O imbróglio do caso da Americanas continua e a companhia divulgou uma nova lista de credores no dia 25/jan/23, sendo apresentado na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O documento soma uma dívida total de R$ 41,2b.
Com base nos dados divulgados, fizemos um estudo sobre qual o tamanho do impacto nos principais bancos do país, principalmente nos listados e que possuímos cobertura.
Considerando os bancos listados, os mais impactados seriam BTG Pactual*, Santander e Bradesco. Estimamos que as instituições financeiras terão que provisionar pelo menos 30% do montante da dívida com a Americanas devido a entrada em Recuperação Judicial da varejista. Com isso, considerando o lucro dos últimos 12 meses, o BTG teria uma redução considerável de -7,3%, Santander (-4,1%) e Bradesco (-3,6%). Já para o capital nível 1, considerando 100% de provisão após impostos, o impacto seria de -0,6pp para o BTG, Santander (-0,3pp) e Bradesco (-0,2pp).
Podemos confiar nos dados?
Estamos ainda um pouco reticentes com as informações divulgadas pela varejista, já que logo após a divulgação dos dados, o Banco Votorantim soltou um fato relevante comunicando que a dívida da Americanas com o banco é bem menor que a disponibilizada na lista de credores. Ainda, o Deutsche Bank também soltou um comunicado dizendo que os valores apresentados não eram realistas.
Para se ter uma ideia da divergência dos valores, o documento disponibilizado pela Americanas relata que a empresa tem uma dívida de R$ 3,3b com o Banco Votorantim, sendo que o fato relevante do banco comunica que a exposição é de apenas R$ 206m. Já em relação ao Deutsche o valor apresentado é de R$ 5,2b e a instituição afirma que não há nenhuma exposição a varejista. Segundo nossas conversas, a divergência seria porque a Americanas estaria considerando o valor total da operação que essas instituições haviam atuado como distribuidoras de Bonds e CCBs (Cédula de Crédito Bancário). Os bancos alegam que ficaram com valores substancialmente menores em seus balanços, distribuindo a terceiros o restante.
Afinal, qual o tamanho do impacto nos bancos?
Para nosso estudo consideramos os valores disponibilizados no documento pela Americanas, já que parte dos bancos ainda não estão abrindo os reais valores expostos a varejista. No estudo, apenas ajustamos o valor do Banco Votorantim por ter soltado um fato relevante confirmando o valor de R$ 206m ao invés de R$ 3,3b como relatado no documento.
Importante ressaltar que como temos dúvidas sobre a veracidade dos dados disponibilizados pela Americanas, pode haver alguma divergência em relação a realidade da situação.
Destacamos também que não incluímos no estudo o Banrisul, já que logo na primeira divulgação sobre o rombo de R$ 20b na Americanas o banco soltou um fato relevante comunicando que não há nenhuma exposição a varejista.
Ainda, acreditamos que o valor apresentado para o BTG Pactual de R$ 3,5b está superestimado devido a uma parte estar relacionada ao valor de R$ 1,2b que ainda está em disputa judicial com a varejista e outra parte do montante total considerar uma carteira de seguros (estimado em R$ 400m) que foi ressegurada, fazendo com que o banco não tenha risco direcional a esta posição em específico. Portanto, a exposição total da BTG Pactual pode variar entre R$ 3,5b a R$ 1,9b.
Para Itaú, o montante disponibilizado na lista de credores soma o valor total de aproximadamente R$ 2,9b, porém desconsideramos as posições em fundos de investimentos, já que a maior parte das cotas dos fundos devem ser de terceiros, sem impacto direto no lucro do banco. Logo, o valor total para a companhia ficou em aproximadamente R$ 2,8b.
*Considerando o montante de R$ 1,9b para o BTG Pactual, o banco apresentaria uma redução no lucro líquido dos últimos 12 meses de -4,0% (considerando uma provisão de 30%) e -13,2% considerando PDD de 100%. Logo, a ordem “correta” dos bancos listados mais impactados seria: (i) Santander, (ii) BTG Pactual e (iii) Bradesco.
A representatividade da dívida média ponderada após impostos no patrimônio líquido dos bancos presentes no estudo é de 1,7%, sendo que para o capital nível 1, levando em consideração 100% de provisionamento após impostos, o impacto médio ponderado seria de -0,2pp. Já para o lucro líquido dos últimos 12 meses, considerando uma provisão de 30% após impostos, teríamos uma redução média ponderada de -3,0% e considerando 100% de provisão, o impacto seria de -10,1%.
Portanto, na média, o impacto não deve ser tão significativo apesar do valor do rombo descoberto pela Americanas ser bem expressivo. Nossa preferência, em relação aos bancos presentes em nossa cobertura, são Itaú e Banco do Brasil, enquanto permanecemos mais pessimistas com Bradesco e Santander.
Os bancos podem começar a provisionar já no 4T22 ou ao longo de 2023, portanto, ainda não sabemos o timing e o volume de provisionamento que pode variar entre 30% a 100%.
Para mais informações sobre nossa visão em relação a cada banco, consulte nossas prévias para o 4T22 e perspectivas para 2023.