Gostamos do resultado do 4T21 do Itaú e do guidance para 2022. De forma geral, a volta de um forte crescimento de receita mitiga as pressões de custos, principalmente eventuais aumentos de provisões para crédito duvidoso. Estimamos que no meio da faixa do guidance para 2022, o lucro seja de R$ 30,8b, implicando um robusto crescimento de 14,7% e acima dos R$ 28b da média do mercado. Estamos colocando o Itaú como nossa ação favorita entre os bancos, substituindo o Bradesco que decepcionou nos resultados do 4T21 e guidance.
O banco reportou um lucro recorrente de R$ 7,16b no 4T21, 5,3% melhor que nossas estimativas, 6% acima do consenso, implicando um crescimento de 5,6% t/t e 32,9% a/a. A rentabilidade (ROE) do banco também melhorou 0,5pp t/t e 4,0pp a/a alcançando 20,17%. O resultado foi impulsionado principalmente por uma forte expansão na receita com juros, parcialmente diminuída por um aumento de provisão para crédito duvidoso, mas aumentado em 7pp t/t o índice de cobertura para 241%. Ao contrário que vimos em Bradesco e Santander, a inadimplência caiu 0.1pp t/t para 2,5%.
Margem: foi o destaque
A margem financeira de Itaú contribuiu de forma considerável com o lucro, e na nossa visão foi o ponto de destaque do resultado do 4T21, implicando em um crescimento forte para 2022. A margem cresceu 8,7% t/t e 20,6% a/a. A margem com clientes avançou impressionantes 13,2% t/t e 24,3% a/a. Essencialmente, a margem com clientes é proveniente dos empréstimos do banco, tendo sido impactada pela melhora do mix, crescimento da carteira de crédito, reprecificação da carteira e capital de giro para suportar o negócio de crédito.
O Itaú tem apresentado crescimento mais acentuado na carteira de crédito de pessoas físicas, como cartão de crédito e crédito pessoal. Por terem um risco maior, essas carteiras possuem um spread maior, e o crescimento contribui positivamente para a margem do banco. O spread corresponde a diferença entre o custo de captação e a taxa de empréstimo.
Com a alta de juros, o custo de captação dos bancos tende a se elevar mais rapidamente do que as receitas com empréstimos. Contudo, com a carteira gradativamente sendo reprecificada, os bancos tendem a retomar o crescimento de spread, movimento que esperamos que se mantenha para o Itaú em 2022.
Diferentemente de outros bancos, como Santander e Bradesco, o Itaú consolida o resultado de juros sobre o capital destinado à concessão de crédito na margem com clientes. O capital que será emprestado é investido em títulos, por exemplo, e a rentabilidade resultante é somada ao resultado do rendimento com os empréstimos. Com o aumento das taxas de juros, o capital é remunerado a uma taxa de juros mais alta, beneficiando o banco. Em Santander e Bradesco, o resultado do reinvestimento do capital para empréstimos é colocado na margem com mercado.
Em contrapartida, ao crescimento da margem com clientes, a margem com mercado de Itaú retraiu 32,6% t/t e 17,1% a/a. O movimento já era esperado assim como para todos os bancos e deverá se manter em 2022.
Carteira de Crédito: Bom desempenho
A carteira de crédito do Itaú continuou apresentando um bom desempenho no trimestre, crescendo 6,7% t/t e 15,3% a/a. Os principais segmentos que puxaram o crescimento foram o de pessoas físicas, que teve uma alta de 9,5% t/t e 30,1% a/a e de pequenas e medias empresas, que teve crescimento de 8,9% t/t e 27,9% a/a. Em grandes empresas e América Latina o avanço foi mais modesto, porém também positivo. A carteira com grande empresas cresceu 6,3% t/t e 16,6% a/a e América Latina 2,8% t/t e a/a.
Receitas de tarifas: crescendo mesmo sem XP
As receitas de tarifas cresceram 1,8% t/t e 4% a/a. A variação t/t pode ser explicada pela sazonalidade. No final de ano, as pessoas acabam consumindo mais e usando mais as linhas de serviço de tarifas. Já a variação positiva a/a mostra um cenário menos adverso para as receitas de tarifas do Itaú do que pensávamos anteriormente.
O Itaú possuía receitas relevantes na linha de prestação de serviços advindas da XP. Com a separação das empresas (spin-off), o resultado de XP deixa de passar no resultado de Itaú, prejudicando a comparação anual. A continuidade do crescimento no 4T21 é um indicador importante para a tendência que poderá perdurar em 2022. Esperamos receitas de tarifas crescendo em linha com a inflação em 2022.
Qualidade da carteira: destaque positivo
Os índices de inadimplência de Itaú vieram abaixo do que esperávamos. O índice 90 dias, que mostra o saldo em atraso por mais de 90 dias em relação à carteira, caiu 0,1 p.p t/t, fechando o ano em 2,5%. Assim como já esperado para todo o setor, na comparação com o 4T20 o índice de inadimplência subiu 0,2 p/p. O principal fator para a queda t/t foi o arrefecimento da inadimplência na carteira da América Latina que puxou o indicador para cima no 3T21.
Mesmo com a inadimplência seguindo sobre controle as provisões cresceram 23,5% t/t e 21% a/a. O crescimento elevado se deve ao crescimento da carteira de crédito, que naturalmente demanda mais reservas para uma eventual elevação da inadimplência e consumo do índice de cobertura no 3T21.
O índice de cobertura se refere ao saldo de provisões em relação aos créditos em atraso. Neste trimestre, a elevação do provisionamento e redução do write-off possibilitaram ao Itaú crescer o índice de cobertura, contrário a tendência que esperávamos para ele e concorrentes. O índice de cobertura (90d) no 4T21 terminou em 241% (vs. 234% no 3T).
Nós já esperávamos uma elevação do provisionamento nos próximos trimestres, tendo em vista que o Itaú tinha um índice de cobertura mais baixo se comparado ao Bradesco, por exemplo. Contudo, a elevação da margem com clientes mais do que compensou o maior provisionamento. Na nossa visão, o crescimento forte da margem com cliente acabará possibilitando ao Itaú crescer o lucro acima de 10% mesmo com a elevação considerável das provisões em 2022.
Despesa: sob controle
As despesas operacionais do Itaú cresceram 6,5% t/t e 1,1% a/a no 4T. O resultado mais pressionado t/t já era esperado pelo impacto do dissídio de salários dos bancários na totalidade do trimestre. No 3T21 o dissídio teve impacto somente a partir de setembro. Para 2022 esperamos um crescimento das despesas em linha com a inflação.
O Itaú novamente aumentou seu número de colaboradores para 99,6k (vs. 98,7k no 3T21). Com o planejamento de ter uma postura mais ativa em relação aos novos entrantes no mercado, com destaque para fintechs, o Itaú vem tentando aprimorar seu time, em especial de tecnologia.
Imposto: notícia boa para 2022
A alíquota efetiva do Itaú caiu para 35,04% no 4T21 em comparação a 36,22% no 3T. Para o ano de 2022, esperamos uma continuidade de menores alíquotas em função do aumento da TJLP. A TJLP é calculada com base na Selic, que por sua vez é usado no cálculo da capacidade de se pagar JCP. Com a Selic mais elevada em 2022, temos uma TJLP superior. Sendo assim, em 2022, o Itaú provavelmente irá pagar mais JCP. O JCP é contabilizado como despesa para cálculo do imposto. Quanto há a possibilidade de se pagar mais JCP, o benefício fiscal aumenta, reduzindo a alíquota efetiva de imposto.
Guidance: melhor que o Bradesco
O Itaú entregou um guidance bem mais atrativo que o Bradesco. A expectativa do banco é continuar expandindo sua margem financeira com clientes, cujo meio do guidance resultaria em 22% de crescimento. É esperado que a margem com o mercado siga caindo.
A carteira mesmo desacelerando poderá manter um crescimento atrativo entre 9% e 12% aos olhos do banco. Já a alíquota efetiva de imposto, assim como já levantamos nesse relatório, pode cair. Projetando o crescimento para 2022 conforme números do guidance, chegamos a um avanço de lucro no ponto médio de 14,7%.