MERCADO LIVRE

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    Publicado em 03 de Novembro às 05:09:31

    Mercado Livre (MELI34) | Resultado 3T23: O gramado mais verde da vizinhança

    O Mercado Livre reportou seus resultados do 3T23 no dia 01 de novembro, próximo ao fechamento da bolsa Nasdaq- NY, onde a Companhia é listada. O resultado veio acima das nossas das expectativas e do consenso, mais uma vez. O Lucro líquido mostrou uma forte expansão de +178% a/a, atingindo a marca de US$359mm, crescendo também na base sequencial em +37,1% t/t.

    A receita líquida total ficou em US$3,7b (+4,2% vs. Genial Est.), com destaque para o crescimento da receita de e-commerce, chegando a US$2,1b (+5,8% vs. Genial Est.), entregando um aumento de +45,3% a/a e 9,9% t/t, com o Brasil apurando um GMV forte na base sequencial mesmo após dois trimestres terem se passado do evento de Americanas. O EBIT foi postado em 685m (+33,5% vs. Genial Est.), apresentando um forte crescimento de +131,3% a/a e +22,8% t/t. Houve uma expansão considerável de margem bruta (+294bps a/a) e margem líquida (+475bps).

    Valuation e recomendação. Sabemos que o Mercado Livre já negocia com um prêmio frente aos pares, rodando com múltiplos esticados,  diante de um EV/EBITDA 2024E de 19,2x. Mesmo sendo um patamar alto, o indicador se encontra abaixo da média histórica pré-2018 de 29,0x (o período antes do investimento em soluções logísticas e financeiras). Nessa linha, acreditamos que o preço atual não reflete com precisão as inúmeras possibilidades de crescimento que prevemos para a Companhia, que seguem firmes. Nossa recomendação de COMPRA permanece, com um leve aumento de  Target Price 12M para  US$1.575 (vs. US$1.520 anteriormente) para MELI (Nasdaq). Já para os BRDs MELI34 (B3), o Target Price 12M passa a ser de R$65,00 (vs. 60,00 anteriormente).

    Principais Destaques

    E-commerce

    (i) Crescimento sequencial da receita líquida de e-commerce surpreende; (ii) GMV acima das expectativas; (iii) Continuidade do momento positivo no Brasil; (iv) Crescimento de itens vendidos na Argentina ajudou; (v) México se destaca no crescimento de GMV; (vi) Cenário macro da Argentina se agrava durante o trimestre; (vii) E-commerce Take-rate vem em linha com o esperado e cresce +170bps a/a.

    Fintech

    (i) Expansão de TPV acima das nossas expectativas; (ii) TPV Off-Platform crescendo em todas as operações; (iii) TPV Digital Account segue em forte tendência de crescimento; (iv) TPV Acquiring impulsionado pelo processamento online de pagamentos; (v) Crescimento da carteira de crédito guiado por Brasil e México; (vi) Carteira de cartão de crédito apresenta forte aceleração; (vii) Melhora na inadimplência acima de 90 dias ainda segue ocorrendo; (viii) Porém, inadimplência curta tem novo aumento; (ix) Fintech Take-Rate contrai -40bps a/a; (x) Receita de Fintech cresce +33,2% a/a.

    Consolidado

    (i) Receita líquida consolidada acima das expectativas (+4,2% vs. Genial Est.); (ii) COGS sofrendo aumento, mas em linha com nossas projeções; (iii) Forte ganho de margem bruta (+294bps a/a); (iv) SG&A também em movimento de elevação; (v) Despesas com marketing crescem (+32,4% a/a;+15,1% t/t), devido ao novo programa Meli +; (vi) PDD aumenta em relação a carteira (8,1% vs. 6,8% 2T23); (vii) EBIT apresenta crescimento e expansão de margem devido à diluição das despesas; (viii) Perdas cambiais continuam impactando negativamente, devido a situação da Argentina; (ix) Lucro líquido surpreende e vem ainda mais forte, com crescimento de +178% a/a; (x) Nossa recomendação de COMPRA permanece, com um leve aumento de  Target Price 12M para  US$1.575 (vs. US$1.520 anteriormente) para MELI (Nasdaq). Já para os BRDs MELI34 (B3), o Target Price 12M passa a ser de R$65,00 (vs. 60,00 anteriormente), sugerindo um upside de +18,79%.

    E-commerce

    Crescimento sequencial da receita líquida de e-commerce surpreende.

    O Mercado Livre reportou uma aceleração de +45,3% a/a da receita líquida, atingindo US$2,1b (+5,8% vs. Genial Est.). O segmento de e-commerce se destaca mais uma vez frente a um cenário macroeconômico conturbado, especialmente na Argentina.

    GMV acima das expectativas.

    O GMV total atingiu US$11,4b (+6,1% vs. Genial Est.) e cresceu significantemente na comparação anual (+31,8% a/a), também demostrando uma aceleração sequencial, de +8,1% t/t.

    Crescimento de itens vendidos com sucesso na Argentina ajudou.

    Mesmo com a voraz  inflação apertando o poder de compra da população, o Mercado Livre sentiu poucos reflexos, e conseguiu melhorar o desempenho no segmento de e-commerce no país. Observamos um aumento de +13% a/a no número de itens vendidos com sucesso, uma alta relevante vs. a média de 1% nos últimos três trimestres consecutivos. Foram implementadas medidas táticas, como ajustes na oferta de financiamento, campanhas promocionais e alterações nas estratégias de marketing para impulsionar as vendas.

    Dessa forma, novamente a Companhia conseguiu entregar um crescimento acima da inflação, consolidando uma aceleração de +8,0% a/a do GMV local (em USD), rumo a marca de US$2,5b (-4,5% vs. Genial Est.).  Apesar de uma boa performance considerando a situação macro desafiadora da Argentina, o número veio levemente abaixo das nossas estimativas e apresentando suave recuo sequencial, de -0,8% t/t.

    Cenário macro da Argentina se agrava durante o trimestre.

    Mesmo com uma performance resiliente diante da alta inflação, a Argentina segue sendo a com o pior desempenho entre os três principais países. Conforme a situação macroeconômica no país se agrava diante das incertezas impulsionadas pelas eleições presidenciais, o Mercado Livre foi capaz de implementar medidas estratégicas e antecipar demanda para concretizar os ganhos mencionados acima. Ainda assim, reiteramos nosso posicionamento de crescimentos mais brandos na região.

    Continuidade do momento positivo no Brasil.

    Acima das estimativas, o desempenho no Brasil foi impulsionado pelo aumento de +27% a/a no número de itens vendidos com sucesso, o maior crescimento desde o 4T21. A expansão no número de itens vendidos chegou ao patamar de duplo dígito em todas as categorias ofertadas, como efeito de atividades promocionais realizadas ao longo do trimestre. O GMV no Brasil ficou em US$5,3b (+11,7% vs. Genial Est.), consolidando uma alta de +38,0% a/a e 13,5% t/t.

    Seguindo forte ritmo do trimestre passado, México se destaca no crescimento de GMV.

    O Mercado Livre no México demonstrou um impressionante crescimento do GMV de +59,0% a/a, atingindo US$1,6b (+3,3% vs. Genial Est.). O número de itens vendidos com sucesso acelerou +38% a/a, destacando-se especialmente as categorias de Casa e Indústria, e Vestuário e Esportes. Além disso, o comércio cross-border está superando o crescimento geral do GMV, sendo uma área de prioridade estratégica da Companhia.

    E-commerce Take-rate vem em linha com o esperado e cresce +170bps a/a.

    A Companhia reportou um take-rate de 18,7% (-8bps vs. Genial Est.) no 3T23, com crescimento anual expressivo de +170bps, e impulsionado por um movimento de alta sequencial de +30bps t/t. Conforme havíamos destacado em nosso relatório de prévia, encontramos três razões para justificar o forte crescimento: (i) maior penetração da receita de Ads; (ii) revisão do flat fee do marketplace, que ocorreu em julho; e (iii) maiores receitas de Shipping.

    Mercado Pago

    Expansão de TPV acima das nossas expectativas.

    O volume transacionado totalizou US$47,2b (+46,9% a/a; +12,3% t/t), chegando a +6,2% vs. Genial Est. Com mais um desempenho robusto, o TPV foi impulsionado por uma exibição de números acima do esperado no TPV Aquiring e a sustentação de um crescimento mais uma vez marcante do TPV Digital Accounts.

    TPV Off-Platform crescendo em todas as operações.

    As sólidas tendencias de crescimento tanto no business de adquirência, quanto nas contas digitais, beneficiaram majoritariamente o volume transacionado fora da plataforma. O TPV Off-Platform apresentou uma aceleração nos três principais países de operação, consolidando um crescimento FX-Neutral de +145,4% a/a (+52,9% a/a em dólar). O TPV Off-Platform totalizou US$35,3b (+6,2% vs. Genial Est.), enquanto o TPV On-Platform ficou em US$11,9b (+6,0% vs. Genial Est.).

    TPV Digital Account segue em forte tendência de crescimento.

    Com a adição de 6,1m novos “wallet payers” na base ao longo dos últimos 12 meses, o Mercado Livre consolidou uma expansão de +65,7% a/a do volume transacionado pelas contas digitais. O TPV Digital Accounts atingiu US$ 17,5b (+65,7% a/a; +18,4% t/t), vindo acima das nossas estimativas (+4,5% vs. Genial Est.).

    Seguindo a tendência que esperávamos, a performance da Argentina teve forte contribuição nesse crescimento. A demanda da população por soluções financeiras simples que protejam os consumidores do contexto inflacionário levou o número de usuários da conta remunerada do Mercado Pago superar a marca dos 10m no país pela primeira vez. Entendemos que esse fluxo financeiro incrementa o volume transacionado via outros produtos da wallet, permitindo uma contínua expansão do TPV relacionado as contas digitais.

    TPV Acquiring impulsionado pelo processamento online de pagamentos.

    O TPV Acquiring totalizou US$29,7b (+7,2% vs. Genial Est.), consolidando uma performance relevante através de um aumento de +37,7% a/a e 9,0% t/t. Conforme comentamos em nossa prévia de resultados, já esperávamos uma performance positiva em pagamentos on-line. Ainda assim, entendemos que o robusto crescimento de triplo dígito apresentado mais do que compensou o efeito de desaceleração setorial do business através de MPoS (ponto de serviço/ máquina de cartão) no Brasil, onde o ambiente competitivo e a guerra por preço (MDR) continua formando barreiras para o crescimento.

    Mercado Crédito

    Crescimento da carteira de crédito guiado por Brasil e México.

    A carteira de crédito consolidada atingiu a marca de US$3,4b (+22,6% a/a; +4,7% t/t). A expansão do portfólio foi impulsionada principalmente pela operação de crédito do Brasil e do México, que foram capazes de compensar a retração da carteira na Argentina, em função do cenário de escassez cambial para US$ e ambiente macroeconômico extremamente desafiador para o crédito.

    Carteira de cartão de crédito apresenta forte aceleração.

    A carteira de cartões de crédito apresentou uma aceleração de +50,9% a/a e +15,4% t/t –estimulada pela operação de cartão de crédito no Brasil, onde a Companhia reacelerou as emissões a partir do trimestre passado, e pelo crescimento da nova operação de cartões no México, iniciada em fevereiro.

    Entendemos que, a medida em que os esforços empregados ao longo do último ano em relação ao aprimoramento das ferramentas de scoring de crédito e a priorização de usuários “low risk” tem se materializado em uma performance melhor dos novos cohorts dentro da operação de cartões. Observamos uma taxa de crescimento sequencial da carteira mostrando avanços mais largos trimestre após trimestre (+15,4% t/t vs. +12,8% t/t 2T23 vs. +8,5% t/t 1T23).

    Adicionalmente, no Brasil, o Mercado Livre lançou um novo cartão de crédito para pequenos empreendimentos que utilizam o marketplace ou os sistemas de processamento de pagamentos, buscando fomentar a aceleração do business de adquirência em meio ao ambiente de  concorrência no setor, além de incentivar os sellers na plataforma. Ainda assim, como esse produto passou a ser oferecido neste trimestre, acreditamos que os impactos sobre o crescimento da carteira ainda são sutis. Porém, estamos otimistas com as iniciativas na tentativa de criar um ambiente mais propicio a aceleração de market share, e devemos observar uma maior evolução desse produto ao longo dos próximos trimestres.

    Melhora na inadimplência acima de 90 dias ainda segue ocorrendo.

    O NPL > 90 desacelerou pelo terceiro trimestre consecutivo, chegando a 20,3% da carteira total (vs. 25,1% no 2T23). Entendemos que essa dinâmica é resultante do posicionamento conservador em termos de originações tomado ao longo dos últimos 12M, de modo que o foco em cohorts de baixo risco tem melhorado os níveis de inadimplência, ajudando a amenizar os impactos do envelhecimento da carteira (aging).

    Porém, inadimplência curta tem novo aumento.

    Conforme nossas expectativas, a inadimplência abaixo de 90 dias (NPL < 90) apresentou uma aceleração sequencial, atingindo 10,6% da carteira de crédito (vs. 9,9% no 2T23). Em nossa visão, tal movimento naturalmente tende a ocorrer a medida em que a Companhia passa a reacelerar o ritmo de originações. Consolidando ambos os indicadores, o percentual total da carteira em atraso arrefeceu novamente, chegando a 30,9% (vs. 35,0% no 2T23 vs. 37,7% no 1T23), de modo que acreditamos que o indicador NPL < 90 ainda permanece controlado.

    Contudo, conforme comentamos em relatórios anteriores, a inadimplência curta segue sendo um indicador que monitoraremos ao longo dos próximos trimestres. Entendemos que sucessivos desgastes da inadimplência de curto prazo podem gerar uma nova pressão sobre o NPL > 90 e ferir a rentabilidade da operação de crédito.

    Fintech

    Fintech Take-Rate contrai -40bps a/a.

    O take-rate de Fintech totalizou 3,45% (-40bps a/a; -7bps t/t). A retração da taxa vem, principalmente, de (i) um menor ritmo de expansão da operação de crédito em relação ao ano passado e (ii) uma retração do take-rate ex-crédito, em função da prática de taxas mais competitivas de MDR para impulsionar o business de adquirência em meio a um cenário bastante competitivo

    Receita de Fintech cresce +33,2% a/a.

    Consolidando as dinâmicas do Mercado Pago + Mercado Crédito, a receita líquida da Fintech foi de US$1,6b (+33,2% a/a; +10,3% t/t), levemente acima do que projetávamos (+2,1% vs. Genial Est.). Com a retomada gradual de crescimento da carteira e frente a uma base comparativa relativa à operação de crédito mais normalizada, observamos o retorno do ritmo de crescimento mais elástico, considerando que, até então, o Mercado Livre vinha apresentando uma trajetória descendente nos últimos trimestres (33,2% a/a vs. 24% a/a no 2T23 vs. 40% a/a no 1T23 vs. 75%

    MELI34 3T23: Resultado Consolidado

    Receita líquida consolidada acima das expectativas.

    Mais uma vez, o Mercado Livre atingiu um forte crescimento (39,8% a/a; 10,1% t/t), marcando uma receita líquida consolidada de US$3,8b (+4,2% vs. Genial Est.). Na vertical de e-commerce, a Companhia reportou uma forte expansão de +45,3% a/a. Já na vertical de Fintech, o Mercado Livre chegou em uma aceleração de receita líquida na ordem de +33,2% a/a.

    COGS sofrendo aumento, mas em linha com nossas projeções.

    A Companhia reportou um custo de US$1,8b (+31,5% a/a; +4,1% t/t), de acordo com as nossas estimativas (-1,6% vs. Genial Est.). O aumento dos custos está relacionado o impacto dos novos investimentos logísticos direcionados ao aumento do footprint de fullfilment, conforme já esperávamos.

    Forte ganho de margem bruta (+294bps a/a).

    Em nossa visão, existiram três principais drivers de rentabilidade bruta neste trimestre: (i) maior diluição de custos relacionados a CX (Customer Experience), (ii) elevação dos “Collection Fees” originados de um volume transacionado via própria adquirência e (iii) melhores margens no segmento 1P.

    Essas dinâmicas mais do que compensaram a pressão de maiores custos logísticos, permitindo um forte ganho de margem. A margem bruta apresentou uma robusta expansão tanto na visão anual (+294bps a/a), quanto sequencial (+269bps t/t), atingindo 53,1%.

    SG&A também em movimento de elevação. 

    O Mercado livre reportou um SG&A de -US$1,3b (+24,5% a/a;+12,7% t/t), em conformidade com nossas projeções (+0,5% vs. Genial Est.). O aumento deve-se a três fatores: (i) Vendas e marketing; (ii) P&D; (iii) PDD. No entanto, apesar do aumento do SG&A, a empresa apresentou uma melhora na margem devido à diluição de suas despesas operacionais.

    Despesas com marketing crescem devido ao novo programa Meli +. 

    A Companhia apresentou uma despesa de marketing de US$441m (+32,4% a/a; +15,1% t/t), em linha com nossas estimativas (+2,0% vs. Genial Est.). O principal motivo desse aumento foi o esforço em mídia e ativações para fortalecer o branding da nova iniciativa Meli+, conforme mencionamos em nossa prévia

    P&D apresenta aumento devido a maior headcount

    O Mercado Livre reportou uma despesa de -US$396m com P&D, apresentando um aumento de +7,6% t/t e +42,4% a/a. Esse aumento foi impulsionado pela elevação de headcount, seguindo a estratégia de inovação e desenvolvimento de novos produtos, algo que já era esperado por nós dado o plano de expansão anunciado no início do ano.

    PDD aumenta em relação a carteira total (8,1% vs. 6,8% 2T23).

    As despesas de provisionamento totalizaram -US$277m (-0,4% a/a;+24,8% t/t), ficando em linha com nossas estimativas (+1,2% vs. Genial Est.). Considerando o ritmo levemente maior de originações, as despesas de PDD aumentaram sua representatividade em relação a carteira sequencialmente, chegando a 8,1% (vs. 6,8% no 2T23). Ainda assim, vemos uma redução relevante de -225bps a/a (vs. 10,4% no 3T22), gerando ganhos na base anual.

    EBIT apresenta crescimento e expansão de margem devido à diluição das despesas. 

    O EBIT reportado foi de US$685m (+22,8% t/t; +131,3% a/a), superando nossas expectativas (+33,5% vs. Genial Est.), devido a um desempenho de receita mais forte e custos marginalmente menores do estávamos prevendo em algumas linhas. No que diz respeito à margem, a Companhia apresentou um aumento de +721bps a/a e +189bps t/t, consequência da diluição das despesas, principalmente G&A e de uma melhor margem bruta.

    Perdas cambiais continuam impactando negativamente.

    A situação macroeconômica na Argentina ainda resulta em impactos negativos na linha de operações cambiais, com um valor reportado de -US$239m (+31,3% t/t; +236,6% a/a). É importante mencionar que as taxas de câmbio praticadas no mercado são muito superiores aos dados oficiais do país. Ainda assim, não vemos preocupações adicionais, considerando que fizemos no trimestre passado ajustes muito conservadores em nosso modelo em relação às premissas ligadas a operação na Argentina e dados macro do país. Para maiores detalhes, recomendamos a leitura do capítulo “Nossa visão e recomendação” do relatório em que modificamos essas projeções, que segue em anexo (MELI: O tango do mercado…).

    Lucro líquido surpreende e vem ainda mais forte, crescimento de +178% a/a.

    A empresa surpreendeu com um lucro líquido de US$359m (+22,0% vs. Genial Est.), superando nossas expectativas e as do consenso com uma ampla margem, e apresentando um forte crescimento de +37,1% t/t e +178,0% a/a. Para coroar o robusto resultado, a Companhia apresentou uma elevação de margem líquida considerável (+188 bps t/t; +475 bps a/a).

    Nossa visão e recomendação

    Acreditamos que o cenário conturbado na Argentina ainda afugenta investidores das ações. Porém, em nossa visão, isso se torna muito mais um ruído de mercado que amplia a assimetria, tendo em visto que a diversificação, tanto em relação a áreas geográficas de atuação, como também de negócios, proporciona ao Mercado Livre um resultado quase sempre acima das nossas expectativas e das do consenso. Dessa vez não foi diferente.

    Mesmo com a questão cambial pela situação da Argentina ainda apertando a última linha, o lucro líquido foi o maior destaque positivo, através de um crescimento de +178% a/a e marcando um resultado +22% acima das nossas expectativas.

    Desde quando assumimos a cobertura da Companhia, sempre fomos defensores da tese de investimento em Mercado Livre. Gostamos muito da ideia de um ecossistema de negócios, interligando necessidades diferentes e oferecendo uma plataforma completa para sellers e compradores. Quebrando paradigmas desde os primeiros movimentos de compras online no início dos anos 2000, a criação do Mercado Pago foi tiro certeiro para suportar o fluxo de compras e assegurar o melhor alinhamento de interesses entre compradores e vendedores, ajudando a expurgar a desconfiança que havia na época para compras online.

    Hoje, essa desconfiança está mais do que superada, com ~60% dos consumidores em países latino-americanos, foco do Mercado Livre, fazendo até cinco compras online por mês, especialmente nas categorias de long tail. Então, os planejamentos do grupo Mercado Livre para o Mercado Pago começam a alçar voos maiores. A entrada da Companhia no business de banco digital é um desses projetos que veem cada vez mais ganhando corpo e atuando como pilar muito importante para o crescimento expressivo dos resultados do Mercado Livre nos últimos trimestres.

    Queda de juros no Brasil favorece o aumento de originações. Conforme a taxa de juros vai caindo, tendo em vista a operação no Brasil e o terceiro corte seguido da SELIC em mais -50bps para 12,75%, vemos cada vez mais espaço para o Mercado Livre voltar a acelerar as originações de crédito. Para e-commerce, a dúvida de alguns investidores era se o Mercado Livre iria conseguir manter um ritmo de crescimento sequencial, tendo em vista o efeito do evento Americanas desvanecendo-se.

     À medida que o tempo passava, parecia natural acreditar que o ritmo de crescimento iria ser menor, considerando o tamanho do overlap de bases entre as duas companhias antes do início do ano já era considerável, restringindo o espaço para ganhos futuros. Porém, surpreendendo o mercado, o crescimento sequencial do GMV segue forte (+13,5% t/t), com a divisão de e-commerce no Brasil mais de  mil milhas na frente da concorrência, chegando também a um aumento de +38,0% a/a e vindo +11,7% acima das nossas estimativas.

    Aproveitando para colher os louros da vitória no México. Já no México, as taxas de juros vêm sendo mantidas em 11,25%. Porém, o Banxico indicou no último comunicado, em setembro, que a situação da inflação ainda está persistente, e que os preços só devem voltar à meta de 3% em 2025. Considerando o novo produto de cartão de crédito nesta localidade, acreditamos que o ritmo das emissões ainda permanecerá lento até a as condições de crédito se tornem mais favoráveis. Como contraponto, no lado de e-commerce, o país segue em ritmo acelerado de expansão, com uma malha logística já robusta, diante de uma operação que durante muito tempo consumiu muito CAPEX da Companhia nem sempre operou com margens positivas.

    Hoje, o Mercado Livre colhe os louros da vitória no país, ampliando vantagem sobre a Amazon, mesmo com este se beneficiando da estrutura mais próxima dos EUA.  O crescimento do GMV no México foi de impressionantes +59,0% a/a, superando nossas estimativas em +3,3%, demonstrando o poder da rentabilidade do país após os anos de investimento.

    Inciativas dentro do segmento de adquirência para ganhar market share. Já no business de adquirência, como a competição é forte em termos de preço, com diversos players digladiando uns com os outros (Stone, PagSeguro, Getnet, Cielo), o NDR de fato possui uma tendência de cair daqui para frente, o que é um outro ponto de preocupação dos investidores com quem conversamos. Na briga acirrada por market share dentro do primeiro degrau da categoria SMB (Small and Medium Business), o Mercado Pago vem trabalhando em inciativas, com por exemplo o lançamento de novo cartão de crédito para pequenos empreendimentos que utilizam o marketplace ou os sistemas de processamento de pagamentos.

    Com a abertura do ciclo de crédito mais positivo para o Brasil, acreditamos que essas inciativas devem ajudar a incentivar o crescimento do TPV Off-Platform daqui em diante e aumentar a penetração do market share do Mercado Pago, que segundo nosso modelo, está em 6,76%. Apesar dos avanços ainda tímidos neste trimestre, esperamos melhorias nesse tema já no 4T23 e ao longo de 2024.

    NPL<90 dias segue sendo o nosso único ponto de crítica. A taxa de empréstimos inadimplentes (NPL) acima de 90 dias diminuiu pelo terceiro trimestre consecutivo para 20,3% da carteira total, em comparação com 25,1% no 2T23, devido a uma abordagem conservadora em termos de empréstimos no último ano, com foco em cohorts de mais baixo risco. Por outro lado, a inadimplência abaixo de 90 dias (NPL<90) aumentou para 10,6% da carteira de crédito vs. 9,9% no 2T23, uma tendência esperada à medida que a companhia aumenta o ritmo de originações.

    No geral, o percentual total da carteira com atraso nos pagamentos caiu novamente para 30,9%, comparado a 35,0% no 2T23 e 37,7% no 1T23. Embora o indicador NPL<90 permaneça controlado, o aumento constante da inadimplência de curto prazo pode elevar futuramente a pressão sobre o NPL>90 e impactar a rentabilidade da operação de crédito, sendo caracterizado por nós como o primeiro sinal de que a inadimplência da carteira pode voltar a aumentar lá na frente.

    O gramado mais verde da vizinhança. Conforme comentamos, sempre fomos otimistas com a tese de investimento de Mercado Livre, e acreditamos que cada vez mais os pares do varejo na América Latina devem olhar para os números da companhia com a sensação de que  “o gramado do vizinho é mais verde que o meu”. Tanto isso é verdade, que sabemos que o Mercado Livre já negocia com um prêmio frente aos pares, rodando com múltiplos esticados,  diante de um EV/EBITDA 2024E de 19,2x.

    Então, não podemos dizer que o Mercado Livre é particularmente uma empresa barata. Mas isso não quer dizer que não segue atrativa. Mesmo sendo um patamar alto, o indicador se encontra abaixo da média histórica pré-2018 de 29,0x (o período antes do investimento em soluções logísticas e financeiras). Nessa linha, acreditamos que o preço atual não reflete com precisão as inúmeras possibilidades de crescimento que prevemos para a Companhia, que seguem firmes. Nossa recomendação de COMPRA permanece, com um leve aumento de  Target Price 12M para  US$1.575 (vs. US$1.520 anteriormente) para MELI (Nasdaq). Já para os BRDs MELI34 (B3), o Target Price 12M passa a ser de R$65,00 (vs. 60,00 anteriormente), sugerindo um upside de +18,79%.

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