Os resultados de Iguatemi continuam a melhorar com o arrefecimento da pandemia, ainda que não de forma tão acelerada quanto a que vemos em Multiplan. De forma geral, a performance de vendas em shoppings da empresa seguiram a tendência da concorrente: um início de ano fraco, com impacto da ômicron, seguido de uma recuperação acelerada. Mesmo com efeitos da pandemia, as vendas foram superiores às dos respectivos meses de 2019 (Jan: +6%, Fev: +15%, Mar: +23%, Abr: +31%).
A performance de vendas permitiu a retirada de parte dos descontos, melhorando indicadores de aluguel e fortalecendo a receita da Iguatemi. O SSR (same-store rent) aumentou em 48,7% comparado ao 1T19, ainda um pouco abaixo do IGP-M do período, mas que vem se aproximando cada vez mais do índice com a retirada dos descontos. Com isso, a receita líquida veio em R$ 228m (+34% a/a e +32% vs 1T19), um pouco acima da nossa expectativa devido ao efeito de linearização dos descontos (efeito não-caixa) que esperávamos em -R$27m, mas que veio em apenas -R$ 5m (esta linha deve começar a impactar mais severamente a receita nos próximos trimestres em função da retirada dos descontos). Vale ressaltar que a queda trimestral na receita é sazonal e atrelada às vendas tradicionalmente mais fracas no 1T e ao aluguel dobrado que é cobrado em dezembro, tornando a base de comparação do 4T mais forte.
Os custos com pessoal e custos&despesas da plataforma digital tiveram um aumento significativo quando comparado ao mesmo trimestre de 2021 em vista do retorno das operações e do crescimento da plataforma digital. Mesmo assim, o aumento na receita e a queda nas despesas dos shoppings permitiram um aumento no EBITDA para R$ 148m (+46% a/a) e uma margem de 65% (+5p.p. a/a).
Apesar de considerarmos que os resultados da Iguatemi tenham vindo bons, entendemos que, hoje, existem opções melhores dentro do setor de shoppings. Vemos a Multiplan com resultados operacionais superiores e ainda a opcionalidade de projetos de desenvolvimento imobiliário já iniciados. Na brMalls e Aliansce Sonae temos um operacional mais fraco, porém ambas muito mais avançadas no processo de consolidação do setor por M&A. Já a Iguatemi apresenta vantagem na frente digital e vem dado os primeiros passos na consolidação do setor (com a possível aquisição de participações da Brookfield em shoppings). Ainda assim, não vemos estes pontos como suficientes para recomendar a compra dos papéis por ora, reiterando nossa recomendação de Manter e preço alvo de R$ 25,00.
Iniciativas digitais
Como ponto positivo de destaque para o trimestre podemos citar a aquisição de 23,08% da empresa de E-commerce Etiqueta Única, por R$ 27m. A partir dessa operação, a companhia adentra mais fortemente no mercado de varejo online, neste caso com uma plataforma de luxo que intermedia a venda de artigos second hand de luxo, que está em ascensão.
Ainda na frente digital, vale destacar o desempenho do Iguatemi 365, a plataforma própria de comércio digital da companhia focada no omnichanel e na jornada do cliente. A expansão de vendas para regiões que não possuem shoppings Iguatemi e de diferentes produtos não-moda, como casa, decoração e beleza, e o foco na omnicalidade auxiliaram no aumento de 27% no tráfego da iniciativa. A receita de R$ 22m, aumento de +200% a/a e +400% vs 1T19, demonstram o crescimento desta linha de negócios.
O impacto da Infracommerce…
Agora, outro ponto que deve ser nomeado é a marcação a mercado da participação na Infracommerce. A Iguatemi possui uma participação indireta significativa na companhia listada de tal forma que a queda de 18,2% da IFCM3 no trimestre provocou um impacto negativo de R$ 89m no resultado financeiro da Iguatemi. A parte “boa” desse efeito foi um benefício fiscal gigante, resultando em apenas R$ 1m de imposto reportado.
É importante acompanhar os impactos que esta participação vão provocar no próximo trimestre, uma vez que a maior queda na IFCM3 ocorreram no mês de abril. Em 31/mar, as ações da infracommerce eram cotadas a R$ 14,30. Hoje estão a R$ 6,05, uma queda muito mais relevante que a ocorrida neste 1T.
…e da Selic
Como em basicamente todas as empresas, o aumento da taxa de juros provocou um aumento nas despesas com juros das dívidas. Somado aos R$ 89m de impacto da infracommerce, o resultado financeiro veio negativo em R$ 127m, implicando em um prejuízo líquido de R$ 16m no trimestre. É importante ressaltar que, sem o efeito da queda da IFCM3 (um efeito não-caixa), a Iguatemi teria um lucro de R$ 41m.