Participamos do B3 Day, um evento destinado aos investidores e analistas do mercado. Apesar do cenário macroeconômico desafiador em 2023 e juros altos desincentivando o fluxo para a maioria dos produtos que a B3 disponibiliza, a empresa vem trabalhando em algumas iniciativas que podem ajudar a volumetria, diversificação e consequentemente melhorar o crescimento das receitas. As questões em torno da B3 sempre foram quase sempre relacionadas a volume, preço, competição, custo, regulação, litígio e tecnologia. Na reunião, foram discutidos quase todos os tópicos com exceção dos litígios bilionários que a companhia enfrenta e de certa forma discussões sobre regulação.
Para endereçar a estratégia de crescimento e diversificação, a empresa quebra seus negócios hoje em 4 grandes blocos:
- Core Business
- Core Listados
- Core Balcão
- Nova Iniciativas
- Dados
- Serviços de Tecnologia e Plataformas (Digital Assets e Plataforma de TI)
Em relação a custos, sem muitas novidades, já que a empresa havia reportado seu guidance de Opex e Capex semana passada. O foco dos executivos na contenção de despesas do core business é positivo já que auxiliará na otimização de geração de lucro no curto prazo enquanto o ADTV permanecer reduzido devido à falta de atratividade em aplicar em ativos de renda variável
Volumes: Mais estrutural
A B3 acredita que grande parte do aumento de volume de negociação (average daily trading volume, ADTV) é mais estrutural e que o aumento de turnover veio e deve ficar mais alto.
Iniciativas x competição: O mais legal
As novas iniciativas da companhia visam atrair novos investidores e consequentemente desenvolver ainda mais o mercado de capitais brasileiro, como, por exemplo:
- ETFs com dividendos: auxilia a construção de portfólios com foco em renda
- Fractional Shares: possibilita a fração de ações auxiliando ainda mais o pequeno investidor
- Extensão do horário de negociação: permite que os investidores façam aplicações fora do horário comercial
- Redução de latência: auxilia as estratégias dos investidores HFTs (High Frequency Tradings)
- Marcação a mercado de títulos privados: gera maior transparência para o investidor e ADTV no mercado secundário
Visando as oportunidades do mercado no longo prazo, há muitas novas frentes para a B3 se desenvolver. O management acredita que os novos entrantes não são grandes ameaças no momento, já que não conseguem entregar melhores produtos e serviços e não possuem nenhuma tecnologia disruptiva que a empresa já não esteja desenvolvendo, “brigando” apenas no quesito preço. Além disso, o número de investidores ainda é muito pequeno no país, com apenas 4,6 milhões de CPFs cadastrados na bolsa de valores (2% da população), mostrando o alto potencial de expansão deste mercado.
Ainda, a companhia está focando na geração de resultados de suas adquiridas como a Neoway que apresenta prejuízo. O objetivo é colocar a Neoway em breakveven no curto prazo e elevar sua margem EBITDA para 30-40% no longo prazo.
Core Listado: Foco no cliente
O perfil de cliente da exchange mudou bastante ao longo desses últimos anos. Após décadas sem muito movimento, a companhia teve forte entrada de investidores pessoas físicas a partir de 2019 com ajuda da redução da Selic e plataformas de investimentos. Com isso, o saldo mediano por investidor passou de R$ 20 mil para R$ 2 mil e, portanto, surgiu a necessidade de produtos mais acessíveis.
A B3 também tentou acompanhar a evolução das necessidades desse novo público, com lançamento de novos produtos, incentivos para corretoras a monetizar o pequeno investidor como mini-contratos e RLP, menor tarifação com o fim da taxa de manutenção e implementação da tarifa progressiva de custódia com isenção para investidores com até R$ 20 mil na depositária. Os BDRs (ações estrangeiras negociadas no país) deixaram de ser exclusivos para investidores qualificados (acima de R$ 1 milhão) e começaram a ser disponibilizados para o público geral. A B3 fomentou diversos ETFs (fundos de investimentos listados) para otimizar a diversificação do portfólio do pequeno investidor. Ainda, desenvolveram programas de maior transparência com a introdução da plataforma “B3 Investidor” e uma central de atendimento, além de hubs de educação.
High Frequency Traders. A companhia também tem focado em atrair investidores HFTs (negociadores de alta frequência) já que são formadores de mercado e com isso auxiliam na redução de spread no book de compra e venda fazendo com que os ativos tenham maior ADTV (volume médio de negociação) e preço justo para ambas as pontas presentes no livro de oferta.
Assessores de Investimentos
A B3 acredita que os agentes autônomos de investimentos (AAI) possuem um papel fundamental para auxiliar no crescimento do mercado brasileiro. Atualmente há apenas 4,6 milhões de CPFs cadastrados na bolsa brasileira, o que representa aproximadamente 2% da população, enquanto em países desenvolvidos e com grande presença de conselheiros financeiros atingem patamares acima de 30% como no caso dos EUA.
Alguns dados interessantes mostram que os assessores de investimentos ajudaram a diversificação do portfólio dos investidores. A quantidade de pessoas com 5 ou mais tickers dentro da carteira de investimentos passou de 30% em 2017 para 42% em 2022. Ainda, o investimento somente em ações saiu de 73% em 2017 para 33% em 2022.
Os AAIs também fomentaram o crescimento do ADTV no mercado, já que sugerem diversas oportunidades para os clientes e os ajudam no processo de troca de ativos. Dessa forma, em setembro de 2022 a B3 registrou a marca de que 1,5 milhão de investidores fizeram ao menos um negócio no mês enquanto em 2017 havia apenas 186 mil.
Potencial de produtos listados
No Brasil, apesar de aproximadamente 80% da população é bancarizada, muitos ainda não possuem contatos com especialistas de investimentos e educação financeira, fazendo com que as aplicações financeiras estejam em outros produtos financeiros fora do escopo da B3, com destaque para a poupança que conta com aproximadamente R$ 1tri. Também, o Brasil conta com 12,7 milhões de investidores somente em renda fixa e apenas 4,6 milhões de investidores em ações (equities). Logo, apesar do cenário econômico desfavorável, há um trabalho a ser feito para conquistar o público para o segmento de renda variável.
A B3 adotou novas iniciativas visando desenvolver o mercado e atrair novos investidores para ativos listados com algumas já acontecendo em 2023.
Core Balcão: Mercado de balcão e renda fixa
Ao contrário da maior parte dos produtos da B3, o mercado de renda fixa ganhou volumetria com o ciclo de alta da Selic. O mercado de renda fixa também foi estimulado pelos assessores de investimentos que auxiliam na diversificação dos produtos e no ADTV do mercado secundário dos títulos. O estoque de debêntures atingiu em set/22 o valor de R$ 977b vs R$ 706b em jan/17. Ainda, emissões de CDB, RCB e LF somam o montante de R$ 8,3 tri no ano vs R$ 3,2 tri em 2017.
Visando otimizar o mercado e gerar melhor experiência para o usuário, a B3 quer:
- Desenvolver o sistema de marcação a mercado de títulos privados, o que dará maior transparência para o investidor e poderá otimizar o ADTV no mercado secundário.
- Desenvolver uma plataforma para tokenização dos ativos, permitindo o fracionamento destes e consequentemente democratizando o acesso aos investimentos.
- Outras frentes incluem produtos para recebíveis de cartão estão em andamento.
A B3 manteve seu market share acima de 97% no segmento mesmo com às ameaças competitivas que surgiram com o crescimento da indústria de distribuição. Esse resultado é apoiado as iniciativas da empresa como a otimização na tarifação e desenvolvimento de produtos e serviços, além da melhora no relacionamento com clientes aprimorando o atendimento destes.
Novas Iniciativas: Dados, Plataformas e Serviços de Tecnologia
A B3 tem focado na captação de dados para entender cada vez mais o perfil dos investidores e assim conseguir desenvolver melhores produtos e serviços para otimizar a experiência do usuário e aprimorar o mercado de investimentos no Brasil.
O forte processamento de dados auxilia na geração dos relatórios de Market Data que dão maior transparência e previsibilidade para os investidores tanto do segmento de listados quanto de balcão. Ainda, os dados contribuem para diversas frentes como risco & compliance, gerenciamento de crédito, vendas & marketing e até prevenção a fraude, além de desenvolvimento de produtos go-to-market.
De acordo com a B3 os dados também auxiliam na área de sales, já que conseguem muitas vezes realizar o up-sell de seus produtos e serviços, o que atualmente gera mais valor do que novas vendas.
A empresa reforçou que a receita de serviços e produtos de dados deve ser cada vez mais representativa no top line da companhia e as empresas adquiridas como Neoway e Neurotech (ainda depende da aprovação de órgãos reguladores) devem acelerar esse processo.
Digital Assets
O desenvolvimento de ativos digitais será divido em duas frentes, sendo (I) Cripto as a Service e (II) Infraestrutura institucional para ativos digitais.
Cripto as a Service:Pretende se tornar um hub de criptoativos, desenvolvendo soluções whitelabel, roteamento de ordens a centros de liquidez, parceria com custodiante qualificado e facilitação da liquidação e câmbio.
Infraestrutura institucional: Busca desenvolver um marketplace de tokens, realizando a criação do produto até a custódia. Por meio deste sistema pretende desenvolver a negociação 24/7, custódia, liquidação de ativos, tokenização de títulos e valores mobiliários e gestão de posições e risco.
Concorrentes
A B3 se mostrou pouco preocupada com novos entrantes no mercado, já que os novos players estão apenas buscando diferenciação por meio de preço e não por conta de serviços e produtos melhores, além de tecnologia mais avançada e fora do radar da companhia. Assim, a empresa consegue ainda ter uma vantagem competitiva muito forte, principalmente com um núcleo interno focado no desenvolvimento de novas tecnologias que otimizam a entrega de produtos e serviços para os clientes. Ainda, a B3 destacou que precisam ter muito cuidado na tarifação, já que não podem ser um empecilho no desenvolvimento do mercado.
Para os produtos listados, os maiores competidores ainda continuam sendo as bolsas americanas. Apesar da B3 ter avançado e incentivado várias mudanças regulatórias para atrair esse público de empresas que continuam preferindo o mercado norte americano para listagem.
2023 Guidance
O guidance disponibilizado ainda não contempla as informações da Neurotech já que ainda depende da aprovação de órgãos reguladores para a incorporação da companhia pela B3.
Em relação ao fluxo de investidores, a B3 não tem um cenário claro para 2023 devido a questões político econômicas nesse período de transição do novo governo eleito, mas disseram que os investidores estrangeiros estão com apetite de Brasil devido à falta de alternativas para o mercado latino-americano e as possíveis recessões nos países desenvolvidos. Mas devido as incertezas políticas, pode ser que investidores tenham postergado parte de seu otimismo no país. Por enquanto, os executivos reiteraram o compromisso em controlar as despesas de core business que deve seguir a inflação e que maiores informações devem ser divulgadas no 1T23.