Mais uma vez, o destaque positivo deve ser o segmento de pesados, com volumes fortes de locação, bom nível de rentabilidade e manutenção do bom volume de vendas em concessionárias reportado no 3T22. A entrada do Euro 6 acabou sendo positiva para quem já havia endereçado um bom volume de compras Euro 5. Assim, o Capex efetivo no trimestre ainda carrega consigo um preço médio de compra mais baixo do que devemos observar em 2023. Além disso, a nova precificação dos caminhões zero km, torna a locação mais atrativa e permite novos patamares de tarifas nos contratos.
Já para as locadoras de leves, esperamos bons volumes de compras de veículos, devido ao enfraquecimento da demanda no varejo. No RAC, nossa expectativa é de um crescimento mais modesto. Mesmo sendo um trimestre sazonalmente mais forte, esperamos uma manutenção nos volumes de diárias com aumento nas tarifas. A mesma estratégia observada no setor aéreo deve pairar sobre o segmento de locação de carros. Isso significa que devemos observar novos aumentos nas tarifas, em troca de uma taxa de ocupação abaixo da média histórica do período.
No GTF, os bons volumes de carros comprados ao longo do 3T22 e do 4T22 ajudarão a reduzir o backlog e consequentemente a aumentar a receita no segmento. A entrada de um volume significativo de novos contratos também deve ajudar a puxar as tarifas médias para cima. Já em seminovos, a queda na FIPE deve continuar pressionando a margem bruta do segmento.
O cenário de juros altos e desaceleração econômica eminente tem contribuído para o aumento da inadimplência relacionada ao financiamento de veículos. Com os juros acima de 27% a.a. para pessoa física, observamos um substancial enfraquecimento da demanda de veículos no varejo.
Em relação à produção de automóveis, apesar dos problemas ainda existentes relacionados a semicondutores, as montadoras já melhoraram seus níveis de produção em relação ao que vimos durante o início do ano passado. Com isso, acreditamos que a falta de carros de entrada não será mais um problema para as empresas do setor de locação.
Com a produção melhor e vendas enfraquecendo, as locadoras acabam sendo beneficiadas devido a maior disponibilidade de veículos para compra e melhores condições de negociação com as montadoras. Ou seja, além de conseguirem mais desconto, conseguem escolher qual o mix de carros irão comprar. A maior disponibilidade de carros de entrada deve refletir em uma queda no preço médio de compra.
O ponto negativo do trimestre provavelmente deverá ser a contínua queda dos preços da FIPE. O IPCA de dezembro divulgado nos mostra uma continuação da abertura de curva entre o preço dos automóveis novos e usados, onde o primeiro ainda se mantém em níveis elevados, e o segundo continua seu movimento de normalização. Apesar de já esperado, esse movimento aconteceu relativamente mais rápido do que esperávamos, o que ajudou a pressionar as margens brutas de seminovos, retomando-as para patamares normais mais rapidamente.
Consequentemente, as empresas que seguiram comprando carros nos últimos anos, acabaram aumentando a participação de SUVs dentro do portfólio de locação. Com o fim do estoque de carros valorizados ao longo de 2021 (preço atual venda > preço de compra = depreciação zero), agora começamos a observar uma maior parcela de venda de veículos que carregam consigo as quedas mais acentuadas da FIPE. No fim do dia, isso se traduz em um aumento significativo, por mais um trimestre, dos níveis de depreciação por carro. Quem não parou de comprar, acabou comprando carros que se desvalorizaram mais, pois estavam com preços “inflados” pela falta de carros. Nesse caso, a empresa tende a sofrer mais nesse momento de queda acentuada do preço de venda do veículo.
Em suma, a receita advinda dos segmentos de RAC e GTF devem seguir crescentes devido aos fatores mencionados, enquanto as margens na divisão de seminovos deve ser prejudicadas pela queda no preço dos veículos usados. Por fim, a manutenção dos juros em patamares altos também deve continuar a ser um problema, pressionando o bottom line por conta de altas despesas com juros.
Vamos (VAMO3)
Esperamos mais um trimestre forte para Vamos. Dado o CAPEX implementado durante os últimos trimestre, esperamos bons volumes e Yields ainda fortes devido aos novos contratos implantados.
Projetamos uma adição consolidada de frota de aproximadamente 4.400 veículos, com um Yield corrente próximo de 3%. Também esperamos uma receita líquida de R$ 1,45 bilhões (+79,1% a/a e +4,9% t/t) e um EBITDA projetado totalizando R$ 629 milhões (+105,9% a/a e +9,2% t/t). Nosso Lucro Líquido do estimado para o trimestre somou R$ 191 milhões (+55,5% a/a e +12,9% t/t).
Além disso, a chegada do Euro 6, com caminhões que podem ser até 20% mais caros em relação aos motores Euro 5 faz com que o serviço de locação seja cada vez mais atrativo. Isso deve reforçar o operacional da empresa no curto prazo, dado o tamanho de sua frota e sua maturidade em relação aos players mais novos.
Apesar de ser a maior, o setor de locação de veículos pesados ainda é muito subpenetrado no país. A Vamos, por exemplo, possui pouco mais de 1,8% do market-share quando consideramos a frota circulante de caminhões de empresas de transporte de cargas. Com isso, acreditamos que a companhia ainda possui um oceano azul a sua frente, onde poderá entregar resultados ainda mais surpreendentes no longo prazo.
Mantemos nossa recomendação de COMPRA com preço alvo R$ 21,00.
Localiza (RENT3)
Esperamos um trimestre positivo para Localiza, onde provavelmente já veremos alguns efeitos da recente fusão com a Unidas. Na nossa visão a empresa será a grande beneficiada da maior disponibilidade de carros devido ao enfraquecimento da demanda no varejo. Capitalizada, esperamos ver os efeitos de um maior desconto na compra de veículos, dado o maior poder de barganha com as montadoras. Além disso, novas sinergia do efeito escala devem voltar a aparecer.
Na visão combinada, esperamos uma receita líquida de R$ 6,3 bilhões (+51% a/a e +3,2% t/t). O EBITDA projetado soma R$ 2,2 bilhões (+36% a/a e -2,1% t/t) e o Lucro Líquido do trimestre totalizando R$ 445 milhões (-37% a/a e +4,9% t/t) segundo nossas estimativas.
No RAC, tivemos o carve out de aproximadamente 49 mil veículos por conta da fusão com Unidas. O processo foi realizado em outubro. Considerando o carve out, ainda assim esperamos uma leve adição de frota por conta. O bom volume de carros comprados no segundo semestre de 2022 deve ajudar na precificação das tarifas no segmento. Esperamos novos aumentos nas margens.
No GTF também esperamos uma leve adição de frota, reduzindo o backlog e resultando em aumentos de volume e tarifas. Voltamos a destacar que novos ganhos de sinergias operacionais, relacionadas a manutenção e vendas devem voltar a aparecer no 4T22. Estimamos uma diária de aproximadamente R$ 74,20.
Na divisão de seminovos, o efeito deve ser menos destrutivo do que esperamos para Movida. Isso por conta da estratégia adotada pela empresa durante o momento de escassez de veículos. Com um mix menos variado e com um estoque maior de frota envelhecida, esperamos que a depreciação por carro também suba pouco em relação ao 3º trimestre. Além disso, temos um período de menor venda de veículos conforme mencionado anteriormente.
Mantemos nossa recomendação de MANTER com preço alvo R$ 60,00.
Movida (MOVI3)
Esperamos um trimestre fraco para Movida. O mix comparativamente composto por carros mais premium adquiridos durante a pandemia aliado à queda nos preços da tabela FIPE devem acelerar a depreciação e comprimir seu resultado operacional. Contudo, dado que boa parte das compras de automóveis nos últimos meses foram feitas pelas locadoras, esperamos uma adição líquida de frota significativa na tentativa de transformação do mix. Se por um lado a sazonalidade deverá ajudar a elevar as tarifas balanceando parte dos efeitos negativos do trimestre, por outro devemos observar menores níveis de ocupação, assim como no segmento aéreo.
No consolidado, esperamos uma receita líquida de R$ 2,6 bilhões, (+49,7% a/a e -0,4% t/t) com um EBITDA projetado totalizando R$ 939 milhões (+20,9% a/a e +1,5% t/t) e o Lucro Líquido do trimestre somando R$ 28 milhões (-89,9% a/a e -70,2% t/t).
No RAC, esperamos uma continuação da trajetória de alta das tarifas, puxada principalmente pela sazonalidade do trimestre. Assim como para as empresas aéreas, ficaremos atentos a taxa de ocupação divulgada, visto que sua diminuição pode indicar o início de uma inflexão no que diz respeito à demanda, o que por sua vez poderá ocasionar diminuições nas diárias em trimestres futuros.
Já no GTF, considerando os dados divulgados pela Fenabrave nos últimos meses, esperamos que haja uma adição significativa de carros de entrada, o que deve se traduzir em mais volumes com carros mais novos e, consequentemente, tarifas e receitas relativamente maiores.
A divisão de seminovos deve ser o principal detrator do resultado. O final de ano pode ser marcado principalmente por uma propensão menor para compra de veículos (pagamento de IPVA, etc.). Isso por si só já seria um ponto negativo. Contudo, a queda nos preços de veículos usados em uma velocidade mais rápida do que esperávamos também ajuda a prejudicar o resultado da divisão. Em resumo, provavelmente teremos menos carros vendidos a um preço menor que o esperado a alguns meses atrás. Cabe ressaltar que o destaque para a divisão de seminovos não é a diminuição de sua margem (algo que já era esperado), mas sim a velocidade com que essa normalização ocorreu.
Apesar do cenário local ainda conturbado, a companhia reafirmou seu compromisso com o guidance para 2025, estimando uma frota total entre 260 e 340 mil veículos. Em nosso relatório sobre o Movida Day, atualizamos nossa recomendação de Movida.
Entendemos que o cenário de juros mais altos ao longo de 2023 e depreciação por carro crescente trarão desafios no curto prazo. Nossa expectativa é de que i) uma boa gestão do mix da frota, ii) redução do crescimento nos próximos trimestres e iii) o acionamentos de alavancas de liquidez, voltem a trazer fôlego à companhia. Qualquer movimento de fechamentos da curva de juros pode fazer com que Movida performe acima dos pares do setor.
Mantemos nossa recomendação de COMPRA com preço alvo R$ 14,00.