O Mercado Livre irá divulgar seus resultados do 2T23 no dia 02/08, depois do fechamento de mercado da bolsa Nasdaq-EUA. Neste relatório elencamos os pontos que devem ter destaque neste trimestre e nossas expectativas para o resultado do 2T23, bem como explicaremos sobre quais premissas sofreram alterações que resultaram em um corte de Target Price.
Principais destaques de E-commerce:
(i) Ganho de share deve continuar guiando crescimento de GMV; (ii) Acreditamos que o GMV na Argentina ainda será puxado pela inflação; (iii) Tendência de crescimento deve continuar no México; (iv)Projetamos um Take-rate aumentando em +160bps no 2T23; (v)Vemos espaço para ainda mais aumentos de Take-rate no 2S23; (vi) Essas altas no comissionamento não devem impactar a evolução do GMV; (vii) Esperamos uma aceleração de 30% a/a da Receita de e-commerce.
Principais destaques de Fintech:
(i) TPV deve ser impulsionado pelo movimento up-market de merchants; (ii) TPV Digital Account em tendência de crescimento; (iii) TPV Acquiring impulsionado por novo mix de lojistas; (iv) Take-rate (exc. Crédito) deve se manter mais competitivo no curto prazo; (v) Evolução da carteira com crescimento similar ao visto no 1T23; (vi) Operação de cartão de crédito deve continuar acelerando gradualmente; (vii)Esperamos a continuidade do arrefecimento do NPL; (viii) Fintech Take-Rate (inc. Crédito) deve retrair a/a; (ix) Fintech Take-Rate (inc. Crédito) deve retrair a/a; (x) Ritmo de crescimento da receita impactado por desaceleração da operação de crédito.
Principais destaques do Consolidado:
(i) Expectativa de mais um sólido crescimento de Receita (+27,6% a/a Genial Est); (ii) Maiores custos logísticos no COGS; (iii) Ainda assim, esperamos uma leve expansão de margem bruta (+66bps a/a Genial Est.); (iv) Continuidade de ganhos de eficiência nas despesas G&A; (v) aumento de despesas com vendas e marketing; (vi) Investimentos e contratações ainda devem impactar P&D; (vii) PDD deve desacelerar em relação a carteira (-369bps Genial Est.); (viii) Maior diluição de despesas SG&A deve criar ganho de rentabilidade; (ix) Lucro deve crescer 90% a/a Genial Est; (x) Realizamos ajustes em nosso modelo, com ênfase em precificar uma dinâmica mais pessimista para a Argentina. Dadas as revisões feitas, chegamos a um novo Target Price 12M MELI (Nasdaq) de US$1.520 vs. US$1.680 anteriormente, ainda assim vemos um upside atrativo de +22,77%.
E-commerce
Ganho de share deve continuar guiando crescimento de GMV. Segundo dados do Neotrust, o mercado brasileiro de e-commerce retraiu ~13,7% a/a neste 2T23. Enquanto o mercado de e-commerce brasileiro sofre com um cenário ainda desfavorável para o consumo, acreditamos que o Mercado livre deve continuar se destacando em relação aos seus pares nacionais. Estimamos um crescimento do GMV Brasil, em moeda local, de +22,3% a/a (+0,7% t/t), totalizando R$22,8b Genial Est.
Sendo destaque na categoria 3P, acreditamos que o Mercado Livre deve continuar se beneficiando ao longo deste ano das oportunidades de ganho de share criadas pelo Evento Americanas, impulsionando o GMV local. Por outro lado, acreditamos que parte desse share foi capturado ao longo do 1T23, dado a migração de compradores para dentro do marketplace do Mercado Livre. Como acreditamos que o ganho de fluxo já atingiu seu platô, uma vez que os dados do 1T23 viram muito fortes mesmo diante da sazonalidade desfavorável, nossa visão é que o crescimento daqui em diante será mais pontual.
Acreditamos que o GMV na Argentina ainda será puxado pela inflação. A taxa de inflação acumulada 12M no país tem permanecido no patamar de três dígitos desde fevereiro deste ano, chegando a 115,6% em junho. A persistente crise inflacionária vem corroendo o poder de compra da população, de modo que acreditamos que a Argentina não deve ser um grande contribuinte em termos de volume de vendas.
Nossa expectativa é de um crescimento do GMV em moeda local de +102,2% a/a (+27,2% t/t). Acreditamos que essa evolução seja motivada principalmente pela crescente inflação no país, de modo que não vemos possiblidades concretas de aumentos representativos na linha de itens vendidos com sucesso da Argentina. Projetamos inclusive uma perda no GMV se considerarmos o valor real, expurgando o efeito da inflação.
Tendência de crescimento deve continuar no México. Acreditamos que a forte capacidade de execução da Companhia permita que ela continue performando positivamente no país. Desse modo, esperamos a sustentação da tendência de crescimento mais agressivo do GMV local, a medida em que o Mercado Livre aumenta sua penetração no México. Estimamos uma aceleração do GMV em moeda local de +29,0% a/a (+6,6% t/t).
Brasil e México serão os nomes de mais peso de crescimento para o GMV consolidado total. Nossa expectativa é que o Mercado Livre continue se posicionando como líder nos principais países de atuação, se destacando entre outros players de varejo. Acreditamos que o destaque virá novamente da performance das unidades do Brasil e do México, enquanto uma crise inflacionária que reduz a demanda por consumo na Argentina. Estimamos um GMV consolidado de US$10,1b Genial Est. (+18,3% a/a; +7,2% t/t).
Projetamos um Take-rate aumentando em +160bps. Na comparação anual, creditamos que dois principais fatores devem contribuir positivamente para a evolução do Take-Rate: (i) maior penetração da receita de Ads – após um 1T23 flat, acreditamos que a vertical de Ads volte a aumentar sua penetração na receita de e-commerce, a um ritmo parecido com o observado ao longo do ano passado (+10bps a/a por trimestre); e (ii) revisão do flat fee do marketplace em janeiro deste ano, passando de R$5 para R$5,50.
Lembrando que flat fee é a taxa fixa da qual todos os sellers precisam pagar, independe de qual categoria eles fazem parte ou de qual tipo de SKUs eles disponibilizam no marketplace. Dessa forma, na visão sequencial (t/t), devemos observar um aumento menor, a medida em que a revisão de fees já foi incorporada no último trimestre. Assim, estimamos um Take-Rate de E-commerce de 18,0% (+160bps a/a; +20bps t/t).
Vemos espaço para ainda mais aumentos de Take-rate no 2S23. O Mercado Livre anunciou a implementação de um novo aumento do flat fee e uma revisão da tabela de frete a partir de julho/23. Entendemos que a revisão do flat fee faz parte de um reajuste que não ocorria desde 2018, enquanto a revisão da tabela de fretes faz parte de um repasse de aumento de custos. Frente a estas novas condições, devemos observar novas acelerações do Take-rate a partir do 3T23.
Essas altas no comissionamento não devem impactar a evolução do GMV. Em nossa visão, os aumentos de comissionamento realizados neste ano não devem ter impacto sobre o volume de vendas. Acreditamos que as soluções logísticas superiores do Mercado Livre permitem a redução de custos para os sellers da plataforma, de modo que a Companhia seja capaz de sustentar um prêmio no take-rate em relação a outros marketplaces.
Essa dinâmica pode ser sustentada pela afirmação do management de que os sellers não se mostraram elásticos em relação ao aumento do flat fee realizado em janeiro, induzindo ao novo acréscimo em julho, para chegar a um valor de R$6,00, conforme era o plano inicial.
Esperamos uma aceleração em ~30% da Receita de e-commerce. Seguindo nossas projeções, o aumento do GMV aliado a expectativa de um maior take-rate deve consolidar uma receita líquida de e-commerce de US$1,8b Genial Est. (+29,6% a/a; -8,6% t/t).
Mercado Pago
TPV deve ser impulsionado pelo movimento up-market de merchants. Acreditamos que a evolução do TPV deve continuar sendo positivamente impactada pelo shift para um foco maior em merchants da categoria SMB (Small and Medium Business), com faturamento um pouco superior aos micro-merchants (Long-tail), que eram o eixo de crescimento anteriormente. Projetamos um TPV consolidado de US$41,6b (+37,8% a/a; +12,5% t/t). Em nossa visão, esse movimento up-market deve impulsionar, principalmente, o volume transacionado fora da plataforma. Estimamos um crescimento de +45,8% a/a do TPV Off-Platform, chegando à cifra de US$30,9b Genial Est. (+45,8% a/a; +14,2% t/t).
TPV Digital Account em tendência de crescimento. Em nossa visão, o TPV gerado pelas contas digitais deve ser impulsionado por 2 principais dinâmicas: (i) a implementação de diferentes features nas contas digitais, consolidando as funcionalidades da wallet e estimulando o volume transacionado por usuário e (ii) um crescimento de base de +1milhão (Genial Est.), em linha com o reportado nos últimos 12M. Consolidando estes efeitos, acreditamos que o Mercado Livre deve manter uma forte tendência de crescimento do TPV Digital Account. Projetamos este volume no patamar de US$14,3b Genial Est. (+53,2% a/a; +12,7% t/t).
TPV Acquiring impulsionado por novo mix de lojistas. Assim como no 1T23, a gradual transição em direção a um mercado de merchants com faturamento superior (SMB) deve incentivar o volume transacionado pela operação de processamento de pagamentos. Assim, estimamos um TPV Acquiring de US$27,2b Genial Est. (+30,8% a/a; +12,3% t/t).
Take-rate (exc. Crédito) deve se manter mais competitivo no curto prazo. Em nossa avaliação, o movimento up-market realizado no mix de merchants provavelmente trará a necessidade de a Companhia utilizar taxas mais baixas, em uma estratégia mais agressiva de comissionamento para elevar a penetração em um mercado bastante competitivo. O ponto de entrada da categoria SMB seriam empreendimentos que faturam até R$360k por ano. Para esse nicho, o Mercado Livre vai competir de maneira mais forte com players especializados em atacar essa parcela de clientes, como Stone e PagSeguro. Tendo em vista essa dinâmica, acreditamos que a Companhia deve acabar mantendo o Take-rate (exc. crédito) em um patamar menor. Ou seja, ao tentar adentrar em um mercado com concorrência mais acirrada, acreditamos que, no curto prazo, o Mercado Pago deve continuar operando com taxas de MDR mais baixas no Brasil, buscando elevar sua base de merchants.
Na visão sequencial, devemos observar um impacto menor dessa dinâmica sobre o take-rate, a medida em que o shift no mix de merchants já tinha sido iniciado no 1T23. O efeito, na outra ponta, deverá ser no crescimento do TPV Acquiring, impulsionando também o TPV Off-plataform.
Mercado Crédito
Cenário ainda é desafiador. Com a manutenção de uma taxa SELIC a 13,75% ao longo dos últimos 12M, temos observado no Brasil, o principal país de operação do Mercado Crédito, a capacidade de pagamento da população bastante pressionada. Em junho, os níveis de inadimplência chegaram a 43,78% da população adulta do país. Considerando esse cenário, acreditamos que o Mercado Livre dará sequência no 2T23 em uma política de originação de crédito mais conservadora, movimento que se iniciou no 2S22. Mesmo se considerarmos que a SELIC deve cair ao longo do 2S23, investidores dividem opiniões sobre cortes de 25bps ou 50bps, de forma que não nos parece que a SELIC irá arrefecer de maneira suficiente para gerar um ganho significativo de apetite ao mercado de crédito, que provavelmente continuará restrito no curto prazo.
Ainda assim, parece que o pior já passou. Em nossa visão, os esforços empregados em termos de melhoria de scoring de crédito e a priorização da originação para uma base de usuários de menor risco levaram a uma performance melhor dos novos cohorts. Portanto, acreditamos que o Mercado Livre deve apresentar uma leve aceleração do seu business de crédito, suportada pela perspectiva de sinais mais positivos para o 2S23, a medida em que o mercado precifica um corte na taxa SELIC para o 3T23.
Entretanto, vale ressaltar que, dado o cenário macroeconômico atual, não esperamos uma evolução expressiva da carteira como observado em anos anteriores. Entendemos que esses níveis de crescimento não devem ocorrer até que haja uma melhora da performance dos cohorts de maior risco. Mesmo com bons números no NPL<90 dias, ainda possuímos um alerta ligado para o NPL>90 dias, onde a política mais expansionista da carteira, com crescimento mais agressivo e score de crédito mais baixo, ocorrida entre o 2S21 e o 1S22, pode continuar infligindo no 2T23 em um nível de provisionamento menos arrefecido, tendo em vista o efeito de envelhecimento das parcelas em atraso com uma probabilidade maior de não serem quitadas.
Evolução da carteira com crescimento similar ao visto no 1T23. Desse modo, antecipamos apenas uma leve aceleração do patamar de crescimento sequencial em relação aos níveis reportados no 2S22 (+3,2% t/t no 3T22 e +2,4% t/t no 4T22). Estamos estimando um ritmo de originações em linha com o último trimestre, com um leve impulso sobre a carteira vindo da expansão da operação de cartões de crédito para o México. Projetamos uma carteira total de US$3,3b Genial Est. (+21,4% a/a; +7,0% t/t).
Entendemos que o foco deve se manter na originação para usuários de menor risco. Desse modo, esperamos uma aceleração das carteiras de Consumer Book e On-line Merchant, consideradas menos arriscadas pela existência de um bom nível de dados sobre o comportamento do padrão de compra desses usuários dentro da plataforma. Como a carteira de Consumer tende a ser mais rentável, estimamos uma aceleração t/t high single digit desse segmento vs. um crescimento mid-single digit para On-line Merchant. Por outro lado, ainda projetamos uma leve retração do segmento In-store Merchant, considerado mais arriscado.
Operação de cartão de crédito deve continuar acelerando gradualmente. Ao final do 1T23, a Companhia passou a retomar o crescimento das emissões de cartões. Acreditamos que esse efeito no Brasil, somado ao início das operações no México – ainda que incipientes -, deve impulsionar a carteira de cartão de crédito neste trimestre. Nossas projeções apontam para um crescimento de +8,7% t/t desse segmento na carteira. Ainda assim, entendemos que a Companhia deverá ser cautelosa na aceleração de emissões de novos cartões de crédito para evitar pressões sobre a inadimplência e conseguir se manter em uma trajetória de crescimento sustentável.
Esperamos a continuidade do arrefecimento do NPL. No 1T23, o NPL>90 dias apresentou desaceleração pela primeira vez em quatro trimestres consecutivos. Avaliamos que, com o posicionamento mais conservador adotado ao longo dos últimos trimestres, que naturalmente baixou o NPL<90 através do maior foco em cohorts de baixo risco, também ajudou a amortecer os impactos no NPL>90, da qual esperamos observar novamente uma melhora da performance no 2T23. Ainda assim, conforme já mencionamos ao longo do relatório, esse segue sendo um indicador que olhamos com bastante cuidado e atenção mediante a divulgação dos resultados.
Os dados de acompanhamento mensal do FIDC no Brasil apontam na direção da nossa estimativa, evidenciando também melhoras na tendência da performance do NPL<90. O percentual de representatividade sob a carteira foi gradualmente assentando, ajustando-se a uma realidade de cenário mais conturbado para a concessão de crédito vis-à-vis o perfil de cliente que o nicho de fintechs atacam. Observamos o NPL<90 cair para 9,5% no 1T23 vs. 10,3% no 4T22 e 13,1% no 3T22. Estimamos uma melhora no percentual total da carteira em atraso (Bad debt), chegando a 36,3% Genial Est. vs. 37,8% no 1T23.
Fintech
Fintech Take-Rate (inc. Crédito) deve retrair a/a. Na visão anual, acreditamos que o ritmo menor de expansão do business de crédito em comparação com o ano passado, somado a leve retração do take-rate de Fintech ex-crédito, deve gerar uma pressão a/a no Take-rate total da vertical. Projetamos um Fintech Take-Rate de 3,64% Est. Genial (-32bps a/a; -9bps t/t).
Ritmo de crescimento da receita impactado pela desaceleração da operação de crédito. Consolidando as operações do Mercado Pago + Mercado Crédito, projetamos uma receita líquida de Fintech no patamar de US$1,5b Genial Est. (+25,3% a/a; +9,9% t/t). Considerando a expansão menor da operação de crédito nos últimos trimestres, o ritmo de crescimento deve continuar em trajetória de desaceleração já observada nos trimestres anteriores (40% a/a 1T23 vs. 75% a/a 4T22)
Ainda assim, não enxergamos essa desaceleração como negativa. Acreditamos que, para manter o ritmo de crescimento reportado anteriormente, seria necessária uma aceleração mais agressiva da carteira de crédito, o que julgamos ser insustentável em termos de inadimplência, dado o cenário macroeconômico atual.
Consolidado
Expectativa de mais um sólido crescimento de Receita. Esperamos que através de uma boa performance, tanto no business de E-commerce, quanto no de Fintech, o Mercado Livre acabe acelerando sua receita em duplo dígito mais uma vez, repetindo o feito observado em trimestres anteriores. Consolidando as verticais da Companhia, projetamos uma receita líquida de US$3,3b Genial Est. (+27,6% a/a; +9,2% t/t).
Maiores custos logísticos no COGS. Do CAPEX planejado para o ano, a Companhia deve destinar uma parcela considerável para aperfeiçoamento da sua operação de last mile no Brasil e no México. O Mercado Livre continua realizando rodadas de contratações na área de logística e investimentos para aumentar a operação de seus fulfillment centers. Com isso, acreditamos que o COGS deve ser negativamente impactado pela progressão de custos logísticos relacionados a ampliação do footprint das suas unidades de fulfillment ao longo desse ano.
Ainda assim, esperamos uma leve expansão de margem bruta a/a. Em nossa visão, o crescimento forte de receita deve diluir a pressão de maiores custos logísticos sobre o COGS, permitindo que que o Mercado Livre reporte um ganho de margem bruta a/a. Na visão sequencial, estimamos um leve impacto dessa dinâmica sobre a rentabilidade bruta. Projetamos um aumento de +66bps a/a de margem, avaliada por nós em 50,1% Genial Est. (+66bps a/a; -47bps t/t).
Continuidade de ganhos de eficiência nas despesas G&A. Com o aumento do volume de vendas, somado a esforços para ganhos de eficiência, devemos observar as despesas Gerais e Adm. reduzindo sua representatividade em relação a receita total do Mercado Livre. Estimamos ganhos de alavancagem operacional na ordem de +75bps a/a vindo dessa linha de despesas.
Esperamos ver aumento de despesas com vendas e marketing. Frente a maiores esforços da Companhia em promoção da marca, estimamos um leve aumento das despesas com vendas e marketing na visão a/a. Em nossas projeções, a aceleração dessa linha deve trazer um reflexo negativo no processo de desalavancagem operacional em -116bps a/a.
Investimentos e contratações ainda devem impactar P&D. À medida em que o Mercado Livre continua investindo em inovações para suas diferentes linhas de negócios e realizando contratações do time de desenvolvimento e produtos, devemos observar uma aceleração das despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D). Estimamos que o aumento do P&D para o 2T23 gere uma expansão na ordem de +221bps a/a em relação a representatividade da linha sobre a receita total.
PDD deve desacelerar em relação a carteira. Frente a um menor ritmo de originações em comparação com o 2T22, aliado a cohorts de maior qualidade, estimamos uma redução de -369bps da representatividade da PDD sobre a carteira, chegando à cifra de US$260m Genial Est. (-14,2% a/a; +3,2% t/t).
Maior diluição de despesas SG&A deve criar ganho de rentabilidade. Totalizando esses efeitos, estimamos que a aceleração das despesas seja diluída pelo aumento da receita no trimestre. Com uma maior alavancagem operacional, nossas projeções apontam para um aumento de +187bps a/a de margem EBIT, estimada em 11,5% Genial Est. (+187bps a/a; +31bps t/t). Quanto a margem EBITDA, estimamos ganhos de +172bps a/a, chegando a 15,2% Genial Est.
Expansão forte no lucro, esperamos ~90% a/a. Acreditamos que o Mercado Livre deve entregar novamente um ótimo desempenho, tanto em e-commerce, quanto na Fintech. A melhora da alavancagem operacional deve ser traduzida em aumento da margem líquida do trimestre, apesar do efeito negativo de perdas cambiais, relacionadas principalmente a persistente depreciação da taxa de câmbio USD/AR$. Nossas projeções apontam para um lucro líquido de US$234m Genial Est. (+89,9% a/a; +16,4% t/t).
Nossa visão e recomendação
Esperamos que o Mercado Livre entregue mais um resultado de alta performance neste 2T23. Acreditamos que as vantagens competitivas da Companhia permitirão com que ela continue se sobressaindo frente a seus pares, se posicionando como líder de mercado no segmento de varejo e-commerce nos principais países de atuação. Para vertical de Fintech, acreditamos que a Companhia será capaz de entregar bons níveis de crescimento, aliados a uma continua melhora gradual do NPL > 90 dias, algo que vemos como importante para a retomada da aceleração das operações de crédito.
Ainda assim, vemos um recente movimento negativo do papel, consolidando uma queda de -6,3% no preço das ações desde final abril, quando teve seu pico um pouco antes do resultado do trimestre passado ser divulgado. Em busca de respostas para a queda mesmo diante de uma entrega operacional basicamente impecável, conversamos com alguns investidores institucionais sobre a Companhia. Pelas dinâmicas apresentadas por eles, enxergamos 2 principais preocupações centrais: (i) mudanças na taxação de importação de cross-borders e (ii) exposição à Argentina. Com base em análises internas e conversas com o management, apesar de reconhecermos os riscos relacionados a estes tópicos, acreditamos que o mercado esteja superestimando o impacto dessas dinâmicas.
Em relação ao ponto (i) mudanças na taxação de importação de cross-borders, entendemos que o mercado de atuação dessas plataformas estrangeiras não seja o foco do Mercado Livre. Enquanto o ticket médio da Companhia no Brasil é de US$27 Genial Est., o de players como a Shopee gira em torno de US$5-10. Acreditamos que o Mercado Livre deve evitar se envolver nesse segmento, frente aos altos custos logísticos atrelados ao processo que criam barreiras para o atingimento de breakeven dessas operações – vemos o mesmo posicionamento em outros players de e-commerce nacional.
Somado a isso, acreditamos que grande parte dos consumidores do Mercado Livre são direcionados para plataforma pela conveniência. No último trimestre, +77% das entregas foram realizadas em até 48h. Em contrapartida, segundo uma pesquisa realizada pelo Nielsen Ebit, 85% das compras feitas em plataformas cross-borders demoram mais de 11 dias para serem entregues e 42% demoram mais de 21 dias. Assim, acreditamos que a capacidade logística da Companhia seja outro fator que deve agir como uma fortaleza contra a ameaça dos cross-borders.
Adicionalmente, com base em conversas recentes que tivemos com Companhia, entendemos que a (ii) exposição à Argentina é parcialmente diluída ao longo da DRE, com auxílio de um efeito cambial positivo das operações Mexicanas que ajuda a diversificar esse risco. Acreditamos que, essa diluição, somada a benefícios fiscais que reduzem a alíquota efetiva na Argentina, levam a um impacto menor sobre o resultado (e, consequentemente, sobre o fluxo de caixa) do que está sendo precificado por alguns investidores.
O tango do mercado… Apesar de acreditarmos que o mercado esteja com uma visão mais pessimista do que o necessário sobre esses tópicos, entendemos que ambas as dinâmicas impactam a Companhia. Realizamos algumas alterações em nosso modelo, tais como: (i) aumento na taxa de câmbio USD/AR$ para AR$335 ao final de 2023 vs. AR$325 anteriormente; (ii) queda da SELIC para 13% ao final de 2023, com reduções de 25bps no 3T23 e 50bps no 4T23, o que interfere na receita de adiantamento de recebíveis na operação Brasil; (iii) leve corte no Take-rate da Argentina, em razão de uma potencial dificuldade de repassar preço para o 2S23 e 2024; (iv) redução estrutural do TPV Acquiring e Digital Account provenientes das operações do Mercado Pago na Argentina até 2032. Essa redução derivou da alteração de premissas ligadas à nossa metodologia de cálculo para estimar o TPV total da Argentina, que passam a levar em consideração reajustes de salários no país 35% abaixo da inflação projetada até 2025, 15% abaixo até 2028 e 5% abaixo até 2032.
Entre as duas pautas que mais preocupam investidores institucionais, a situação dos cross-borders é a que classificaríamos como a de menor impacto material para a nossa tese de investimentos, mesmo diante da nova regra anunciada pelo governo brasileiro, através da MF Nº 612, ao final de junho. Conforme demonstramos no trecho acima, entendemos que um fluxo considerável de compradores utiliza a plataforma do Mercado Livre para se valer do imediatismo, ou seja, procura entregas rápidas e em categorias de produtos como long tail, não consumo discricionário de roupas, por exemplo. Não descartamos a hipótese de ocorrer algum nível de impacto, mas acreditamos que o GMV sentirá de forma muito marginal, e será basicamente diluído pelo ganho de robustez que a companhia trouxe para dentro da operação após o evento de Americanas.
Já a situação na Argentina, das 4 modificações de premissas que fizemos em nosso modelo, 3 delas estavam atreladas a uma precificação de um cenário ainda mais conservador para o país. Conforme comentamos, o efeito no consolidado também possui baixo potencial material, porém em virtude da gravidade da situação, acreditamos ter sido prudente ter tido cautela e recalibrado as premissas para um cenário mais pessimista, para então sensibilizarmos o quanto de upside as ações do Mercado Livre ainda gerariam diante de uma falta de oxigenação cada vez maior para as operações em seu país de origem. O ponto positivo para a tese é que de fato a diversificação geográfica ajuda a assegurar ainda um ótimo nível de rentabilidade no P&L, porém, certamente as alterações que fizemos geraria reflexos indesejados para o valuation, se traduzindo em um Target Price mais baixo.
Reforçamos que quando iniciamos a cobertura da Companhia, no final do ano passado, enumeramos a Argentina como um grande risco à tese, e procuramos destacar que nossas premissas macro ligadas ao país poderiam sofrer mudanças, dado o nível de complexidade em nosso modelo e a falta de visibilidade de cenário, que ainda parece longe de dias melhores.
Dadas as revisões feitas, chegamos a um novo target price 12M MELI (Nasdaq) de US$1.520 vs. US$1.680 anteriormente. Mesmo considerando os impactos das dinâmicas citadas acima, ainda vemos um upside atrativo de +22,77% no papel, de modo que reiteramos nossa recomendação de COMPRA e a posição de Top Pick no setor de tecnologia. Para o BDR MELI34 (B3) chegamos em um Target Price de R$60,00.