Seguimos com a nossa recomendação NEUTRA para ações da Copasa. Em linhas gerais, gostamos das informações e da postura do management ao longo do evento no que diz respeito aos planos para empresa para os próximos anos. Entretanto, vale mencionar que isso vem depois de um resultado decepcionante (ação cai c. 10% no dia de hoje) e em um ano eleitoral, onde apesar do favoritismo do atual governador, os bons planos para empresa podem simplesmente ser alterados por uma nova gestão. Para além disso, gostamos da maneira como a empresa está endereçando as questões relacionadas ao novo marco do saneamento, que deve colocá-la em uma situação de maior competição ao momento da renovação das suas concessões – principalmente no que diz respeito à eventuais indenizações de ativos não depreciados naquelas concessões que eventualmente não forem mais operadas pela empresa no futuro. Para termos um viés mais positivo em relação as ações da empresa (que estão longe de estar cartas, negociando a 3x EV/EBITDA 22E), gostaríamos de ver uma maior materialização dos bons planos do management quanto a empresa, principalmente no que diz respeito a investimentos (que por mais um ano fechou abaixo do planejado) e moderação na evolução dos custos.
Principais destaques. Como principais planos ressaltados, citamos I) expressivo plano de investimentos para 2022-2026, II) obtenção do waiver dos limites de endividamento no período devido ao impacto não-recorrente dos custos trabalhistas, III) aplicação do plano de Desligamento Voluntário, com impacto nos custos a partir dos próximos meses, IV) migração para o novo mercado de energia, com economia esperada de c. R$100 milhões nos próximos cinco anos e V) mudança no relacionamento com os consumidores via uso de redes sociais e novos meios de comunicação – pode parecer algo trivial, mas já parece render frutos no case da Light no que diz respeito a arrecadão e inadimplência.
Novo Marco do Saneamento. A empresa abordou muito bem os pontos referentes aos desafios impostos pelo novo Marco do Saneamento Básico. Mostrou o interesse de se manter competitiva dentro das áreas de concessão do estado de Minas Gerais (no curto prazo, outros estados aparentam estar fora dos planos), ressaltou a demonstração positiva da empresa no que diz respeito a sua capacidade econômico-financeira e, claro, endereçou a possibilidade de ressarcimento dos ativos não-depreciados da empresa naquelas prefeituras que não forem renovadas (uma situação semelhante a da Sanepar, conforme escrito alguns dias atrás – para mais informações, clique aqui). É importante acompanharmos esses temas a medida que o marco regulatório ainda é recente e medidas importantes aos cases das empresas ainda não foram observadas (como o ressarcimento dos ativos, algo de suma relevância para o negócio).
Investimentos. Uma vez mais, a empresa anunciou um ambicioso ciclo de investimentos para o ano 22-2026. O montante alcança R$7,4 bilhões ao longo de todo o ciclo, sendo R$1,4 bilhões em 2022 e o pico de investimentos nos anos de 2024-2025, alcançando R$1,6 bilhões. Achamos os valores muito razoáveis e positivos para o case da empresa – desde que seja executados. Historicamente, a empresa tem investido abaixo dos guidances propostos pela própria empresa. Para fins de comparação, o guidance de investimentos em 2021 foi de R$1,25 bilhões vs realizado de R$943 milhões… ou seja, 25% menos do que o proposto pela própria empresa aos findos de 2020. No negócio monopólios regulados, baixos investimentos tendem a resultar em revisões tarifárias decepcionamentes a medida que a base de ativos a ser remunerada não deverá evoluir de acordo com as necessidades da região. Além de uma eventual deterioração dos serviços de perdas/faturamento no médio e longo prazo. Ou seja, somos céticos quanto a apropriação de tais valores em nossos modelos.
E os dividendos? Como mencionamos no documento com análise do resultado trimestral de 4T21, a empresa decidiu por suspender o pagamento de dividendos referente ao trimestre devido aos impactos negativos dos provisionamentos referentes a questão trabalhista. Entretanto, chama a atenção que a alavancagem do trimestre ainda encontra-se em níveis muito razoáveis (1,7x Dív. Líq./EBITDA 12M). Apesar da empresa ter dado respostas lacônicas em relação a essa questão, ressaltamos a política de distribuição de dividendos, que assegura uma distribuição extraordinária caso o endividamento fique abaixo dos 2,25x no ano. Se considerarmos a quantia distribuida no último ano (c. R$1 bilhão), o rendimento implícito poderia ficar na casa dos 20% referente aos resultados de 2021.
E a privatização? Esse ponto não foi mencionado em nenhum momento do evento. Entretanto, conforme ressaltamos em nosso documento sobre casos de evento (para maiores informações, clique aqui).
Quem quiser, recomendo acompanhar o racional no corte que fizemos do video do evento. Essencialmente, acreditamos que uma eventual privatização da empresa em caso de reeleição do governador Zema, tendo em vista o viés liberalizante de sua plataforma política, maior experiência administrativa e, em um segundo mandato, não é incomum a aplicação de pautas relevantes – e a privatização da Copasa, sem dúvida, seria uma delas.