A Marfrig (MRFG3) irá reportar seus resultados do 4T22 na próxima quarta-feira (01/03), e, neste relatório, vamos apresentar as nossas expectativas para os números da companhia e compará-las às expectativas de mercado. No geral, estamos em linha com as expectativas do mercado para o trimestre, e conservadores com a Marfrig.
O ciclo de carne bovina nos EUA está em processo de reversão – vimos os preços do boi gordo em baixa durante os últimos anos, e, atualmente, com uma menor disponibilidade de gado no país, fatores que vem sendo antecipados pelo mercado, o preço do gado está passando por sucessivas altas, o que prejudica frigoríficos com operações na região, como a Marfrig. Desta forma, seguimos com a recomendação de MANTER para as ações da companhia, mas reduzindo o preço-alvo para R$ 10,00.
Marfrig
A Marfrig deve apresentar resultados mais fracos, refletindo o final do ciclo do gado nos EUA mencionado no segundo parágrafo. Além disso, destacamos que a tendência seja de uma piora no ciclo daqui em diante. Em relação ao segmento da América do Norte, bastante representativo no consolidado, enxergamos uma normalização de margens e um trimestre, no geral, mais fraco, embora a operação ainda deva gerar caixa. Em relação a América do Sul, enxergamos uma queda no preço médio de exportação, e uma queda também nas margens em relação ao trimestre anterior.
Desconsiderando as operações da BRF (ex-BRF), ou seja, levando apenas em consideração as operações da Marfrig América do Norte e América do Sul, acreditamos que a receita líquida seja de R$ 23,5b, -1,6% menor em relação ao mesmo trimestre do ano passado (4T21), mas 5,3% acima do que vimos no tri anterior (3T22).
Já para o EBITDA, esperamos uma forte queda de 68,9% quando comparado ao 4T21, chegando a um total de R$ 1,3b. Em relação a margem EBITDA do frigorífico, esperamos uma queda de 11,7p.p. a/a e de -5,5p.p. t/t, chegando a 5,4% no trimestre, refletindo a reversão do ciclo do gado observada nos EUA.
Expectativas 2023
Neste ano, esperamos uma maior disponibilidade de gado e, consequentemente, custos mais atraentes, na América do Sul. Isto deverá contribuir para uma maior geração de caixa da Marfrig nessa região. Entretanto, as operações da Marfrig na América do Sul não são muito representativas para os resultados consolidados da empresa, representando cerca de 20% da receita líquida, enquanto as operações na América do Norte e a BRF representam, cada uma individualmente, aproximadamente 40% da receita consolidada.
Na América do Norte, temos um cenário diferente do que observamos ao sul do continente: preço de grãos elevado e uma menor disponibilidade de gado, o qual deve refletir em um aumento do custo do gado. Estes fatores devem contribuir para uma compressão nas margens operacionais dos frigoríficos que produzem na região e, consequentemente, para uma menor geração de caixa e menor distribuição de proventos por parte de companhias como a Marfrig, a qual tem parte relevantes de sua receita advinda da América do Norte. Nota-se ainda que, com um EBITDA normalizado (e menor do que o entregue nos últimos anos), devemos ver uma Marfrig mais alavancada, com relação dívida líquida/EBITDA na faixa de 3 a 3,5x.
Por fim, em relação às exportações da companhia, a recente confirmação de um caso atípico da doença de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “vaca louca“, pode prejudicar parcialmente a receita da companhia no próximo trimestre, uma vez que esse caso levou a suspensão de exportações de carne bovina brasileira para a China.
Entretanto, vale observar que, nos últimos doze meses, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram apenas 6,4% da receita líquida consolidada. Além disso, dado o caráter atípico da doença (ou seja, não há possibilidade de disseminação), e a postura menos combativa do novo governo brasileiro em relação à China, acreditamos que a suspensão não deve perdurar por muito tempo, e que o impacto na Marfrig não será muito relevante.