Os dados de crédito do Banco Central de novembro apontam para mais um mês de desaceleração do crescimento de crédito na comparação anual, mas já começando a se estabilizar. Esse cenário de desaceleração ainda reflete uma inadimplência persistentemente elevada. Por outro lado, começamos a notar um melhor controle da inadimplência, já começando a se estabilizar perto dos níveis atuais. Acreditamos que com a queda da inadimplência e o ciclo de redução da taxa de juros, o crescimento de crédito deve voltar a acelerar, de forma gradual por conta de um cenário econômico ainda desafiador.
A inadimplência da carteira de crédito registrou estabilidade em relação ao mês anterior, ficando em 3,4%. Entretanto, na comparação anual ainda vemos um aumento de 0,5pp. Houve uma retração na inadimplência entre as pessoas físicas (PF) 0,1pp m/m, enquanto a inadimplência entre as pessoas jurídicas (PJ) aumentou em 0,1pp m/m. No que diz respeito ao cartão de crédito rotativo, a inadimplência diminuiu em -1,9pp em relação ao mês anterior, atingindo 53%, níveis ainda extremamente elevados.
O spread bancário permanece elevado, mas apresentou queda marginal na comparação mensal. Por outro lado, o comprometimento da renda continuou melhorando, diminuindo em termos mensais, embora ainda permaneça em níveis elevados, próximo de 30%. Por fim, as instituições financeiras privadas ganharam market share no mês.
Crédito: Tendência de desaceleração continua
O saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 5,7 trilhões em novembro de 2023, registrando um aumento de 0,9% em relação ao mês anterior e desacelerando para 7,1% em termos anuais, em comparação com os 7,5% de crescimento em outubro.
No mês, observamos um avanço de 0,8% m/m no saldo de crédito voltadas para empresas (pessoas jurídicas), atingindo um total de R$ 2,2 trilhões. O crédito para as pessoas físicas registrou um aumento de 0,9% m/m, atingindo R$ 3,4 trilhões.
No comparativo anual, notamos uma leve desaceleração em ambos os segmentos em comparação com outubro. O crédito destinado a empresas registrou um aumento de +3,8% a/a (estável comparado a outubro). O crédito PF também desacelerou, com um aumento de +9,2% a/a (em comparação com +9,6% a/a em outubro).
Crédito livre atingiu em R$ 3,3t em nov/23, apresentando uma alta de 1,1% m/m e de 5,0% a/a. O crédito destinado para as empresas atingiu o total de R$ 1,4t (+0,7% m/m e +1% a/a). As linhas de maior contribuição foram, outros créditos livres (+8,8%), desconto de duplicatas e outros recebíveis (+4,2%) e cartão de crédito total (+7,0%).
Crédito direcionado atingiu o montante de R$ 2,3t (+0,7% m/m e +10,2% a/a), reflexo da expansão ocorrida no segmento de pessoas jurídicas (+0,7% m/m e +9,1% a/a) e no segmento de pessoas físicas (+0,6% m/m e +10,8% a/a).
Inadimplência: Queda continua
A inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou estável m/m, mas com um avanço de 0,5 pp a/a para 3,4%.
A inadimplência do segmento empresas chegou a 2,6%, com aumento 0,1 pp m/m e com evolução de 1,1pp a/a, enquanto o segmento de pessoas físicas chegou em 3,6% (-0,1 pp m/m e estável a/a).
No crédito livre, a inadimplência mostrou queda de 0,1 pp m/m, para 4,8% (+0,5pp a/a). No segmento crédito livre de empresas, o indicador chegou a 3,6% (+0,1pp m/m e +1,5pp a/a), enquanto o segmento de pessoas físicas apresentou um indicador de 5,7% (-0,2pp m/m e -0,1pp a/a).
- Cartão de crédito: A inadimplência para pessoa física no cartão de crédito com recursos livres ficou em 7,5% (-0,6pp m/m e -0,3pp a/a), que inclui a modalidade do parcelado sem juros. A inadimplência no cartão de crédito rotativo, melhorou em 1,9pp m/m e aumento de +9,5pp a/a, chegando a 53,0%, patamar ainda alto. A inadimplência no cartão de crédito parcelado segue mais controlada com redução de 0,3pp m/m, mas aumento de 2,3pp a/a, chegando em 9,7%.
- Aquisição de automóveis: O crédito destinado para aquisição de veículos para pessoa física apresentou taxa de inadimplência de 5,3% (estável m/m e +0,1 pp a/a).
- Crédito pessoal não consignado: O crédito pessoal não consignado apresentou retração de 0,3pp m/m e 1,2pp a/a, com um total de 6,3%.
- Cheque especial: A inadimplência do segmento pessoa física ficou em 15,7% (+2,9pp m/m e +3,2pp a/a).
Cobertura: No mês de novembro, os bancos perderam cobertura (saldo de provisões para fazer frente aos créditos em atraso) em -0,7pp m/m e -17,5 pp a/a, chegando em 183,2%.
Comprometimento/Endividamento de renda
O endividamento das famílias continuou em patamares altos, apresentando um total de 47,5% em out/23, melhorando 0,1pp m/m e -2,1 pp a/a. Já o comprometimento de renda também continua em patamares elevados em 27,2%, mas com sinais de melhora (-0,1pp m/m e -0,5pp a/a).
Spread
A taxa média de juros das novas concessões em nov/23 atingiu 29,5% aa, redução de -0,2pp m/m e -1,6pp a/a. Já o spread bancário chegou a 20,4% aa (-0,2pp m/m e +0,1pp a/a). O spread bancário no segmento de pessoas físicas teve uma redução de -0,8pp m/m e -1,2pp a/a, enquanto no segmento de empresas apresentou queda de -0,6pp m/m e 1,0pp a/a.
Market Share de Crédito
Em nov/23 as instituições financeiras privadas apresentaram um movimento contrário ao mês anterior, recuperando market share no mensal (+0,1pp m/m), mas mantendo a perda no comparativo anual (-0,1pp a/a), chegando a 42,7% de participação de mercado.
As instituições financeiras públicas (ex-BNDES) perderam as suas participações de mercado no mês (-0,1pp m/m), mas com crescimento no comparativo anual (+0,4 pp a/a), alcançando 34,5% de market share.
Concessões de crédito atingiram o total de R$ 597,6b, avançando +2,7% m/m e +5,6% a/a, a dinâmica de concessões segue piorando m/m, com diminuição do ritmo de crescimento. As concessões livres aumentaram 5% m/m, e 6,3% a/a. Dentro dessa categoria, o segmento de pessoas físicas foi destaque positivo, com avanço de +4,4% m/m e +8,4% a/a, empresas também avançou (+5,9% m/m e +3,4% a/a). O crédito direcionado continua a trajetória de queda, com o segmento de pessoas físicas caindo -11,8% m/m e -2,6% a/a e empresas caindo -21,9% m/m, mas com um pequeno aumento de +1,1% a/a. No total, as concessões direcionadas caíram -15,5% m/m e -1,4% a/a.
Duration: o prazo médio de duração de crédito livre apresentou queda no m/m para o crédito livre voltado para pessoa física (-0,5%), atingindo 60,4 meses, mas registrando um avanço de 8,5% no segmento de empresas para 31,2 meses. Na comparação anual, houve queda de -1,1% para pessoa física, já empresas teve forte expansão +23,5%.
Por fim, o prazo do crédito direcionado apresentou queda de 0,3% m/m e 1,9% a/a para pessoas físicas, atingindo 260,2 meses. Já para o segmento empresas, houve retração no duration de -21,8% m/m e expansão de 12,8% a/a para 95 meses.