Na terça-feira, dia 13 de agosto, após o fechamento de mercado, a Localiza divulgou seus resultados do 2T24, os quais trouxeram uma série de surpresas extremamente negativas, principalmente devido ao ajuste substancial na depreciação dos seus veículos. Embora a receita líquida tenha ficado em linha com as nossas expectativas, as margens operacionais e o ajuste na depreciação dos veículos, tanto no segmento RAC quanto no GTF, culminaram em um prejuízo de R$ 570 milhões, em contraste com a expectativa do mercado de um lucro de R$ 655 milhões.
Como destacamos em nossa prévia, já estávamos mais cautelosos do que o mercado, projetando um prejuízo de R$ 120 milhões no período. Antecipamos a possibilidade de que a Localiza aproveitasse os impactos dos desastres no Rio Grande do Sul para realizar um ajuste relevante na depreciação, correção que, em nossa visão, era necessária. Contudo, o valor reportado pela empresa foi significativamente maior do que o esperado. Enquanto nosso cenário mais pessimista estimava um ajuste de R$ 800 milhões, a empresa reportou um impacto total de R$ 1,8 bilhão, muito acima das projeções, sendo R$ 1,4 bilhão referente à depreciação adicional e o restante por conta dos carros sinistrados.
Os resultados do segmento de locação de veículos mostraram um crescimento nas diárias, tanto na comparação anual quanto na trimestral, mas a receita líquida foi ligeiramente inferior às nossas expectativas. O EBITDA e as margens operacionais também foram mais fracos do que o esperado, pressionadas pelos danos das enchentes e pelo alto volume de carros em preparação, dado o forte volume de compra e venda no trimestre. A depreciação média anualizada por carro no 2T24 foi significativamente superior às nossas expectativas, com o RAC registrando R$ 19,98 mil versus R$ 9,88 mil (+102,2%) e o GTF R$ 12,21 mil versus R$ 6,85 mil (+78,3%).
No consolidado do 2T24, a Localiza apresentou uma receita líquida de R$ 9.049 milhões (+32,2% a/a e +4,2% t/t), ligeiramente abaixo das nossas expectativas (-1,2%). O EBITDA, por outro lado, ficou em R$ 2.349 milhões (+0,2% a/a e -19,6% t/t), com uma margem de 26,0% (-8,3pp a/a e -7,7pp t/t), bem abaixo do esperado. O lucro líquido ajustado, que exclui os impactos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul e o ajuste substancial na depreciação, além de considerar uma alíquota de imposto de 25%, totalizou R$ 538 milhões. Esse valor ficou 22,1% abaixo das nossas expectativas.
Seguimos cautelosas em relação a Localiza (RENT3). Reiteramos a recomendação de MANTER, com preço-alvo de corrigido para R$ 55,00.
Depreciação: era hora de corrigir
A depreciação média anualizada por carro no 2T24 foi significativamente superior às nossas expectativas, com o RAC registrando R$ 19,98 mil versus R$ 9,88 mil (+102,2%) e o GTF R$ 12,21 mil versus R$ 6,85 mil (+78,3%). Essa discrepância ocorre principalmente à revisão do preço de venda dos carros, somado a redução da vida útil dos veículos de 18 para 15 meses para acelerar o rejuvenescimento da frota. Como mencionamos no relatório de divulgação do Genial Index de Depreciação de Veículos, a Localiza estava com uma exposição elevada a SUVs, que sofreram uma desvalorização acelerada nos últimos 12 meses. A desvalorização dos modelos premium, como os da marca Jeep, pode ter contribuído para um aumento substancial na depreciação. Isso também justifica, a necessidade de ajuste no mix da frota de maneira mais acelerada. Essas decisões, acabaram inflando a depreciação mensal, já que o alto valor remanescente passou a ser distribuído em menos meses.
A empresa também divulgou seu guidance, reforçando suas metas de estabilização da depreciação, com base nesse ajuste do mix nos próximos trimestres. A expectativa é de que a depreciação diminua gradualmente, partindo de R$ 6.700 a R$ 7.700 no 3T24, indo para algo entre R$ 6.300 e R$ 7.300 no 1T25. Para veículos leves na divisão de GTF, a expectativa também é de normalização, embora ainda exista maior depreciação devido ao maior valor da frota, começando na faixa de R$ 7.500 a R$ 8.500, cedendo para R$ 6.800 a R$ 7.800 no 1T25.
RAC:
No segmento de Aluguel de Carros, a receita líquida foi de R$ 2.273 milhões (+16,1% a/a e -3,6% t/t), ligeiramente abaixo das nossas projeções. O EBITDA atingiu R$ 1.230 milhões (-2,6% a/a e -17,5% t/t), com uma margem de 54,1% (-10,4pp a/a e -9,2pp t/t), também abaixo do esperado. A depreciação média anualizada por carro, ficou em R$ 19.977, mais que o dobro da nossa estimativa de R$ 9.877, devido à revisão do preço de venda e ao processo de rejuvenescimento da frota que reduziu a vida depreciável do carro de 18 para 15 meses.
Vale lembrar que, a partir do 4T23, a Localiza começou a alocar os custos de preparação dos veículos para desativação da frota na divisão de Aluguel de Carros, o que antes era responsabilidade da divisão de seminovos. Esse ajuste, necessário após a centralização da área de operações, passou a impactar negativamente as margens do RAC. Se ajustarmos as margens do 2T23 para incluir esses custos, a margem do RAC seria de 58,4%.
GTF
O segmento de Gestão de Frotas registrou uma receita líquida de R$ 2.041 milhões (+27,2% a/a e +3,3% t/t), ligeiramente acima das nossas expectativas (+1,4%). O EBITDA foi de R$ 1.187 milhões (+6,4% a/a e -13,2% t/t), com uma margem de 58,2% (-11,3pp a/a e -11,0pp t/t), significativamente abaixo do esperado. A depreciação média anualizada por carro no GTF foi de R$ 12.209, superando em muito a nossa estimativa de R$ 6.847. Corrigindo pelo mesmo efeito pontuado acima, no GTF de 66,7%, enquanto a margem de seminovos seria de 8,7%. Se também ajustarmos as margens do 2T23 para incluir os custos de preparação em locação, a base de comparação seria de 66,7%,
Assim como no RAC, os custos de preparação dos veículos para desativação da frota também passaram a ser alocados na divisão de Gestão de Frotas a partir do 4T23. Isso trouxe um impacto negativo nas margens do GTF, que, se ajustadas para os custos de preparação no 2T23, teriam sido de 66,7%. Contudo, no 2T24, as margens do GTF também ficaram aquém das expectativas ajustadas
Seminovos
No segmento de seminovos, o volume de carros vendidos foi expressivo, com a Localiza aproveitando a melhora do mercado para intensificar o giro de sua frota, reconhecendo a necessidade de ajustar seu mix, dada a aceleração da depreciação dos veículos nos últimos 12 meses. Já havíamos alertado que a exposição da Localiza ao mix de carros mais premium, como SUVs, era cerca de 10% maior do que a de sua concorrente Movida, e que a exposição à marca Jeep, uma das mais depreciadas no período, era também significativa. Isso gerou uma pressão adicional na depreciação, que acabou sendo mais intensa do que o previsto.
O segmento de Seminovos apresentou uma receita líquida de R$ 4.711 milhões (+43,5% a/a e +8,6% t/t), levemente abaixo do esperado (-2,0%). O EBITDA, por sua vez, ficou em R$ -40 milhões, com uma margem de -1,4%, ambos significativamente abaixo das nossas expectativas. Com a realocação dos custos de preparação para as divisões de aluguel de carros e gestão de frotas, a divisão de seminovos passou a ter um impacto positivo em sua margem. Se ajustarmos a margem de seminovos do 2T23 para refletir a ausência desses custos, ela seria de 8,7%. No entanto, no 2T24, a margem de seminovos também sofreu, refletindo tanto o ajuste no valor residual dos veículos quanto os impactos econômicos das operações degradadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Desconsiderando esses impactos, a margem EBITDA teria sido de 2,8%, acima das nossas projeções de 1,6%.