Em junho de 2025, os dados divulgados pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apontaram para uma desaceleração do ritmo de crescimento anual do crédito, refletindo os efeitos da política monetária contracionista e provavelmente por perspectivas de piora na qualidade do crédito. O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,5% m/m e +10,7% a/a, abaixo do ritmo de crescimento registrado em maio (+11,8% a/a). A desaceleração foi observada tanto no crédito a pessoas jurídicas, que desacelerou de +10,9% para +8,8% a/a, quanto no crédito a pessoas físicas, que passou de +12,4% para +11,9% a/a.
As concessões de crédito totalizaram R$ 691,4 bilhões em junho, com recuo de -1,7% m/m, mas ainda com alta de +7,5% a/a.
Após cinco meses consecutivos de alta, a inadimplência apresentou estabilidade em junho (+0,01 pp m/m), encerrando o mês em 3,55%. Ainda assim, na comparação anual, o indicador avança +0,37 pp a/a. No crédito livre, a tendência de deterioração persiste: a inadimplência subiu para 4,96% (+0,05 pp m/m), puxada principalmente pela carteira de pessoas físicas, que atingiu 6,3% (+0,1 pp m/m; +0,8 pp a/a). Apesar da estabilidade no consolidado, o índice segue em patamar historicamente elevado, permanecendo como ponto de alerta.
O crédito rural segue como principal fonte de preocupação. A inadimplência da linha subiu pelo quarto mês consecutivo, chegando a 3,46% em maio (+0,2 pp m/m; +1,9 pp a/a). O cenário é especialmente desafiador para o Banco do Brasil, cuja carteira tem cerca de um terço de exposição ao setor (cerca de R$ 406 bilhões) — ponto já discutido em nossa prévia do 2T25 (link para o relatório).
O spread bancário manteve-se praticamente estável em 20,4% em maio (+0,03 pp m/m; +1,8 pp a/a), refletindo a queda de -0,04 pp na taxa de empréstimo, compensada por uma redução de -0,07pp na taxa de captação.
Já o endividamento das famílias atingiu 49,0% (+0,1 pp m/m; +1,4 pp a/a) e o comprometimento de renda avançou para 27,8% (+0,4 pp m/m; +1,9 pp a/a), ambos permanecendo em níveis historicamente elevados.
Por fim, no que diz respeito à participação de mercado, as instituições privadas nacionais registraram leve ganho de +0,04 pp m/m, enquanto as instituições públicas (ex-BNDES) avançaram +0,08 pp m/m.
Crédito: Crescimento Desacelera em Junho
O saldo total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu +0,5% m/m em junho, totalizando R$ 6,7 trilhões, com expansão de +10,7% a/a, desacelerando em relação ao ritmo de crescimento observado em maio (11,8% a/a).
O avanço no mês foi sustentado tanto pelas operações com pessoas físicas (PF), que somaram R$ 4,1 trilhões (+0,4% m/m), quanto com pessoas jurídicas (PJ), cujo saldo atingiu R$ 2,5 trilhões (+0,6% m/m). Na comparação anual, o crédito às famílias cresceu +11,9% a/a (vs. +12,4% em maio) e o crédito às empresas avançou +8,8% a/a (vs. +10,9% em maio), ambos em desaceleração.
O estoque de crédito com recursos livres totalizou R$ 3,9 trilhões, avançando +0,4% m/m e +9,8% a/a. O desempenho no mês foi sustentado por ambos os segmentos, com crescimento tanto nas operações com pessoas físicas, quanto com empresas.
O crédito livre para PF atingiu R$ 2,3 trilhões, com alta de +0,3% m/m e +12,4% a/a. O crescimento mensal foi puxado pelas modalidades de cartão de crédito rotativo (+2,1% m/m), cheque especial (+1,0% m/m) e crédito consignado privado (+2,6% m/m), produto relançado este ano que já atingiu uma carteira de R$ 46,4 bilhões (+15,1% a/a). Por outro lado, observamos uma redução da carteira de crédito consignado INSS (-1,1% m/m), refletindo os impactos das medidas restritivas implementadas após a identificação de fraudes na modalidade.
O crédito livre para PJ avançou +0,6% m/m e +6,2% a/a, totalizando R$ 1,6 trilhão. O crescimento foi favorecido pelo aumento mensal nas carteiras de adiantamento de contrato de câmbio – ACC (+4,3% m/m), cartão de crédito rotativo e financiamento (+35,7% m/m) e outros créditos livres (+2,4% m/m), enquanto a carteira de desconto de duplicatas e recebíveis recuou -1,9% m/m, impactada pelo aumento da alíquota do IOF sobre operações de risco sacado temporariamente em junho.

Inadimplência: Estável no Mês, Ainda em Níveis Altos
A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN), considerando atrasos acima de 90 dias, permaneceu estável em 3,6% em junho (+0,01 pp m/m), mantendo-se em patamar elevado. Na comparação anual, o indicador mostra deterioração mais relevante, com alta de +0,4 pp a/a.
No crédito livre, a inadimplência segue em alta, avançando para 4,95% (+0,05 pp m/m; +0,50 pp a/a). O segmento de pessoas físicas (PF) segue como principal fonte de pressão, atingindo 6,3% (+0,1 pp m/m; +0,8 pp a/a), enquanto nas operações com pessoas jurídicas (PJ) o índice permaneceu estável em 3,1%.
No crédito direcionado, a inadimplência recuou -0,05 pp m/m, mas ainda acumula alta de +0,22 pp a/a, alcançando 1,61%. Destacamos que a inadimplência no crédito rural PF segue em trajetória de deterioração, atingindo 3,46% em junho, com alta de +0,2pp m/m e +1,9pp a/a.


Inadimplência por Modalidade
No cartão de crédito total com recursos livres — que inclui o parcelado sem juros — a inadimplência atingiu 8,5% em junho (+0,1 pp m/m; +1,1 pp a/a).
Destacamos a melhora sequencial no cartão rotativo, cuja inadimplência recuou -1,2 pp m/m, embora ainda acumule forte alta de +4,5 pp a/a, alcançando 57,6% — ainda em um nível historicamente elevado. Já o cartão parcelado apresentou deterioração, com inadimplência de 13,0% (+0,9 pp m/m; +2,0 pp a/a).
No crédito para aquisição de veículos por PF, o índice permaneceu estável m/m em 5,2%, mas ainda acima do observado em junho/24 (+0,6 pp a/a). No crédito pessoal não consignado, a inadimplência avançou para 7,5% (+0,3 pp m/m; +1,6 pp a/a), enquanto no cheque especial atingiu 13,9%, com alta de +0,04 pp m/m e +1,5 pp a/a.
Cobertura
O índice de cobertura — que mede o saldo de provisões em relação aos créditos vencidos há mais de 90 dias — registrou uma pequena queda em junho, recuando -0,57 pp m/m, mas com uma alta de +14,14 pp a/a, para 202,8%.

Endividamento/Comprometimento de Renda: Em Patamares Historicamente Altos
Em maio (último dado disponível), o endividamento das famílias brasileiras alcançou 49,0% da renda, registrando alta de +0,1 pp m/m e +1,4 pp a/a. O indicador segue em trajetória de crescimento e permanece em níveis historicamente elevados.
O comprometimento de renda avançou +0,4pp m/m e +1,9pp a/a, atingindo 27,8%, reforçando a pressão sobre a capacidade de pagamento das famílias.
Spread: Estabilidade Mensal
A taxa média de juros das concessões de crédito do SFN alcançou 31,5% a.a. em junho, registrando leve queda de -0,04 pp m/m, mas ainda acumulando alta de +3,62 pp a/a. A retração mensal foi puxada pelas operações com pessoas jurídicas (PJ), cuja taxa média recuou marginalmente para 21,2% a.a. (-0,12 pp m/m), mas ainda com alta de +2,85 pp a/a. Já nas operações com pessoas físicas (PF), a taxa manteve-se estável em 36,3% a.a. (+0,03 pp m/m), ainda com alta de +3,76 pp a/a. A taxa de captação recuou -0,1 pp m/m, mas ainda com alta de +1,9 pp a/a, alcançando 11,1%.
Com isso, o spread bancário ficou estável em 20,4% em junho (+0,03 pp m/m; +1,8 pp a/a), refletindo o equilíbrio entre a redução das taxas finais ao tomador e a queda sequencial no custo de captação. No segmento de pessoas físicas, o spread avançou para 25,7% (+0,04 pp m/m; +1,92 pp a/a), enquanto nas operações com empresas atingiu 9,0% (+0,10 pp m/m; +0,94 pp a/a).

Market Share de Crédito: Ganho Sequencial de Share das Instituições Públicas
Em relação à participação de mercado, as instituições privadas registraram alta de +0,04 pp m/m e +1,26 pp a/a, aumentando seu market share para 44,4%.
As instituições públicas (ex-BNDES) aumentaram sua participação em +0,08 pp m/m, mas ainda com perda na comparação anual (-0,44 pp a/a), totalizando 34,3% de market share.

Concessão de Crédito: Queda m/m e Desaceleração do Crescimento a/a
As concessões de crédito totalizaram R$ 691 bilhões em junho, com recuo de -1,68% m/m, mas ainda com alta de +7,49% a/a.
As concessões livres somaram R$ 624 bilhões, recuando -1,6% m/m, mas com alta de +7,5% a/a. O desempenho mensal foi impactado pela redução tanto das operações com pessoas jurídicas (PJ), que caíram -2,3% m/m, quanto das operações com pessoas físicas (PF), que recuaram -1,1% m/m.
O crescimento do volume concedido passou a desacelerar na base anual, com alta de +7,5% a/a (vs. +11,6% em maio). A principal contribuição veio da forte desaceleração no segmento de empresas, que avançou apenas +3,1% a/a (vs. +19,0% em maio). Em contrapartida, as concessões para famílias aceleraram, crescendo +11,2% a/a (vs. +6,5% em maio).
Por fim, as concessões direcionadas somaram R$ 66,9 bilhões, recuando -2,4% m/m, mas ainda com alta de +7,3% a/a. O desempenho mensal negativo foi puxado pelas operações com empresas (-8,7% m/m), enquanto as operações com famílias avançaram +2,1% m/m. Na comparação anual, o destaque foi o segmento de empresas, que cresceu +12,6% a/a, totalizando R$ 25,8 bilhões, enquanto as concessões para famílias avançaram +4,2% a/a, atingindo R$ 41,1 bilhões.
