Em resumo, a carteira de crédito do sistema bancário segue em desaceleração, reflexo do aumento da inadimplência, impactada pela deterioração macroeconômica com efeitos nocivos ao comprometimento de renda para honrar dívidas, redução do poder de consumo da população e aumento recente de pedidos de recuperação judicial das empresas. O endividamento das famílias chegou a quase 50% com um comprometimento de renda de aproximadamente 30%. Por fim, os bancos públicos continuam ganhando espaço no mercado frente aos privados.
Crédito: Continua a desacelerar
O saldo das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) atingiu a marca de R$ 5,4 tri em mar/23, apresentando um aumento de +0,5% m/m e +12,0% a/a. O crescimento foi puxado pelo crédito para pessoa física que aumentou em +0,8% m/m e +16,5% a/a atingindo o total de R$ 3,3 tri e pelo crédito destinado às empresas que cresceu +0,1% m/m e +5,5% a/a chegando a R$ 2,1 tri. Percebe-se que saldo de crédito tem tido uma desaceleração, reflexo de um aumento na inadimplência tanto em pessoa física quanto em empresas. Entendemos que o aumento da inadimplência está relacionado com a deterioração do cenário macroeconômico brasileiro que envolve diversos fatores, refletindo na forte queda do poder de consumo da população, além de um aumento recente nos pedidos de recuperação judicial.
- Crédito livre totalizou R$ 3,2 tri, com o crédito para pessoa física em R$ 1,8 tri em mar/23 (+0,6% m/m e +15,4% a/a) e com destaque para o cartão de crédito que cresceu 1,8% m/m). Já para o crédito corporativo totalizou R$ 1,4 tri (+0,3% m/m e +4,0% a/a), com destaque da carteira de desconto de duplicatas (+7,5% m/m) que foi impactada pela sazonalidade do período e aumento das carteiras de cartão de crédito (19,5% m/m).
- Crédito direcionado atingiu o total de R$ 2,2 tri em mar/23 (+0,6% m/m e +14,6% a/a), sendo que o segmento pessoa jurídica com R$ 736b caiu -0,3% m/m e subiu +8,4% a/a. Já o segmento de crédito pessoa física com R$ 1,46t apresentou expansão de +1,1% m/m e +18,0% a/a.
Inadimplência: Começo de uma estabilização?
A inadimplência (acima de 90d) fechou estável m/m, mas com aumento de 0,7pp a/a registrando 3,3% no SFN, sendo que empresas e pessoas físicas ficaram estáveis próximo de 2% e 4%, respectivamente. O aumento no a/a no indicador de inadimplência acima de 90 dias foi puxado pelo crédito livre para pessoa física (+1,3pp a/a).
Comprometimento de Renda: Alto, porém dando sinais de estabilidade
Em fev/23, o endividamento das famílias com o SFN chegou a 48,6%, apresentando um alívio de 0,3pp m/m e 1,2pp a/a. Por outro lado, o comprometimento de renda elevou em 0,1pp m/m e 0,8pp a/a, ficando em 27,4%.
Recuperação Judicial: Historicamente baixo, mas com tendência de alta
Ainda, a deterioração macroeconômica brasileira resultou em um aumento recente dos requerimentos de recuperação judicial, com o caso emblemático de Americanas no começo desse ano que influenciou numa queda de oferta de crédito por parte dos bancos, levando algumas outras empresas entrarem com pedidos de recuperação judicial.
Spread: Quanto maior o risco, maior o spread
O spread bancário total ficou em 20,9%, ficando estável t/t e apresentando uma desaceleração no a/a, mas com um aumento de +3,9pp a/a. O spread corporativo ficou em 9,7% (+0,1 pp m/m e +1,4 pp a/a), acreditamos que o aumento nos últimos meses esteja relacionado ao caso de Americanas. Já o pessoal ficou em 26,7% (-0,1 pp m/m e 4,5 pp a/a), acreditamos que a queda m/m possa estar relacionado com a maior seletividade dos bancos nas concessões de crédito, ofertando produtos de menores riscos. Por fim, a taxa de empréstimo das novas concessões de crédito atingiu o total de 31,6% em mar/23 (+0,5pp m/m e +5,0pp a/a), seguindo o movimento de aumento do custo de funding (+0,4pp m/m e +1,0pp a/a).
Acreditamos que os níveis de spreads atuais devam continuar altos devido a manutenção da taxa Selic em patamar elevado e o contínuo aumento da inadimplência nos últimos meses.
Market Share de Crédito: Bancos públicos continuam ganhando mercado
Com 43,0% de market share nesse mês, os bancos públicos continuaram a ganhar share (+0,04pp m/m +0,6 pp a/a). Já, os bancos privados nacionais permanecem perdendo espaço com 42,3% do total de crédito (-0,1 pp m/m e -0,3 pp a/a), assim como as instituições financeiras estrangeiras que apresentaram 14,7% de market share (+0,1 pp m/m e -0,3 pp a/a).
Concessões totalizaram R$ 572,6b em mar/23, com aumento sazonal de +22,3% m/m, mas apenas +2,5% a/a. As concessões de linhas de crédito livres apresentaram uma alta de +21,0% m/m e +1,2% a/a, impulsionado pelo crédito corporativo na comparação mensal, e na concessão de crédito direcionado registrou crescimento de +36,5% m/m e +17,3% a/a, com destaque para a pessoa física e empresas.
Duration o prazo médio de duração do crédito vem contraindo nos segmentos de crédito pessoa física tanto no segmento direcionado (-1,8% m/m e -1,5% a/a), quanto no livre (-0,9 m/m e –0,1% a/a). Já o crédito corporativo apresentou extensão dos prazos no livre de +4,9% m/m e +4,8% a/a, enquanto no direcionado registrou aperto na comparação mensal de -27,9% m/m, porém ainda apresenta alta de +9.7% a/a.