Em resumo, o mês de abril continuou com o movimento de desaceleração presenciado em mar/23, reflexo ainda do aumento da inadimplência e deterioração macroeconômica. O spread bancário aumentou na comparação mensal e anual, enquanto em março havia ficado estável no m/m. O comprometimento de renda continua em níveis elevados próximo de 30%, enquanto o endividamento das famílias, que apesar de elevado, começa a dar sinais de alívio na comparação mensal e anual. Por fim, os bancos públicos mostraram mais um mês de ganho de market share em relação aos privados.
Destaques do mês: inadimplência em linhas mais arriscas continuam em alta
Além da recente subida da inadimplência no crédito livre para pessoa jurídica, estamos destacando a inadimplência de algumas linhas de empréstimos que tem nos preocupado na pessoa física como: cartão de crédito rotativo, crédito pessoal (não consignado), crédito de veículos e cheque especial.
- Cartão de crédito. A inadimplência para pessoa física em cartão de crédito segue avançando, no mês atingiu 8,6% (+0,1 pp m/m e +2,3 pp a/a). O destaque negativo no mês foi o avanço da inadimplência do parcelado, que avançou 0,4 pp m/m e 1,8 pp a/a, chegando em 8,2%. Do lado um pouco mais positivo, o crédito de cartão rotativo apresentou uma leve queda de 0,6 pp m/m (alta 12,2 pp a/a) para 51,7%, mas ainda em patamares altíssimos – maior patamar da nossa série histórica desde 2011.
- Aquisição de automóveis. O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou taxa de inadimplência de 5,5%, ficando estável m/m, mas com aumento de 1,0 pp a/a.
- Crédito pessoal não consignado. Apresentou inadimplência de 7,7% para pessoa física, com estabilidade m/m, mas com crescimento de 1,8 pp a/a.
- Cheque especial. A inadimplência para pessoa física ficou em 12,6%, aumento de 0,2 pp m/m e 1,5 pp a/a.
Crédito: em desaceleração, mas com preferência para crédito com garantias
O saldo das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) ficou em R$ 5,35 tri em abr/23, ficando estável no m/m (-0,2%) e com aumento de +11,2% a/a, uma desaceleração em relação ao crescimento de 12% a/a no mês de março. Abril foi marcado pela redução de 0,9% m/m no crédito destinado as empresas (pessoas jurídicas) que atingiu o total de R$ 2,1 tri e pelo aumento de 0,2% m/m na pessoa física, com R$ 3,3 tri. Pode-se perceber que está ocorrendo uma desaceleração em ambos os segmentos na comparação anual quando comparado com o mês de março, reflexo de menores concessões de crédito para fazer frente ao movimento de inadimplência que continua em alta.
- Crédito livre ficou em R$ 3,1 tri em abr/23 (-0,5% m/m e +8,7% a/a). O crédito para pessoa física atingiu o total de R$ 1,8 tri (+0,3% m/m e +13,9% a/a), marcado pelo aumento da carteira de crédito pessoal não-consignado e crédito consignado (setor público e INSS). Já para empresas ficou em R$ 1,3 tri (-1,5% m/m e +2,3% a/a), devido a redução do saldo das operações de desconto de duplicatas e outros recebíveis.
- Cartão de crédito atingiu o saldo total de R$ 526b (-1,3% m/m e +18,8% a/a), com R$ 494b para pessoa física (-0,8% m/m e +17,8% a/a) e R$ 32b (-7,9% m/m e +35,3% a/a) para empresas. A queda mensal do saldo total foi puxada pela redução de 1,5% na modalidade à vista para pessoa física e no saldo total de pessoa jurídica.
- Crédito direcionado continuou acelerando e atingindo R$ 2,2 tri em abr/23 (+0,2% m/m e +15,0% a/a), modalidade que vem ganhando a preferência dos bancos nesse momento do ciclo de crédito por ter mais garantias (ou seja, menos inadimplência). O crédito direcionado para pessoa jurídica aumentou em +0,2% m/m e +9,4% a/a com um total de R$ 738b. Já para pessoa física, o total de crédito ficou em R$ 1,46b, crescimento de 0,1% m/m e 18,1% a/a, marcado pelo financiamento imobiliário com taxas reguladas.
Inadimplência: pressão continua
A inadimplência (acima de 90d) do SFN continuou piorando, fechando em 3,5% (+0,2 pp m/m e +0,8 pp a/a). A inadimplência do crédito individual foi de 3,9% (+0,1 pp m/m e +0,7 pp a/a), já a do crédito corporativo foi de 2,2% (+0,2 pp m/m e +0,8 pp a/a), em nossa visão, reflexo do cenário mais difícil para as empresas, acentuado após o pedido de recuperação judicial da Americanas.
Em um olhar de maior proximidade, a inadimplência segue avançando de forma mais rápida nos bancos privados (+0,2 pp m/m e + 1,0 pp a/a) em comparação aos bancos públicos (+0,1 pp m/m e +0,6 pp a/a). Acreditamos que isso seja reflexo da diferença das carteiras, com maior presença de crédito agro e consignado nos bancos públicos, que são créditos com menos risco e spreads mais baixos.
Os bancos continuaram a consumir cobertura nesse mês, com queda de -5,9 pp m/m e 28,5 pp a/a para 189%. Sinal que estarão menos provisionados caso o ciclo continue a piorar.
Comprometimento/Endividamento de Renda
Em mar/23*, o endividamento das famílias com o SFN chegou a 48,5%, apresentando um alívio de 0,1 pp m/m e 1,3 pp a/a. Por outro lado, o comprometimento de renda elevou em 0,3 pp m/m e 1,6 a/a, ficando em 27,7%.
*O dado de comprometimento de renda e endividamento das famílias é defasado em um mês em relação aos dados de crédito.
Recuperação Judicial: Cenário macro ainda impacta
O número de empresas com requerimento para recuperação judicial (RJ) arrefeceu levemente, consequência da diminuição do requerimento de média empresas, compensando o avanço das micro e pequenas empresas (MPE). Entretanto, o número continua a piorar na comparação a/a, reflexo do cenário macroeconômico mais apertado e de um comparativo que vinha de patamares baixos por conta de um período com taxas de juros historicamente baixas.
Spread: Segue avançando
O spread bancário total ficou em 21,9% (+0,8 pp m/m e +4,3 pp a/a). O avanço mensal foi reflexo do spread pessoa física, que alcançou 28% (+1,0 pp m/m e 5,2 pp a/a). Já o corporativo, ficou estável em relação a março, mas crescendo 1,1 pp a/a. Em nossa visão, o spread evoluindo de maneira mais rápida, principalmente pela ponta individual, deve continuar a pressionar a inadimplência.
Market Share de Crédito: Bancos públicos ganham espaço
Os bancos públicos continuaram ganhando market share (43,1%) no mês de abril com aumento de 0,1pp m/m e 0,8pp a/a, enquanto as instituições privadas apresentaram queda de 0,1pp m/m e 0,4pp a/a, com um total de 42,2%. As instituições estrangeiras seguiram o movimento das instituições nacionais privadas com queda de 0,1pp m/m e 0,4pp a/a.
Concessões totalizaram R$ 480,6b (-16,7% m/m e -3,8% a/a), a forte queda mensal se dá pelo efeito sazonal do mês de março. Na comparação anual, a queda ocorreu pela forte redução das concessões livres para empresas (-14,7% a/a).
- Cartão de crédito: as concessões de cartão atingiram R$ 204b, queda de 9,5% m/m e aumento de 11,2% a/a. A variação mensal foi marcada, principalmente, pela queda de 9,5% da modalidade à vista para pessoa física, que atingiu o montante de R$ 149b vs R$ 165b em mar/23.
Duration: o prazo médio de duração de crédito apresentou expansão no m/m para o crédito livre voltado para pessoa física (+0,2%) e empresas (+6,0%), mas com queda para pessoa física na comparação anual de 1,3%, enquanto empresas continuou com aumento de +5,6% a/a. Já o crédito direcionado apresentou retração de prazos no a/a para pessoa física (-0,3%) e leve expansão no m/m de +1,1%, enquanto para empresas apresentou forte aumento na comparação anual (+34,2%) e mensal (+29,7%).