O Grupo Mateus irá divulgar o resultado do 2º trimestre no dia 12/ago, após o fechamento do pregão. A expectativa é que a companhia apresente um desempenho abaixo do setor, refletindo as dificuldades que o varejo alimentar enfrenta atualmente. Embora o faturamento seja mais fraco, o grupo deve continuar protegendo sua rentabilidade.
Negociando a 11,5x P/E 25 (Est. Genial), reiteramos recomendação de COMPRA, com preço-alvo 12m de R$ 9,00.
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Autosserviço pra baixo, B2B pra cima
Conversas com empresas do setor apontam para uma dinâmica clara: o trimestre começou forte em abril, impulsionado pelo deslocamento da Páscoa, o que trouxe fluxo e vendas para as lojas. Contudo, maio e junho foram meses com forte queda no volume de compras.
O que surpreende é que, mesmo com forte injeção de renda — reajuste de servidor público, 13º do INSS e restituição do Imposto de Renda — acreditamos que o fluxo desse dinheiro foi mais direcionado para serviços e, possivelmente, vestuário (e/ou discricionários de baixo ticket), ao invés de ir para os supermercados.
Esse comportamento é ainda mais impactante pelo perfil do Grupo Mateus, que opera em regiões altamente sensíveis à volatilidade de renda e com alta informalidade no mercado de trabalho. Sem um ajuste do Bolsa Família desde março de 2023, a companhia enfrenta um orçamento dos beneficiários comprometido, o que reflete diretamente na queda do volume de vendas, principalmente nas lojas maduras.
Autosserviço segue patinando
O principal fator para o desempenho fraco do Grupo Mateus no 2T25 está no volume de vendas. Espera-se que o Same Store Sales (SSS) do varejo cresça apenas 1% a/a, enquanto o atacarejo deve avançar para 2,2%, ambos números bem abaixo da inflação alimentar, que fechou em 6,2% ao final de junho.
Esse desempenho é impulsionado por dois fatores principais. A base comparativa forte de 2024, com um crescimento de volume expressivo, e a maturação das lojas. O Grupo Mateus está passando pela transição de lojas do primeiro ano (fase promocional) para o segundo ano, onde o foco se desloca para correção de preços (priorizando margem), o que naturalmente reduz o volume de vendas.
Outro ponto relevante é o número de lojas que entram em seu 2º ano de operação. Esse número sobe para 25 unidades, representando cerca de 14% do parque de lojas do varejo alimentar do grupo. Esse fator é crítico porque, no primeiro ano, as lojas geram um impulso promocional maior, com vendas mais agressivas, algo que diminui quando as lojas atingem o segundo ano, onde o foco é a rentabilidade, não o volume.
B2B sustenta o Same Store Sales consolidado do grupo
Apesar do desempenho do autosserviço não estar ajudando, o segmento B2B segue sendo o principal motor para sustentar o Same Store Sales consolidado do Grupo Mateus. Embora o crescimento do B2B tenha desacelerado em relação ao 1T25, as vendas B2B devem continuar mostrando um forte desempenho, com uma projeção de crescimento de 25,8% a/a. Isso levaria o SSS consolidado do grupo para 5,5% a/a, um aumento de 150bps a/a e 30bps t/t.
A esperança de crescimento
Diferente dos concorrentes, o Grupo Mateus tem espaço para expansão agressiva, com maior capacidade de capex para os próximos anos, 2025 e 2026, devido à baixa alavancagem financeira (0,3x pré-IFRS 16).
Isso oferece um respiro, já que, apesar de um desempenho mais fraco no Same Store Sales, a abertura de mais de 20 lojas no 2º semestre deve impulsionar o faturamento e começar a ganhar tração a partir daqui.
O operacional vai bem
Apesar do desempenho de autosserviço abaixo da inflação alimentar, a rentabilidade do Grupo Mateus continua protegida.
Em nossas estimativas, o aumento da margem bruta, com maturação das lojas no Nordeste e os ajustes de preço em estados como Maranhão, Pará e Piauí, deve garantir que o lucro bruto cresça 15,8% a/a, com uma margem de 22,8% (+40bps a/a). Esse crescimento da margem é reflexo da eficiência operacional, que se mantém sólida, mesmo com a desaceleração no top line.
A maturação das lojas também vai se refletir no EBITDA, que deve crescer 20,4% a/a, com uma margem de 7,8% (+43bps a/a). Mesmo com o volume de vendas mais fraco, a rentabilidade operacional do Grupo Mateus permanece sólida, garantindo que a empresa não perca o controle sobre suas margens.
Mas o financeiro e fiscal devem atrapalhar
No lucro líquido, estimamos um recuo de 1,1% a/a, com o Grupo Mateus apresentando um lucro de R$ 324 milhões no trimestre e uma margem líquida de 3,7% (-56bps a/a).
Essa queda é principalmente atribuída a dois fatores: o aumento das despesas financeiras e o impacto de uma base comparativa injusta em 2024, devido ao diferimento de provisões de períodos anteriores.
No 2º trimestre de 2024, a alíquota foi extremamente baixa (1%), o que é bem fora do novo normal para o Grupo Mateus, que gira entre 10% e 15% de alíquota.
Em relação às despesas financeiras, além do aumento da Selic impactar o custo de dívida da companhia, devemos ver uma menor receita financeira, dado o pagamento da 1ª parcela de aquisição do Novo Atacarejo, consumindo R$ 130 milhões do caixa da empresa.
Tabela 1: Expectativa da Genial para o Grupo Mateus no 2º trimestre (R$ milhões; IFRS 16).
