Prevenção de Fraudes. O benefício fiscal da incorporação do ágio de R$ 800-900 milhões pode chegar a R$ 272-306 milhões.
- Preço: Ajustes de preços (para baixo) foram concluídos. A precificação deve se estabilizar, com os impactos sendo apenas do mix, com HFTs pressionando para baixo.
- Regulatório: CVM lançou no início do ano edital para tomada pública de subsídios sobre internalização de ordens. Juntamente com o edital, o regulador publicou um estudo com casos de internalização ao redor do mundo e suas implicações. Em nossa visão, o documento parece apresentar uma visão favorável para a B3.
- Diversificação: A tendência para o 2º semestre de 2024 parece ser semelhante ao 2º trimestre, com o crescimento de derivativos, renda fixa, dados e infraestrutura compensando o fraco desempenho da renda variável. Pela primeira vez, o mercado de capitais local de renda fixa superou o crédito e os bonds internacionais como a principal fonte de financiamento das empresas.
- Dividendos e Buyback: A B3 deve continuar com a política de forte payout, superior a 100% do lucro, por meio de dividendos, JCP e buybacks. Em 2024, a parcela de buybacks deve ser ligeiramente maior que a de dividendos/JCP, devido à compra de 2% do total de ações realizada no 1º semestre de 2024 por conta preço depreciado das ações durante o período.
Receitas: Diversificação de receitas ajudou a B3. Com ações mais fraca, outras receitas se tornam mais relevantes no 2T24
Fonte: B3 e Genial
Volume Diário da Bolsa x Selic: Volume da bolsa é inversamente correlacionado com os juros
Em um cenário mais positivo, esperamos que os cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos contribuam, ainda que de forma marginal, para um aumento na alocação de ativos de risco no Brasil. Por outro lado, a elevação das taxas de juros no Brasil deve impulsionar a atratividade de produtos de renda fixa, tornando o mercado de ações mais desafiador.
Apesar da gradual e promissora diversificação de receitas com alguns produtos de destaque, não identificamos uma solução única e definitiva (“bala de prata”) que possa impulsionar substancialmente as receitas da B3. Além disso, os litígios em andamento têm afastado potenciais novos acionistas de assumir posições na empresa. No entanto, uma possível resolução antecipada do processo Marka e Fontecindam, no valor de R$ 43 bilhões, juntamente com uma decisão favorável do CARF sobre a quarta tranche de R$ 5,6 bilhões, referente ao ágio da fusão entre a BM&F e a Bovespa, podem funcionar como catalisadores positivos para as ações da B3.
Revisamos nossas projeções para incorporar a melhora nas receitas, impulsionada principalmente pelas iniciativas de diversificação de negócios. Com isso, estamos ajustando nossas estimativas de lucro contábil para:
- R$ 4.825 milhões em 2024 (lucro por ação de R$ 0,88), acima do consenso de R$ 4.666 milhões.
- R$ 5.487 milhões em 2025 (lucro por ação de R$ 1,00), contra o consenso de R$ 5.180 milhões.
Nosso novo preço-alvo para o final de 2025, de R$ 15,80 (upside de 31,7%), é baseado no modelo de FCFE (Fluxo de Caixa Livre para o Acionista), assumindo um crescimento de 7,0% na perpetuidade e uma taxa de desconto de 16,6%.
As ações da B3 negociam a um múltiplo atraente de 12,8x vezes o lucro projetado para 2024 (P/L 2024) e 12,1x P/L 2025, um desconto relevante de 39,5% em relação a outras bolsas internacionais, que negociam em média a 20,0x P/L 2025.
No momento, reiteramos nossa recomendação de COMPRA, com a ressalva de que o cenário fiscal interno continua difícil, o que pode gerar consequências negativas para a inflação e as taxas de juros no Brasil, prejudicando uma melhora no mercado de renda variável, sem sinais claros de um catalisador (trigger) mais forte no curto prazo.
Financial Deepening (penetração financeira): Apesar do crescimento relevante de investidores na bolsa durante a pandemia, a penetração população em bolsa continua baixa
Fonte: B3 e Genial
Listados: Apesar do fraco resultado de renda variável, derivativos ajudou o crescimento
Com o juro em patamar alto, o segmento de equities vinha desacelerando significativamente, com volumes e turnover em queda. Por outro lado, os demais negócios dentro do segmento de Listados continuaram a apresentar crescimento, embora esse avanço não tenha sido suficiente para compensar totalmente a queda de receita em renda variável.
Ações | Volume Média Diário (R$ b) vs Margem (bps): Renda variável em queda
Fonte: B3 e Genial
Ações | Índice de ações B3: ADV (R$m) e RPC (R$): RPC (revenue per contract) melhorando desde 2022
Fonte: B3 e Genial
Ações | Capitalização bursátil média (R$ trilhões) e giro de mercado
Fonte: B3 e Genial
Os investidores estrangeiros vêm ganhando share nos últimos anos alcançando 53% de todo o volume da bolsa em 2023 e nos 1S24, em detrimento do varejo que vem perdendo representatividade. Cerca de 30%-35% do volume total vem dos HFTs (high frequency traders) que são praticamente todos estrangeiros.
Ações | Participação dos Investidores nos Volumes: Investidores estrangeiros ganharam relevância em detrimento de pessoas físicas
Fonte: B3 e Genial
No 2T24, a diversificação de receitas no segmento de Listados ficou ainda mais evidente. O turnover de renda variável registrou um crescimento marginal t/t e, mesmo com a queda nos volumes (ADTV), as receitas do segmento de Listados apresentaram melhora. Esse desempenho foi impulsionado, principalmente, pelo forte crescimento nos produtos relacionados a juros, câmbio e commodities. Ao que tudo indica, essa deverá ser a dinâmica esperada para os próximos trimestres.
Juros, Moedas e Mercadorias | Volume Médio Diário – ADV (em milhares de contratos): Forte crescimento de volume ajudou o segmento de Listados
Fonte: B3 e Genial
Juros, Moedas e Mercadorias | Participação dos Investidores: Instituições Financeiras ganham participação dos institucionais locais
Fonte: B3 e Genial
Juros, Moedas e Mercadorias | Contratos em aberto (em milhares): Crescimento desde 2022
Fonte: B3 e Genial
Tecnologia, Dados e Serviços: Foco nas novas avenidas
As duas aquisições (Neoway e Neurotech) foram realizadas em um momento de mercado em que os preços não estavam tão baixos, algo que a empresa reconhece. O foco agora é buscar novas avenidas de crescimento e aproveitar os dados produzidos pelas operações. Visando o desenvolvimento de produtos de alto valor agregado, essas aquisições são voltadas para soluções de mid-back office,
Com ambas as empresas adquiridas bem estabelecidas, a estratégia é reduzir a exposição às receitas cíclicas da B3, ampliando a participação de receitas recorrentes por meio de soluções de dados. O novo segmento busca monetizar dados coletados como parte do core business, gerando valor a partir deles. Dessa forma, temos cinco principais verticais:
- Market Data e Pricing:
- Existe espaço para avançar na oferta de produtos além de dados de mercado em tempo real.
- A experiência do usuário e as funcionalidades das plataformas são impulsionadas pela Neurotech e pela Neoway.
- Não atuam diretamente no mercado B2C, mas criaram o portal do investidor pessoa física em um modelo B2B2C.
2. Crédito:
- A Neurotech tem uma presença forte no segmento de crédito, especialmente com a oferta de serviços de credit score.
- No exterior, as exchanges conseguem precificar qualquer ativo.
3. Vendas e Marketing:
- A Neoway é mais forte nesse segmento, oferecendo soluções para funis de clientes, scores específicos para marketing, otimiza a captação de clientes e cria uma pontuação para identificar e priorizar os melhores leads.
4. Seguros:
- A Neurotech fornece soluções de dados para o mercado de seguros, com foco principal em informações sobre sinistros.
5. Prevenção de Fraudes:
- Inclui o processo de integração de novos clientes (onboarding), a identificação e verificação dos clientes (Know Your Customer), e práticas para prevenir a lavagem de dinheiro (Anti-Money Laudering).
O ano de 2023 foi dedicado à reorganização das operações internas de Neoway e Neurotech. Atualmente, cerca de 20% das receitas da empresa vêm desse segmento, sendo que 10% são oriundos de dados básicos, como conexão e dados brutos, enquanto os outros 10% estão relacionados a serviços com maior valor agregado.
O ano de 2024 tem sido marcado pela execução das estratégias definidas. Ainda existe a possibilidade dessas aquisições gerarem benefícios fiscais (tax shield) entre R$ 272-306 milhões nos próximos cinco anos advindas da incorporação de ágio de R$ 800-900 milhões, capturando sinergias adicionais.
Ambas as empresas estão próximas do ponto de equilíbrio (breakeven), porém ainda apresentam pouca evolução no lado da receita, algo que precisaremos observar com mais atenção após os recentes cortes de custos.
Evolução Neoway | Receita x Despesa x Lucro (R$ milhões): Perto do breakeven
Fonte: B3 e Genial
Evolução Neurotech | Receita x Despesa x Lucro (R$ milhões): Receitas evoluíram mais que a Neoway
Fonte: B3 e Genial
Balcão: Mercado local de renda fixa supera o crédito
Pela primeira vez, o mercado local de renda fixa superou o crédito e os bonds internacionais como a principal fonte de financiamento das empresas. Além disso, o ADTV de renda fixa no mercado secundário (debêntures, CRA e CRI) chegou a R$ 4 bilhões.
O mercado de balcão apresentou um crescimento expressivo, impulsionado pela expansão da concessão de crédito e pelo elevado patamar das taxas de juros nacionais, representando aproximadamente 15% da receita total da bolsa no 2T24. Esse cenário de juros altos, embora desafiador para o mercado de ações, favorece o crescimento dos mercados de renda fixa e derivativos no curto prazo.
No exterior, o mercado de balcão é amplamente internalizado (inter-dealer), com negociações ocorrendo diretamente entre as partes. No entanto, o management acredita que uma maior transparência e liquidez são essenciais para o desenvolvimento do mercado local. A estratégia envolve fomentar a cooperação entre dealers de diferentes bancos, visando aumentar a liquidez e melhorar a eficiência dos processos de backoffice, enquanto mantém a flexibilidade das negociações descentralizadas.
O mercado de recebíveis hoje é altamente concentrado, com liderança de CERC e Nuclea. A gestão enfatizou que está intensificando esforços para aumentar a receita nesse segmento. Além disso, a empresa reconhece que foi tardia em desenvolver soluções para o mercado de cartões de crédito, algo que não querem repetir.
Balcão | Renda Fixa – Volume (R$ trilhões)
Fonte: B3 e Genial
Balcão | Derivativos – Volume (R$ trilhões)
Fonte: B3 e Genial
Balcão | Outros – Volume (R$ trilhões)
Fonte: B3 e Genial
Balcão | Tesouro Direto
Fonte: B3 e Genial
Infraestrutura: Perdeu relevância no todo, mas continua gerando dados
Apesar da queda de relevância das receitas de Infraestrutura, os dados coletados na operação, como de veículos (dados de SNG) e imóveis, continuam sendo de grande importância para a B3. Essas informações se tornam matéria-prima para a unidade de Dados e Tecnologia, permitindo a criação e oferta de serviços de maior valor agregado e o aumento da diversificação de receitas.
Participação de Receita de Infraestrutura do Total: Apesar de perder relevância com apenas 5%, os dados de SNG (Gravames de veículos) continuam sendo importantes na geração de matéria prima para a Neoway e Neurotech
Fonte: B3 e Genial
Parte da queda das receitas dessa operação é explicada pela diminuição substancial do volume de TEDs, que eram processadas com a infraestrutura da B3, em detrimento da ascensão do PIX.
Número de TEDs processadas (milhares)
Fonte: B3 e Genial
Representatividade dos meios de pagamentos no total de transações: TED tem perdido espaço em detrimento do aumento das transações PIX
Fonte: Banco Central e Genial
Do lado mais positivo, após um período de retração devido à pandemia de COVID-19, que impactou negativamente a economia e a confiança dos consumidores, o número de automóveis financiados voltou a crescer, retornando aos níveis pré-pandemia.
Infraestrutura para Financiamento: Retomada nos volumes de financiamento de automóveis
Fonte: B3 e Genial
Tecnologia, Dados e Acesso: Número médio de clientes no mercado de Balcão (milhares)
Fonte: B3 e Genial
Novos produtos: Diversificação do portfólio
No desenvolvimento de novos produtos, o B3 afirmou que deve continuar a se movimentar em direção aos lançamentos que estão no seu roadmap, promovendo a diversificação de receitas da companhia.
- Dados Saúde. A empresa também está entrando no setor de saúde com o objetivo de evitar fraudes em reembolsos, algo que já faziam com seguros.
- Derivativos. A B3 pretende continuar expandindo sua oferta de produtos derivativos para investidores pessoa física, com o lançamento de contratos futuros de Ethereum, opções de criptoativos, futuros de ouro, entre outros.
- Cripto. Além de planejar a inclusão de derivativos de criptoativos como mencionados acima, a B3 está preparando sua depositária para aceitar ativos tokenizados.
Evolução do ADV de Futuro de Cripto (Bitcoin): Forte expansão e aderência do cliente pessoa física. Representa uma boa oportunidade de crescimento no futuro.
Fonte: B3 e Genial
- Early/After Hours. O management manifestou interesse em estender o horário de negociação da bolsa de valores para aumentar a liquidez e oferecer maior flexibilidade aos investidores. A proposta visa ampliar o volume de transações, atraindo investidores europeus com a antecipação da abertura do mercado e atendendo aos investidores individuais brasileiros com uma extensão do horário de fechamento. O foco principal é disponibilizar produtos que não impactem diretamente a formação de preços dos ativos listados, como opções de bitcoin, índices e futuros de ethereum, entre outros produtos de maior apelo para a Pessoa Física (PF). No entanto, a implementação desse projeto ainda depende da aprovação regulatória pela CVM.
- Aluguel. A B3 está buscando impulsionar o mercado de aluguel de ações no Brasil, com foco em atrair investidores estrangeiros. O objetivo é oferecer um produto similar ao disponível no mercado internacional, onde o doador mantém o colateral em sua conta, e a B3 atuaria apenas como garantidora da variação de preço do ativo. No mercado local, os investidores têm demonstrado insatisfação com o modelo atual de aluguel de ações para operações de posição vendida (short selling). Essa lacuna aumenta o risco de os investidores não conseguirem recomprar ações para encerrar suas posições vendidas. Além disso, a falta de um registro centralizado ou um livro único para o aluguel de ações compromete a transparência e dificulta a gestão dessas operações. Esses fatores incentivam investidores institucionais a realizarem essas operações em mercados internacionais, onde encontram estruturas mais eficientes. Como solução para esse problema, alguns investidores sugerem a implementação de um sistema de prime broker no Brasil. Esse sistema atuaria como um garantidor e facilitador das operações de aluguel, ajudando a suavizar as transações e a evitar a ocorrência de short squeezes — quando a escassez de ações para alugar resulta em aumentos drásticos nos preços dos ativos e do custo do aluguel.
- D+1: A B3 considera reduzir o prazo de liquidação das operações para D+1. No entanto, um dos principais desafios é adaptar os sistemas para o novo prazo.
Pricing: Ajustes feitos, mas o mix pode influenciar
Em relação à política de preços e tarifas, a administração da B3 acredita que o cenário para os próximos anos será mais estável em comparação ao passado. Entre 2019 e 2020, os preços estavam em níveis mais elevados. No entanto, a companhia adotou medidas significativas para corrigir os principais gargalos estruturais na tarifação para aumentar os volumes, ouvindo diretamente os HFTs (high frequency trading) e outros clientes. Como resultado, o número de CPF’s individuais ativos na bolsa voltou a crescer, assim como o volume de negociação.
Atualmente, a visão da administração é de que a tarifação não deve ser um obstáculo para o crescimento do volume de negociações. A gestão acredita que a maior parte dos gargalos já foi resolvida e que as futuras mudanças nos preços devem ocorrer principalmente em função de alterações no mix, consolidando uma perspectiva mais estável para os preços nos próximos anos.
Litígios: Apesar dos montantes bilionários, continuam confiantes
Disputa Fiscal do Ágio no CARF
Durante as conversas, a companhia também trouxe mais informações sobre o andamento dos litígios no CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) sobre a amortização do ágio referente a fusão da BM&FBovespa e Cetip. Após a combinação das empresas, a Receita Federal contestou 5 vezes no intervalo de 11 anos se a amortização do goodwill, que gera benefício fiscal para B3, estaria de acordo com as normas tributárias nacionais. As autuações juntas somam aproximadamente R$ 15 bilhões.
Os 5 atos de infrações foram:
- Autuação 1: Montante de R$ 1,6 bilhões (R$ 0,9 bilhões em multa);
- Autuação 2: Montante de R$ 3,3 bilhões (R$ 1,3 bilhões em multa);
- Autuação 3: Montante de R$ 4,2 bilhões (R$ 2,1 bilhões em multa);
- Autuação 4: Montante de R$ 5,6 bilhões (R$ 2,7 bilhões em multa);
- Autuação 5: Montante de R$ 0,27 bilhão.
Em fevereiro de 2024, a B3 anunciou que a câmara superior do CARF decidiu favoravelmente à empresa, cancelando definitivamente o terceiro auto de infração da Receita Federal, no valor de R$ 4,2 bilhões, em uma votação de 7 a 1. Aos investidores, a B3 expressou seu desejo de que o quarto auto de infração, que representa o maior montante (R$ 5,6 bilhões), seja julgado brevemente pela câmara superior do CARF.
No que diz respeito ao lado fiscal do governo, qualquer derrota em disputas no âmbito administrativo do CARF (câmera superior) criaria um alívio potencial no orçamento, ao prever a arrecadação de valores substanciais. No entanto, mesmo que a B3 ou outra empresa perca no CARF, isso não significa necessariamente que o pagamento de caixa seria imediato. As empresas ainda podem recorrer ao sistema judiciário, o que pode prolongar a resolução final por anos. Portanto, apesar de uma possível decisão desfavorável no CARF gerar expectativas de aumento de receitas para o governo, esses valores podem não se concretizar de forma rápida, visto que o processo judicial pode se arrastar por um longo período.
B3 – Ágio de combinação de negócios entre BM&FBovespa (status das discussões atuais)
Caso Marka e Fontecindam de R$ 43 bilhões
No caso Marka e FonteCindam, em que o Banco Central é acusado de interferir no mercado (desvalorização do real por meio de derivativos com o uso da estrutura da B3) não houve novos desdobramentos recentes. A B3 foi autuada no processo por ter sido o meio utilizado pelo Banco Central para executar as operações em questão, sem que a própria bolsa tivesse participação ativa ou responsabilidade direta na manipulação.
O último avanço significativo no processo foi o julgamento no Tribunal Regional Federal (TRF), que decidiu favoravelmente à B3, com um placar de 4 votos a 1. No entanto, ainda existe a possibilidade de o caso ser devolvido ao TRF. Acreditamos que um desfecho potencialmente favorável e antecipado poderia destravar um valor significativo para as ações da companhia, dada a magnitude do montante em questão. O valor sendo julgado, de R$ 43,3 bilhões, representa cerca de 50% do valor de mercado da B3. Esse risco jurídico é um fator que afasta muitos investidores, preocupados com a possibilidade de a empresa ser obrigada a arcar com o montante total do processo.
Processo Marka e FonteCindam: R$ 43 bilhões a serem julgados.
Regulação: Internalização fica um pouco mais distante em audiência publica
Os investidores também demonstraram preocupação em relação ao ambiente regulatório que envolve a B3, especialmente no que diz respeito à possível permissão da internalização no Brasil. A internalização é o processo pelo qual uma instituição financeira executa ordens de compra ou venda de ativos dentro de sua própria estrutura, sem encaminhá-las para uma bolsa de valores pública ou outro sistema de negociação externo. Esse modelo poderia reduzir os volumes negociados na bolsa e, consequentemente, ter um impacto negativo nas receitas geradas pelas atividades de trading e pós-trading.
Nos EUA, por exemplo, a maior parte das transações de varejo é internalizado pelos Prime Brokers. Para colocar em perspectiva, o varejo representa 13% de todo o volume da bolsa brasileira.
Atualmente, embora a internalização seja proibida no Brasil, é permitida em operações de RLP (Retail Liquidity Provider), que não deixa de ser uma internalização de ordens de forma controlada com limites de bid e ask de preço. Nesse mecanismo, uma instituição financeira — como uma corretora ou um banco — atua como provedor de liquidez para ordens de clientes de varejo, comprometendo-se a comprar ou vender ações a preços competitivos dentro do spread de mercado (a diferença entre os preços de compra e venda). Esse processo ocorre em um ambiente controlado e regulamentado pela bolsa de valores.
- Em maio de 2024, a CVM divulgou um estudo que reuniu dados sobre as vantagens e desvantagens da implementação da internalização no Brasil, além de compará-la com benchmarks de bolsas internacionais (link para leitura do relatório). O relatório da CVM destacou que, na maioria dos casos analisados, a introdução de negociações internalizadas resultou em alguma deterioração de métricas de liquidez. Adicionalmente, o estudo apontou que existem especificidades técnicas na legislação brasileira, especialmente no que se refere à custódia de ativos, que tornam a implementação dessa prática no país mais complexa. Esses fatores sugerem que a CVM entende que o tema de internalização deve ser estudado. A audiência pública deve durar até novembro.
Em relação a reforma tributária, a gestão entende que a B3 não deve ter efeitos significativos nos resultados da companhia, já que a B3 está dentro da classificação “Instituições Financeiras”, categoria que não deve ter grandes alterações na tributação.
Competição: Primeiros contatos iniciados
A maior parte dos investidores perguntou ou esboçou preocupações com a possível entrada de novos players no mercado de bolsa, citando a ATG (Americas Trading Group), que tem financiado o desenvolvimento do seu projeto com o aporte do Mubadala (fundo soberano de Abu Dhabi), e A5X, empresa fundada por ex-sócios da XP que levantou R$ 200 milhões em uma series A em jun/24.
Conforme nossas conversas com a ATG, já ocorreram diálogos com a B3. A ATG deve competir com a B3 inicialmente nas operações de trading (compra e venda de ativos financeiros, como ações, derivativos e títulos) e post trading (operações realizadas após a negociação, como a liquidação, compensação e custódia de ativos), com a utilização de uma clearing própria. Mesmo que possa realizar a compensação e liquidação dos ativos, a bolsa da ATG deverá estar conectada com a depositária da B3, instituição que mantém a custódia dos ativos negociados (guarda e registra as posições de títulos e valores mobiliários em nome dos investidores). Essa fragmentação do post trading aumentará a complexidade e os riscos das operações, como o risco de contraparte, que deve ser mitigado com a criação de fundos mutualizados. O management da B3 não demonstrou grande preocupação com o cenário competitivo futuro envolvendo a ATG, especialmente porque, até o momento, não há sinais de inovações significativas em termos de produtos, como tecnologia avançada ou maior velocidade nas operações, no projeto da ATG, mas sim uma proposta focada em preços mais baixos e incentivos para atrair maior volume e liquidez.
De acordo com nossas conversas com a ATG, a fase de desenvolvimento da tecnologia e infraestrutura está prevista para ser concluída até o final de 2024, com o período de testes ocorrendo ao longo de 2025 e o lançamento para clientes no final de 2025.
Já a A5X, conforme relatado pela imprensa, está seguindo uma abordagem diferente, com planos de lançar uma bolsa de derivativos voltada para o público de varejo, visando atender à crescente demanda do investidor pessoa física (PF).
Nesse contexto, a B3 já está se movimentando para lidar com novas tendência, como o recente lançamento de futuros de Bitcoin, por exemplo, que tem crescido rapidamente em volumetria.
Capital: Buyback maior que os dividendos em 2024
Até o primeiro trimestre de 2024, a B3 vinha reconhecendo despesas não-caixa de impairment em seu demonstrativo de resultado, relacionadas à fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip. A combinação dessas empresas resultou na incorporação de um amplo portfólio de ativos intangíveis, incluindo tecnologias de software, marcas e relações com clientes. Após a avaliação desses ativos no contexto pós-fusão, foram feitos ajustes necessários para alinhar as expectativas de geração de benefícios econômicos futuros desses ativos, o que levou ao reconhecimento de impairment, à medida que as estimativas de recuperação desses valores foram revisadas para baixo.
Com o término do reconhecimento dessas despesas na DRE, o lucro e a geração de caixa da B3 devem se tornar mais alinhados. Em consequência, a gestão acredita que o payout da companhia deve se aproximar de 100% nos próximos anos, um nível inferior à média de 130,8% (2019 – 2023). No entanto, o payout (buyback, JCP e dividendos) em R$ nominais deve continuar crescendo.
A administração também afirmou que a remuneração aos acionistas, em anos normalizados, deve ficar em torno de 50% para recompra de ações (buyback) e 50% para a distribuição de JCP (maximização) e dividendos. No entanto, devido ao atual desconto significativo no preço das ações na comparação com os múltiplos históricos, a companhia tem aumentado a proporção destinada à recompra de ações. À medida que os preços das ações voltem a se valorizar, a expectativa é que a recompra se reaproxime com 50% do total da remuneração aos acionistas. Essa distribuição entre recompra e proventos serve para atender a base de acionistas estrangeiros, que preferem a recompra, e nacionais, que preferem dividendos (isentos de imposto).
Recompra + Dividendos: Recompra deve ser maior que dividendos em 2024. Payout deve cair por conta do aumento do lucro contábil com o fim a amortização do Impairment
Fonte: B3 e Genial Analisa
Despesas: Deve ficar na faixa baixa do guidance
Devido aos recentes crescimentos de receita baixos nos últimos trimestres, a gestão enfatizou a importância crucial de manter as despesas sob controle, alinhadas à inflação. Nos últimos anos, a B3 introduziu a redução de camadas de gestão e pessoal, tornando a empresa mais ágil, além da redução do headcount, o que contribuiu para a melhora de eficiência.
Alavancagem Operacional. Em relação a capacidade operacional, a empresa mantém uma margem de capacidade significativa, operando atualmente com um buffer de 2x o último pico, o que sugere que tem espaço para crescer sem a necessidade imediata de expandir significativamente suas operações físicas ou infraestrutura. Portanto, o capex para os próximos anos deve ficar na faixa atual de R$ 200m-280m.
Ao final de 2023, a empresa contava com 2.757 colaboradores, sem considerar os funcionários da Neoway e Neurotech.
Estrutura acionária: Os estrangeiros gostam
Atualmente, a empresa tem sua base acionaria composta majoritariamente composta por estrangeiros com 85% de participação (15% nacional), com a Capital Research sendo a maior com 11%.
Fonte: B3 e Genial Analisa