Estávamos esperando um trimestre mais fraco para a BRF, em linha com as expectativas do mercado, e, de fato o resultado veio fraco. Enquanto a receita veio em linha com nossas expectativas e com as expectativas de mercado, a margem EBITDA veio abaixo do esperado e a companhia apresentou grande prejuízo neste exercício.
Custos ainda bastante elevados (com grãos em altos patamares), uma baixa capacidade de repasse de preços no mercado interno, quedas nos preços médio de venda do frango nos mercados internacionais, e ainda, o impacto referente ao Acordo de Leniência firmado entre BRF e a CGU e a AGU, prejudicaram os resultados da companhia. Continuamos conservadores com as ações da empresa, e seguimos com nosso preço-alvo de R$ 9,00 e recomendação de MANTER.
Análise dos resultados
Como mencionamos anteriormente, este foi um trimestre fraco para BRF, e a companhia fechou o ano com resultados ruins em termos de margens. Sendo beneficiada por maiores volumes tanto no mercado interno quanto nos mercados internacionais, a companhia reportou uma receita líquida de R$ 14,8b, um crescimento de 7,6% a/a com um avanço de 5,1% t/t.
Entretanto, foi reportado um EBITDA de R$ 1b, queda de 41,4% a/a e 30,6% menor que a nossa projeção (tendo sido impactado por custos ainda muito altos), uma margem EBITDA que apresentou um declínio de 5,8 p.p. a/a, e 2,7 p.p. abaixo de nossas expectativas, e, por fim, um prejuízo de R$ 956m.
Desta forma, a BRF fechou o ano entregando uma receita líquida de R$ 53,8b, um avanço de 11,3% em relação a 2021, um EBITDA de R$ 3,9b, recuo de 29,9% a/a, uma margem EBITDA com declínio de 4,3 p.p., atingindo 7,2%, e um prejuízo de R$ 3,1b, revertendo um lucro de R$ 517m reportado em 2021.
Nota-se ainda que a empresa encerrou o ano como um dívida líquida de R$ 14,6b, redução de 15,8% a/a, apresentando uma alavancagem de 3,75x Dívida Líquida/EBITDA, equivalente a um crescimento de 20,2% a/a, patamar que consideramos pouco saudável e enxergamos como um grande sinal de alerta para a companhia.
A BRF indicou que colocará em prática um plano de desinvestimento a fim de reduzir a alta alavancagem da companhia. Este plano de desinvestimento deverá incluir a venda de ativos referentes ao segmento de pet food (Mogiana e Hercosul), assim como demais ativos considerados non core. O foco da companhia, atualmente, passará a ser seus core segments (frango, suínos e processados).
Espera-se que este plano contribua para o levantamento de aproximadamente R$ 4b ao caixa da empresa. Vale notar que, embora necessários, estes desinvestimentos tem, como contrapartida, a inviabilização do que poderiam ser interessantes avenidas de crescimento para a companhia no futuro.
Brasil
No segmento Brasil, vimos resultados razoáveis e melhores que do segmento internacional, com uma receita de R$ 7,8b, equivalente a um crescimento de 7,7% a/a e um avanço de 13,9% t/t. Vale observar que este segmentou representou, neste trimestre, 53,1% da receita consolidada da companhia. Nota-se ainda que este segmento foi responsável por um EBITDA de R$ 685m, recuo de 20,8% a/a e avanço de 49,6% t/t.
Observa-se que, mesmo que haja um melhora sequencial (t/t) da Margem EBITDA, a qual chegou a 8,8% no 4T22, trata-se de uma redução de 3,2 p.p. na comparação a/a, o que demonstra que a companhia segue sofrendo para manter boas margens, dado altos custos e uma dificuldade de se repassar preços no mercado interno.
Internacional
Já no segmento Internacional, vimos resultados mais fracos, em especial em termos de margens. Observamos um avanço de receita de 7,3% a/a e um recuo de 4,6% t/t, totalizando R$ 6,2b, e um EBITDA de R$ 208m, equivalente a um forte declínio de 68,4% a/a e uma retração de 73,9% t/t. A margem EBITDA reportada para o segmento foi de 3,3%, equivalente a uma intensa queda de 8,0 p.p. a/a e uma retração de 8,9 p.p. t/t.
O subsegmento Ásia teve um desempenho fraco, com ligeiro aumento de receita de 0,7% a/a e retração de 13,5% t/t, atingindo R$ 1,5b, resultado justificados por uma queda no preço de exportação em dólares da carne de frango para a região. Já em relação ao EBITDA, o subsegmento apresento uma retração de 15,7% a/a e de 67,3% t/t. Desta forma, apresentou uma margem EBITDA de 4,7%, equivalente a uma queda de 0,9 p.p. a/a e uma retração de 7,8 p.p..
Quanto ao subsegmento Halal DDP, o desempenho foi razoável em termos de receita, com crescimento de 13,6% a/a e de 3,7% t/t, atingindo R$ 2,7b, mas bastante fraco em termos de margem, reportando um EBITDA de R$ 124m, equivalente a um recuo de 58,9% a/a e de 61,4% t/t, e uma margem EBITDA de 4,5%, representando um forte declínio de 7,9 p.p. a/a e de 7,6 p.p. t/t. A compressão de margem observada pode ser justificada, em parte, pelo impacto do cenário hiperinflacionário presente na Turquia, o qual impacta a velocidade com que a companhia consegue repassar o aumento de custo ao preço.
Por fim, o segmento de Exportações Diretas (Direct Exports), também teve um trimestre de desempenho razoável em termos de receita, porém ruim em termos de margem, entregando R$ 2b de receita (4,2% a/a e -7,7% t/t), R$ 15m de EBITDA (-45,3% a/a e -52,2% t/t), e uma margem EBITDA de apenas 0,7%, equivalente a um forte declínio de 13,6 p.p. a/a e retração de 11,5 p.p..
Vale observar que o segmento Internacional compôs 42,5% da receita consolidada da companhia, sendo que os subsegmentos Ásia, Halal DDP e Direct Exports, compuseram 10,2%, 18,4% e 13,6% da receita consolidada, respectivamente.
Olhando adiante
Com a alta dos grãos, que não deve ceder no curto prazo, acreditamos que os custos da BRF devem seguir elevados e, assim, as margens da companhia devem seguir pressionadas. Além disso, não enxergamos melhorias relevantes de consumo no Brasil no curto prazo, e ressaltamos, no mercado doméstico, a forte concorrência da Seara, da JBS.
Destacamos o fato de, recentemente, terem sido confirmados casos de gripe aviária no Uruguai e na Argentina. Se forem confirmados mais casos em países vizinhos, porém nenhum caso no Brasil, enxergamos um potencial upside adicional a ser capturado pela BRF.
No segmento Internacional, não vemos bons movimentos para o frango, ou seja, no curto prazo, esperamos novas quedas no preço médio de venda do frango nos mercados internacionais em que a companhia atua, o que deve prejudicar o resultado no próximo trimestre.
De modo geral, esperamos que os próximos trimestres sigam ainda fracos, porém, devemos ver alguma melhora, dado um esperado arrefecimento gradual da pressão nos custos, no segundo semestre deste ano.
Além disso, o alto patamar de alavancagem da companhia nos chama a atenção, negativamente, e seguiremos monitorando se, por meio do plano de desinvestimento anunciado pela companhia, a BRF conseguirá se desalavancar e atingir um patamar saudável de endividamento (ainda que abrindo mão de importantes avenidas de crescimento). Continuamos conservadores com os papéis da companhia.