Em meio a turbulências do ano, com alta da Selic, elevação da inadimplência e provisões, o lucro do Itaú de R$ 7,68b cresceu robustos 17,4% a/a e 4,3% t/t, superando as nossas expectativas e do mercado em 3,2% e 4,7%, respectivamente. Com um ROE de 20,8%, a qualidade do resultado também superou as expectativas, com um forte avanço de receitas, que compensou em grande parte a elevação do custo de crédito. As dinâmicas positivas geraram a necessidade de melhora no guidance de 2022, cuja revisão implica em um crescimento de lucro de 18,9% no meio da faixa, frente a 14,7% do guidance anterior.
Apesar da melhora do guidance em três itens importantes (crédito, margem com clientes e receita de seguros/tarifas), do lado negativo, as provisões cresceram substancialmente, na ordem dos 11,7% t/t e 61,7% a/a. A elevação das provisões também gerou uma revisão no guidance, parcialmente explicado pelo maior crescimento da carteira e para um mix de empréstimos de mais risco, exigindo mais provisões, mas que por outro lado é mais que compensado pelo aumento nas receitas de margem financeira com clientes e tarifas/seguros. A carteira crédito cresceu 5,3% t/t e 18,7% a/a. Mesmo com o maior crescimento da carteira, o NPL 90 continuou com ritmo de elevação sob controle, com alta de 0,1 pp t/t, atingindo 2,7%.
Já tínhamos o Itaú como top pick (principal escolha) dentre os bancos. Portanto, o sólido resultado do trimestre e seu carrego para o ano contribui para reiterar a nossa tese de investimento. Com um ROE de 20,8% no trimestre e expectativa de um ROE na faixa dos 20,3% para o ano, ao valuation de 1,56x P/VP22 e 8,05x P/L22 a ação nos parece barata em relação ao seu múltiplo histórico. Reiteramos a recomendação de COMPRAR para Itaú como top pick do setor.
Margem com Juros (NII): Puxado pela margem financeira com clientes
Enquanto a concorrência encontra dificuldades em crescer receita, a margem financeira do Itaú cresceu 7,6% t/t e 20,5% a/a, puxada pela margem com clientes (9,7% t/t e +30,9% a/a). A margem com clientes vem sendo beneficiada pelo crescimento da carteira de crédito, melhora do mix e remuneração do capital de giro. O Itaú e demais bancos tem crescido mais em segmentos de spread mais alto, como crédito ao consumidor e cartão. A margem com mercado, assim como esperávamos, retraiu 35,5% t/t e 67,4% a/a, prejudicada por menores ganhos na tesouraria.
Crédito: Acelera Brasil!
A carteira de crédito (visão Bacen) acelero seu crescimento para 5,3% t/t e 18,7% a/a, finalizando o trimestre com R$ 859b. O crescimento foi puxado pelo segmento pessoa física (PF) com um salto de 7,4% t/t e 33% a/a. Destaques no trimestre foram o crédito consignado (+10% t/t e 19% a/a) por conta do aumento de margem consignável, seguidos por cartão de crédito (+8% t/t e +43% a/a) e crédito pessoal (+8% t/t e 36% a/a). Do lado negativo, a carteira América Latina ficou praticamente de lado.
Custo de Crédito: Rápida queda na cobertura
Mesmo com um substancial aumento de provisões para perdas de crédito, o Itaú continuou a consumir cobertura nesse trimestre. O índice de cobertura 90d atingiu 218% (-14 pp t/t e -65 pp a/a). O consumo da cobertura foi extremamente rápido, não só para o Itaú, mas para demais bancos privados de maneira geral, reflexo principalmente da elevação da inadimplência. A inadimplência de 90 dias subiu 0,1 pp t/t para 2,74%. Na composição da inadimplência continuamos a ver um crescimento mais acelerado em PF, subindo 0,3% t/t e atingindo 4,4%.
Como consequência, o banco aumentou seu guidance de custo de crédito, de R$ 25b e R$ 29b para R$ 28b e R$ 31b, vs. R$ 20,2b em 2021.
A carteira Travessia (renegociadas durante a pandemia) continuam caindo tri após tri, saindo de R$ 27,1b no 1T22 para R$ 24,1b no 2T22, pois segundo o Itaú, estão em run-off (terminando). As carteiras renegociadas aumentaram em torno de R$ 600m t/t para R$ 34,3b, dos quais cerca de R$ 400m ocorreu na faixe de atraso acima de 90 dias e R$ 200m foram renegociadas em créditos em dia.
Receitas de Tarifas/Seguros: Tarifas se recupera t/t, mas o destaque no ano é seguros
As receitas de tarífas subiram 7,4% t/t e 5,1% a/a. No trimestre receitas foram beneficiadas pelo easy comps da sazonalidade do 1T. No ano, a alta foi puxada por cartões, taxas de performance na gestão de recursos e melhor performance comercial em consórcios e crédito. A receita de seguros continua sendo o destaque no ano com uma alta relevante de 31,7% a/a, mas retraindo 2,9% t/t.
Despesas Administrativas: Se preparando para o 2S
As despesas subiram 4,2% t/t e 7,4% a/a, prejudicada principalmente pelas despesas de pessoal (+10 t/t e +13,6% a/a). Em contrapartida, o Itaú vem mantendo outras despesas administrativas e despesas LATAM mais controladas. As outras despesas administrativas subiram 0,7% t/t e 5,7% a/a. Já as despesas LATAM tiveram retração de 5% t/t e 6% a/a. No 2S esperamos uma pressão adicional nas despesas, dado dissídio de salários que deverá ser elevado por mais um ano. Número de colaboradores continua relativamente estável na faixa dos 100k, mas o número de agências e PABs continuam caindo de 4326 no 2T21 para 4192 no 2T22.
Capital: Pressionando payout
O índice de capital nível 1 de Itaú subiu 0,1 pp t/t, atingindo 12,59%. No último ano, o índice de capital nível 1 caiu 0,92 pp, prejudicado pelo efeito da desvalorização cambial nas operações de hedge. O capital mais pressionado por conta desse efeito levou o banco a fazer o hedge de capital (Basileia) recentemente e provavelmente irá obrigar o banco a adotar um payout mais conservador para o ano, em torno de 25-30%, em linha com sinalização do managment.