O Banco do Brasil segue surpreendendo, entregando um lucro recorrente de R$ 8,36b no 3T22, 8,9% acima de nossas expectativas e 16,5% acima do mercado. O ROE do 3T22 saltou para 20,6%, um aumento de 0,9 pp t/t e 8,0 pp a/a, bem acima de Santander e Bradesco nesse trimestre. Estamos otimistas com o operacional do banco caso consiga dar continuidade a estratégia corrente. No entanto, com o novo mandato presidencial começando, podemos ver mudanças no alto escalão do banco. Se não fosse esse risco político (explicada com mais detalhes em nossa prévia), certamente o gap de valuation iria fechar rapidamente estimulados pelos bons resultados. De qualquer forma, acreditamos que o mercado irá reagir positivamente ao 3T22, principalmente após os resultados fracos de Bradesco e Santander com ROEs de 13,5% e 15,2% no 3T22, respectivamente.
O resultado do Banco do Brasil (BB) foi puxado pelo: (i) bom crescimento da margem financeira de juros; (ii) melhora do desempenho das receitas de serviços; e (iii) controle de despesas em linha com a inflação.
Barganha: Preço/Lucro de 3x com dividend yield de 13%
Negociando a uma pechincha de 3,1x P/L 23e e 0,64x P/VP 22e, os múltiplos do BB são muito atraentes. Além disso, estimamos um generoso dividend yield de 13% em 2023 a esses níveis de preço. Por fim, o banco conta com um índice de Basiléia de 16,72%, bem superior a seus pares privados. Desse modo, reiteramos nossa recomendação de COMPRAR. No entanto, alertamos que o papel deve reagir com volatilidade, dependendo de quem for comandar o banco.
Guidance: revisado para melhor, mais uma vez
O guidance para 2022 foi todo melhorado, seguindo o forte desempenho do banco. O principal destaque da revisão foi mais uma vez o aumento no lucro para 2022, com a faixa saindo de R$ 27b a R$30b para R$ 30,5b a R$ 32,5, implicando em uma alta de 45% a/a a 55% a/a. Nós já projetávamos um lucro de R$ 30,3b para 2022 e acreditamos que o mercado deva elevar suas projeções de lucro para o banco. Outros melhoramentos no guidance incluem: crescimento da carteira, crescimento da margem financeira de juros, variação da receita de serviços.
Carteira: Agro é o destaque do trimestre
A carteira segue com seu forte crescimento, atingindo R$ 969b, evolução de 5,4% t/t e 19% a/a. O bom desempenho se dá em todas as linhas do negócio, com crédito agrícola (+26,7% a/a), empresas (+20,2% a/a) e pessoa física (+10,9% a/a). O resultado do crédito agrícola é consequência do avanço do Plano Safra 22/23, o qual o banco estima direcionar R$ 200b por meio desse programa, valor superior aos R$ 135b na safra anterior.
Margem Financeira (NII): Crescimento de despesas não ofuscou a margem
A margem financeira apresentou forte crescimento, em R$ 19,5b no 3T22, um avanço de 14,7% t/t e 25% a/a. O spread (NIM) avançou 0,4 pp t/t e 0.5 pp a/a para 4,2%. O bom desempenho é resultado: reprecificação de carteira; crescimento do portfólio de crédito e outros ativos rentáveis; do mix da carteira; e, do bom resultado de tesouraria, que foi impactado por um melhor resultado da carteira de renda fixa.
No lado negativo, observamos um crescimento nas despesas de captação (+21,2% t/t e +165% a/a), também afetadas por uma Selic média maior, além de um trimestre com mais dias úteis, o que acaba por impactar no funding. Entretanto, esse avanço nas despesas não foi capaz de ofuscar o resultado de margem, que ainda segue bem positivo.
Provisão e inadimplência: Qualidade acima da média do mercado
Apesar de não ter ofuscado o resultado, o banco sofreu com um robusto avanço de provisões para crédito duvidoso que alcançaram R$ 4,5b, aumento de 54% t/t e 15% a/a. O aumento de provisões está em linha com o guidance e com a piora do ciclo do crédito dada a situação macroeconômica mais delicada. A carteira de empréstimos mais conservadora do banco com um mix maior em credito consignado e rural ajuda a mitigar surpresas na qualidade da careteira.
A inadimplência (>90 dias) segue em patamares controlados, estando ainda em posição confortável e abaixo do mercado. Mas em uma comparação trimestral, a inadimplência do banco aumentou mais que a média do sistema financeiro (+0,34 pp vs. +0,1 pp, respectivamente).
Do lado um pouco mais negativo, o banco segue consumindo cobertura rapidamente, convergindo para a média do mercado em 210%. Esse movimento é resultado pelo consumo de um colchão maior provisionado no período da pandemia e que agora está voltando para a normalização. O índice de cobertura do BB caiu para 235%, -36 pp t/t e -88 pp a/a.
Serviços: Seguros é o destaque positivo
A receita de serviços atingiu o patamar de R$ 8,5b, com um avanço de 8,6% t/t. O destaque no trimestre foi para o desempenho seguros, previdência e captalização (+20,6% t/t e 20,3% a/a) e consórcio (+50,6% t/t e 9,9% a/a).
Despesas administrativas: Ganhando eficiência
O avanço nas despesas administrativas de 3,7% t/t e 9,9% a/a, foi influenciada principalmente pelo avanço das despesas de pessoal em 2,2% t/t e 15% a/a, consequência do reajuste salarial de 8% no acordo coletivo com o sindicato bancário. Com as receitas crescendo mais rápido que as despesas, o índice de eficiência melhorou 1,6 pp t/t, caindo para 31,6%.
Capital: Veremos um payout maior no futuro?
O índice de capital principal do banco continua saudável, com leve redução de 0,72 pp t/t, consequência de um forte avanço da carteira, que não foi acompanhado na mesma velocidade pelo crescimento do patrimônio de referência. Acreditamos que o banco tenha espaço para aumentar o payout acima dos usuais 40% do lucro, devido aos bons resultados (rentabilidade com crescimento) e índice de capital saudável.