Os dados de crédito do Banco Central de janeiro apontam para mais um mês de desaceleração do crescimento de crédito na comparação anual, registrando um crescimento de 7,6% a/a. Esse cenário de desaceleração reflete uma inadimplência ainda elevada, com uma leve alta sequencial esse mês no segmento PJ. Apesar da alta, a inadimplência vem ensaiando uma trajetória de gradual de queda.
Acreditamos que com a queda da inadimplência e o ciclo de redução da taxa de juros, o crescimento de crédito deve voltar a acelerar, de forma gradual por conta de um cenário econômico ainda desafiador. As estimativas da Febraban apontam para uma expansão de 8,4% a/a na carteira de crédito para 2024.
Crédito: Crescimento impactado pelo crédito livre para empresas
O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 5,8 trilhões em dezembro de 2023, registrando uma retração de -0,3% em relação ao mês anterior e expansão de +7,6% na comparação anual.
No mês, observamos uma redução de 2,2% m/m no saldo de crédito voltadas para empresas (pessoas jurídicas), atingindo um total de R$ 2,22 trilhões. O crédito para as pessoas físicas registrou um aumento de 1% m/m, atingindo R$ 3,55 trilhões. O crédito destinado a empresas e pessoa física aceleraram em relação a dez/23, registrando altas de +3,6% a/a e +10,2% a/a, respectivamente.
Crédito livre atingiu em R$ 3,35t em Jan/24, apresentando uma queda de -0,9% m/m e alta de +4,6% a/a. O crédito destinado para as empresas atingiu o total de R$ 1,41t (-3,6% m/m e +0,1% a/a), impactado por desconto de duplicatas (-17,5% m/m) e desconto de faturas de cartão de crédito (-7,2% m/m). Em sentido oposto, o crédito livre do segmento pessoa física expandiu +1,1% m/m e +8,1% a/a, puxado pelos incrementos das carteiras de crédito pessoal consignado para beneficiários do INSS (+2,6% m/m), crédito pessoal não consignado (+2,1% m/m), financiamento para aquisição de veículos (+1,4% m/m) e cheque especial (+9,1% m/m)
Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,42t (+0,6% m/m e +12% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas físicas (+0,8% m/m e +12,9% a/a) e no segmento de pessoas jurídica (+0,2% m/m e +10,2% a/a).
Inadimplência: Leve aumento puxado por Empresas
A inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) aumentou levemente m/m em 0,1pp e 0,1 pp a/a para 3,27%.
A inadimplência no segmento de empresas chegou a 2,4%, com expansão de +0,1pp m/m e +0,7pp a/a. Por outro lado, o segmento de pessoa física apresentou estabilidade na comparação mensal e leve queda de -0,3pp a/a, ficando em 3,5%.
No crédito livre, a inadimplência mostrou aumento de +0,1 pp m/m, para 4,6%. No segmento crédito livre de empresas, o indicador chegou a 3,4% (+0,2pp m/m e +1,2pp a/a), enquanto o segmento de pessoas físicas apresentou um indicador de 5,5% (estável m/m e -0,6pp a/a).
Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito com recursos livres ficou em 7,27% (-0,14pp m/m e -0,95pp a/a), que inclui a modalidade do parcelado sem juros. A inadimplência no cartão de crédito rotativo sofreu uma leve alta na comparação mensal (+0,03pp m/m), chegando a 53,9%, patamar ainda elevado. A inadimplência no cartão de crédito parcelado segue mais controlada com redução de -0,33pp m/m e aumento de 1,18pp a/a, chegando em 9,7%. Acreditamos que podemos ter um aumento sequencial de inadimplência no cartão nos próximos meses, influenciada pelo efeito sazonal de compras de final de ano e posteriores atrasos nos meses subsequentes.
Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou taxa de inadimplência de 5,15% (-0,04pp m/m e +0,38 pp a/a).
Crédito pessoal não consignado: O crédito pessoal não consignado apresentou retração de -0,08pp m/m e -1,71pp a/a, com um total de 6,15%.
Cheque especial: A inadimplência do segmento pessoa física ficou em 13,08% (-0,61pp m/m e -0,32pp a/a).
Cobertura: No mês de dezembro, os bancos perderam cobertura (saldo de provisões para fazer frente aos créditos em atraso) em -1,1pp m/m e -9,8 pp a/a, chegando em 189,6%.
Comprometimento/Endividamento de renda: Em melhora, mas ainda elevado
O endividamento das famílias continuou em patamares altos de 48% em janeiro de 2024, mas vem diminuindo, com quedas de -0,2pp m/m e -1,0pp a/a. Já o comprometimento de renda também continua em patamares elevados em 26%, mas também vem apresentando sinais de melhora (-0,5pp m/m e -1,2pp a/a).
Spread: Alto, mas em queda
A taxa média de juros das novas concessões em Jan/24 atingiu 28,1% aa, redução de -0,2pp m/m e -3,1pp a/a. Já o spread bancário chegou a 19,4% aa (-0,3pp m/m e -1,0pp a/a). O spread bancário no segmento de pessoas físicas teve uma redução de -0,9pp m/m e -1,7pp a/a, ficando em 24,2%, enquanto o segmento de empresas apresentou aumento de 1,0pp m/m e redução de –0,5pp a/a, chegando a 9,7%.
Market Share de Crédito: Bancos privados seguem perdendo share
Em Jan/24, as instituições financeiras privadas perderam market share na comparação mensal (-0,3pp) e anual (-0,3pp), chegando a 42,4% de participação de mercado.
As instituições financeiras públicas (ex-BNDES) ganharam participação de mercado no mês (+0,3pp m/m) e no ano (+0,9 pp a/a), alcançando 35% de market share.
Concessões de crédito atingiram o total de R$ 580,7b, retraindo -9,7% m/m, mas avançando +10,6% a/a, a dinâmica de concessões segue piorando m/m, com aumento no ritmo de crescimento. As concessões livres diminuíram -8,1% m/m, mas avançaram em 10,6% a/a. Dentro dessa categoria, o segmento de pessoas físicas foi destaque positivo, com avanço de +3,8% m/m e +13,3% a/a. Empresas retraiu na comparação mensal e avançou na anual (-22,4% m/m e +6,6% a/a). O crédito direcionado continua a trajetória de queda t/t, com o segmento de pessoas físicas caindo -18,1% m/m, mas crescendo +8,7% a/a, e empresas caindo -36,9% m/m, mas com aumento de +13,9% a/a. No total, as concessões direcionadas caíram -24,9% m/m e aumentaram 10,2% a/a.
Duration: o prazo médio de duração de crédito livre apresentou queda mensal para o crédito livre voltado para pessoa física (-1,3% m/m), atingindo 59,9 meses, e também para empresas, registrando uma retração de -1% m/m no segmento, chegando a 29,4 meses. Na comparação anual, houve queda de -2,7% a/a para pessoa física, já empresas teve forte expansão +19,9% a/a.
Por fim, o prazo do crédito direcionado para pessoas físicas apresentou queda de -0,4% m/m e aumento de 2% a/a, atingindo 271,5 meses. Já para o segmento empresas, houve retração no duration de -1,4% m/m e expansão de 4,7% a/a para 90 meses.