O resultado da Cielo continuou mostrando uma melhora sequencial de rentabilidade nesse 4T22. Com o lucro recorrente 5,7% maior que nossa projeção e 8,9% acima da estimativa do mercado, a empresa o continuou expandindo suas receitas com uma velocidade acima dos volumes financeiros (TPV) principalmente pela melhora de seu take rate devido a maior precificação, melhor mix e aumento do volume de produtos de antecipação onde as margens são melhores. O lucro recorrente continuou sua trajetória de melhora de rentabilidade, resultando em R$ 490m no 4T22, alta de 16,2% t/t, 63,2% a/a. Em 2022, o lucro líquido consolidado fechou em R$ 1,5b, alta de 34% a/a.
O forte desempenho do lucro da Cielo deu por uma combinação de: (i) crescimento do volume financeiro (TPV); (ii) melhora do take rate; (iii) aumento da penetração de produtos de prazo; (iv) controle de gastos; (v) bom desempenho da Cateno; (vi) desinvestimentos em projetos não rentáveis ao longo dos últimos trimestres.
Do lado um pouco mais preocupante, vimos uma desaceleração forte de volumes no 4T22 para um crescimento de apenas 11% a/a frente ao resto dos trimestres que estavam rodando entre 20-35% de expansão anual. Produtos de prazo (crédito) também desaceleraram bem no 4T22, principalmente no segmento mais rentável de Varejo+Empreendedores que terminou o trimestre sem evolução em relação ao 4T21 com um saldo de R$ 17b.
No geral, o forte resultado da Cielo no 4T22 aliado ao potencial aumento de take rate em 2023 por conta de mudanças regulatórias que limitaram as taxas de intercâmbio do emissor, reforça nosso recente upgrade de recomendação para COMPRA (veja Perspectiva 2023 e Prévia 4T22: Upgrade para Comprar). CIEL3 negocia a um valuation atraente de 7,92x P/L 23E, bem abaixo da média dos últimos 5 anos de 9,3x e de seus comparáveis (Stone e Pags).
Com a venda da MerchantE, a Cielo ficou com apenas 2 unidades relevantes: Cielo Brasil (negócio de adquirencia no Brasil) e Cateno (joint venture de processamento de cartões com o Banco do Brasil onde principal fonte de receita são as taxas de intercâmbio dos cartões do BB). MerchantE fazia parte de Outras Controladas, que hoje não gera receita, mas ainda possui algumas despesas não recorrentes. Portanto, nossas analises abaixo serão mais focadas em Cielo Brasil e Cateno.
Efeitos Não-Recorrentes
Ainda no 4T22 a companhia contou com eventos não recorrentes que atrapalharam seus resultados em -R$ 162m, sendo -R$ 30m da descontinuação da LIO V2 e -R$ 132m do término do reconhecimento da parcela de US$ 25m de earn-out da venda da MerchantE.
Volumes e clientes: Recorde histórico de volume!
A Cielo Brasil apresentou um recorde histórico no volume financeiro de transações, atingindo o montante de R$ 231b no trimestre, representando 2,2b em quantidade de transações. Do lado um pouco mais negativo, o crescimento desacelerou para 11% no 4T22 de uma média de 27% nos últimos trimestres. Deste volume financeiro, aproximadamente 59,1% vieram de cartões de crédito e 40,9% de cartões de débito. A piora no crescimento de débito possivelmente reflete a forte expansão do PIX, meio de pagamento substituto.
Já a Cateno também apresentou um número recorde no volume financeiro com um montante de R$ 106,6b. O volume de crédito representou aproximadamente 57,1% do total e o débito 42,9%.
Já o número de clientes da Cielo Brasil apresentou uma queda de -3,4% t/t, saindo de 1,09m de clientes para 1,06m. Esse movimento se dá devido a suspensão na política de concessão de subsídios para terminais de captura (POS) que acaba impactado nas afiliações no segmento de empreendedores.
Receita: Competição amena continua ajudando preços melhores
A receita (c/ pré-pagamento) cresceu +3,2% t/t, refletindo a expansão dos volumes e manutenção no take rate (0,95%). Por outro lado, na comparação anual, a receita cai -3,9%, devido ao desinvestimento da MerchantE (Me-S) que nesse tri não gera mais receita para a companhia. Excluindo a Me-S, a receita teria crescido 25,8% a/a.
Apesar da leve redução de -0,2pp do take rate no t/t, o valor de 0,95% mostra a recuperação da Cielo ao longo dos últimos trimestres, apresentando um crescimento de +0,16pp a/a. A evolução do take rate se deu pela reprecificação de produtos e serviços e aumento de produtos de prazo (crédito) em +25,4% a/a, além de ter conseguido manter seu market share ao longo do ano.
Receita Cielo Brasil. No 4T22, a receita líquida apresentou um aumento de +22,2% a/a por conta volume financeiro (+11,0% a/a) e melhora no yield em +0,07pp a/a para 0,72%, refletindo a boa reprecificação dos produtos e serviços.
Receita Cateno. O crescimento receita da Cateno cresceu 11,9% a/a devido a aumento volume financeiro e um mix de carteira mais favorável. Se desenvolvermos um yield da receita para a Cateno (receita líquida / volume financeiro), teríamos um yield de 1,01%, um aumento de +0,05pp a/a. No entanto, nota-se que receita desacelerou para 11,9% a/a frente aos tris passados que estavam rodando entre 20-30% a/a.
Produtos de prazo: Demonstrando o potencial
No 4T22, o volume de Produtos de Prazo atingiu o montante de R$ 30,2b (+25,4 a/a), crescendo mais que o TPV (volume financeiro transacionado). O ARV (antecipação de recebíveis de venda) de R$ 14b apresentou um crescimento de +90,0% a/a com uma penetração de 10,2% sobre o volume de cartão de crédito (+4,2pp a/a). Já o Receba Rápido (fluxo recebido em até 2 dias) com R$ 16,2b sofreu uma queda -3,0% a/a, com uma contração de -1,8pp na penetração de 11,9% sobre o volume de crédito.
Gastos totais: Time comercial eleva gastos
Os gastos totais apresentaram um montante de R$ 2,01b, um crescimento de +11,4% t/t e uma redução de -21,3% a/a. A queda na comparação a/a se dá pela saída da MerchantE no resultado da companhia, a qual estava presente no 4T21.
Cielo Brasil. As despesas operacionais apresentaram um crescimento de +23,3% t/t e +32,6% a/a. Do lado da despesa com pessoal, parte dos gastos vieram do aumento do time comercial, gratificações por desempenho, além do dissídio. Na linha de despesas com vendas e marketing, o crescimento foi puxado pelo aumento de propagandas e retorno dos eventos presenciais. Por fim, na frente de outras despesas operacionais, parte do grande impacto negativo veio do evento não recorrente da Cielo Brasil relacionado à descontinuação da LIO V2.
Cateno. A linha de custos totais apresentou um crescimento de +1,9% t/t e + 8,6% a/a devido aos maiores gastos com fee da bandeira, relacionado ao alto volume transacionado no trimestre, somado aos custos relacionados as emissões de cartões e postagem de faturas.
Resultado financeiro: Juros altos prejudicam o resultado
O resultado financeiro (sem a receita de pré-pagamento) apresentou um dado negativo de R$ 628m (-3,7% t/t e +86,2% a/a) devido a alta taxa de juros que impacta na evolução das despesas financeiras e novas captações (funding) realizadas no trimestre. Vale lembrar que no 3T22 a companhia realizou uma emissão de debêntures no montante de R$ 3b a uma taxa de CDI +1,2% com vencimento de 2025, o que impacta nas despesas financeiras do 4T22.