Enquanto os pares sofrem em meio as aquisições, o Grupo Mateus apresentou um forte resultado operacional, com recomposição de margem EBITDA e diminuição no ciclo de caixa em 27 dias. Um ponto fora da curva do varejo alimentar. Reiteramos a recomendação de COMPRA e preço-alvo 2023E de R$ 8,00.
Regional Nordeste contribui com o faturamento
O Grupo Mateus consolidou uma receita bruta de R$ 6,59 bilhões (+27,5% a/a), com a maior contribuição de faturamento vindo das lojas abertas nos últimos 12 meses (regional Nordeste). O Same Store Sales (SSS) do grupo foi de 11,3%, levemente menor do que o apresentado no mesmo período de 2022 (SSS de 12,7%), impactado pela desaceleração da bandeira Eletro e menor crescimento de Vendas externas (B2B).
Destaque positivo para perfomance de Varejo e Atacarejo autosserviço, ambos canais apresentando um SSS maior na visão ano contra ano. Apesar da desinflação alimentar impactar o negócio, acreditamos que essas bandeiras compensaram a redução do ticket através de um aumento de fluxo em lojas e/ou aumento de itens em cesta. Confirmaremos esses detalhes na call de resultados.
Maior participação de atacarejo = menor margem bruta
A dinâmica de custos veio conforme esperado, com uma redução de -120bps na margem bruta, dada a maior penetração da bandeira de Atacarejo no grupo, que passa de 49% para 53% de receita bruta em um ano. O Grupo Mateus reportou um lucro bruto de R$ 1,24 billhão (+21,3% a/a) e uma margem de 21,1%.
Diluindo despesas operacionais
Apesar do impacto em custos, a maior penetração de Atacarejo somado a uma maior alavancagem financeira mais do que neutralizou o efeito para o EBITDA do grupo. Indo na contramão de pares como Assaí e Carrefour, que sofrem em meio as altas despesas operacionais decorrentes de aquisições do Extra e Grupo BIG, o Grupo Mateus cresceu seu lucro operacional (visão IFRS 16) em 36% a/a, a R$ 411 milhões, com uma margem EBITDA de 7,0% no período.
Lucro líquido impactado por uma maior Selic
Frente a um cenário de altas taxas de juros e um aumento de 73% a/a da dívida bruta, observamos maiores gastos com juros de empréstimos pressionando as despesas financeiras (+85,7% a/a). Com isso, o Grupo reportou um resultado financeiro de -R$72,7m (+150,3% a/a), chegando a 1,24% da receita líquida vs. 0,63% no 1T22.
As controladas do Grupo, Armazém Mateus e Mateus Supermercados, possuem incentivos fiscais em suas operações, reconhecidos como subvenção para investimento, sendo compensando na tributação do imposto de renda e da contribuição social. Assim, observamos uma alíquota efetiva de 0,23% (-53bps a/a) no trimestre, levando a uma redução de -64,5% a/a do pagamento de IR/CSLL.
Consolidando os efeitos, o Grupo Mateus reportou um aumento de 20,3% a/a na última linha, postando um lucro líquido de R$ 239,7m. A margem líquida ficou em 4,1% (-30bps a/a), com uma leve pressão do resultado financeiro.
Ciclo de caixa é a cereja do bolo
O maior destaque positivo do resultado vem para a linha de ciclo de caixa, que assim como no 4º trimestre, mostra que a companhia continua empenhada em elevar a rentabilidade de seu negócio.
Durante o 1T23 a companhia continuou apresentando um bom desempenho em relação ao seu ciclo de caixa, que encerrou o trimestre em 79 dias, uma redução de -27 dias em relação ao 1T22.
Com a continuidade de esforços em termos de controle de estoques e negociações com fornecedores, o Grupo conseguiu reportar um prazo de fornecedores em 44 dias (+1 dia t/t; +9 dias a/a). Quanto aos estoques, observamos um giro de 90 dias (+4 dias t/t; -15 dias a/a), com leve aumento t/t devido a sazonalidade do 1T23 e ao ritmo de expansão.
A otimização do consumo de capital de giro foi capaz de amortecer a pressão de caixa gerada pela compra de estoques no trimestre. Desconsiderando os montantes destinados a Capex e aquisição de imóveis, a companhia reportou uma geração de caixa operacional de R$ 180,4m.