Em resumo, o mês de junho apresentou novamente um movimento de desaceleração do crédito na comparação anual, reflexo de uma inadimplência elevada, mas com sinais de estabilidade no mês, além de um cenário macroeconômico ainda conturbado. A inadimplência da carteira de crédito do SFN ficou em 3,6%, apresentando uma estabilidade na comparação mensal, mas com aumento de 0,9pp a/a. A inadimplência no cartão de crédito rotativo, mostrou arrefecimento para 49% (ainda em patamares elevados) com queda de -5 pp m/m, após altas sequenciais, mas ainda com evolução de +7 pp a/a. O spread bancário segue alto com expansão na comparação anual, mas com um leve arrefecimento na visão mensal. O comprometimento de renda continua elevado, próximo de 30%, mas com estabilidade na comparação mensal. Por fim, as instituições financeiras privadas seguiram perdendo market share.
Crédito: Desaceleração continua
O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu o montante de R$ 5,4 tri (+0,1% m/m e +8,9% a/a). O crescimento anual apresentou mais uma desaceleração em relação ao mês anterior, atingindo o patamar de um dígito contra a expansão de 10,4% a/a em mai/23.
O mês de junho foi beneficiado pelo crescimento no crédito destinado às empresas (+1,0% m/m e +3,5% a/a), atingindo o total de R$ 2,1 tri. Por outro lado, o crédito às famílias reduziu 0,4% m/m com o total de R$ 3,2 tri, mas com expansão de 12,8% na comparação anual.
- Crédito livre ficou em R$ 3,2 tri em jun/23, apresentando uma expansão de -0,2% m/m e +6,3% a/a. O crédito destinado para as empresas atingiu o total de R$ 1,4 tri (+1,4% m/m e +1,1% a/a), impulsionado pela expansão das carteiras de desconto de duplicatas, outros créditos livres e adiantamentos de contratos de câmbio. Já o crédito destinado às pessoas físicas ficou em R$ 1,8 tri, com queda mensal de 1,3% m/m, mas com expansão de 10,6% a/a. A variação mensal foi bem disseminada, mas com destaque para o crédito pessoal não consignado, cartão de crédito e crédito consignado para aposentados e pensionistas do INSS.
- Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,2 tri (+0,5% m/m e +13% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas jurídicas (+0,1% m/m e +8,1% a/a) e no segmento de pessoas físicas (+0,7% m/m e +15,7% a/a).
Inadimplência: Sinais de início de estabilidade
A inadimplência da carteira de crédito do SFN ficou em 3,6%, apresentando uma estabilidade na comparação mensal, mas com aumento de 0,9pp a/a. No segmento de pessoas jurídicas (empresas), a inadimplência ficou em 2,5% (estável m/m e +1,1pp a/a). Já o segmento de pessoas físicas ficou em 4,2% (-0,1pp m/m e +0,7pp a/a).
No crédito livre, a inadimplência atingiu 4,9% (estável m/m e +1,3pp a/a). No segmento de empresas, o indicador chegou a 3,1% (+0,1pp m/m e +1,4pp a/a), enquanto o segmento de pessoas físicas apresentou um indicador de 6,3% (estável m/m e +1,1pp a/a).
- Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito com recursos livres ficou estável m/m em 8,7%, com evolução de +2,1 pp a/a. A inadimplência no cartão de crédito rotativo, mostrou arrefecimento para 49%, após altas sequenciais, com queda de -5 pp m/m, mas ainda com evolução de +7 pp a/a. A inadimplência no cartão de crédito parcelado segue em altos patamares, em 9,9% (+1,2 pp m/m e +3,5 pp a/a).
- Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou taxa de inadimplência de 5,5% (-0,2 pp m/m e +0,7 pp a/a).
- Crédito pessoal não consignado: O crédito pessoal não consignado segue com inadimplência estável m/m pelo quinto período seguido, mas com evolução de +1,1 pp a/a.
- Cheque especial: A inadimplência para pessoa física ficou em 13% (-0,2 pp m/m e +0,4 pp a/a).
Cobertura: No mês de junho, os bancos reforçaram a cobertura em +1,5 pp m/m, ficando em 183,1%. Já no comparativo anual, os bancos seguem com índice de cobertura inferior em -34,9 pp.
Comprometimento/Endividamento de renda
O endividamento das famílias continuou em patamares altos, apresentando um total de 48,8% em mai/23 (+0,2pp m/m e -1,0pp a/a). Já o comprometimento de renda também continua em patamares elevados em 28,1% (estável m/m e +1,9pp a/a).
*Os dados de comprometimento de renda e endividamento das famílias são defasados em um mês em relação aos dados de crédito
Recuperação judicial: Alívio na visão mensal
As dívidas negativadas caíram -1,1% m/m, mas ainda continuam altas em R$ 116,2b, crescendo 15,1% a/a em R$ 15,2b.
O número de empresas com requerimento para recuperação judicial (RJ) arrefeceu expressivamente no mês de junho na comparação mensal, apesar crescimento anual (-22,7% m/m e +61,4% a/a). Os destaques foram:
- MPE (Micro e Pequena Empresa): O número de MPEs que entraram com requerimento de recuperação judicial caiu para 63 empresas (-7,4% m/m e +65,8% a/a);
- Médias empresas: 26 empresas solicitaram recuperação judicial (-31,6% m/m e +85,7% a/a);
- Grandes empresas: 3 empresas entraram com requerimento de RJ (-76,9% m/m e -40% a/a).
Spread: Uma leve redução mensal
O spread bancário apresentou um arrefecimento de 0,1pp m/m, mas ainda com uma boa expansão anual de 4,2pp, atingindo o total de 22,1% aa. O segmento de pessoas físicas apresentou uma redução de 0,2pp m/m no spread, enquanto o segmento de empresas ficou estável na comparação mensal. Já na variação anual, ambos os segmentos apresentaram crescimento de 5,1pp e 1,1pp, respectivamente.
Market share de Crédito: Bancos privados continuam com perda de espaço
As instituições financeiras privadas seguiram perdendo market share (-0,1pp m/m e -0,6pp a/a), enquanto as instituições públicas (ex-BNDES) apresentaram estabilidade no mês, mas com expansão de 1,1pp a/a.
Concessões de crédito atingiram o total de R$567,4b, aumento de 3,1% m/m e 3,5% a/a. O destaque mensal veio das concessões direcionadas que expandiram 10,9% m/m, puxado pelo segmento de pessoas físicas com alta de 18,8% m/m. As concessões livres também agregaram para o resultado mensal com crescimento de 2,4% m/m.
- Cartão de crédito: As concessões totais de cartão de crédito para pessoa física atingiram o montante de R$ 203,6b (-1,8% m/m e +12,4% a/a), puxado pelo cartão de crédito não financiado (parcelado sem juros). Já para as empresas, o cartão de crédito total ficou em R$ 17,8b (+8,2% m/m e +42,5% a/a), impulsionado pelo rotativo e financiado.
Duration: o prazo médio de duração de crédito apresentou crescimento no m/m para o crédito livre voltado para pessoa física (+0,2%) e empresas (+13,3%). Na comparação anual, houve uma redução de 0,3% para pessoa física, mas com expansão de 9,6% para empresas. Por fim, o crédito direcionado apresentou queda de 0,2% m/m e a/a para pessoas físicas, enquanto expandiu 7,8% m/m e 15,6% a/a para empresas.