O Mercado Livre reportou seu resultado do 4T23 hoje (22/fev). A companhia reportou uma boa tendência de crescimento, tanto no E-commerce, quanto na Fintech. Ainda assim, os números do trimestre foram impactados por despesas não recorrentes. Dado esse efeito, o resultado operacional e o lucro do período vieram abaixo de nossas expectativas e também abaixo do consenso.
E-commerce
GMV cresce 40% a/a. O Mercado Livre reportou um volume de vendas consolidado de US$13,4b (+40% a/a; +4,7% Est. Genial). A performance do trimestre foi impulsionada pelo ritmo de crescimento de itens vendidos (+29% a/a), que atingiu o maior patamar desde o 2Q21.
Com um aumento de itens vendidos acima de +30% a/a, o Brasil e México seguiram como destaque em termos de GMV. No Brasil, observamos uma aceleração de +43% a/a do GMV local, enquanto no México o volume de vendas cresceu +47% a/a.
Na Argentina, o Mercado Livre segue consolidando um crescimento de vendas acima da inflação, com importante aceleração sequencial (+37% a/a vs. +8%a/a no 3T23), em função de uma tendência mais positiva no número de itens vendidos (+22% a/a vs. +13% a/a no 3T23).
Aumento de +1p.p. no take-rate de e-commerce. No 4T23 o take-rate da vertical de e-commerce chegou a 18,3% (+1p.p. a/a; -0,40p.p. t/t). Na visão anual, a expansão pode ser explicada por (i) revisão de fees ao longo de 2023; (ii) crescimento da operação de 1P no mix de vendas e (iii) maior penetração de receitas de Ads.
Mercado Pago
TPV cresce 57% a/a. O Mercado Pago registrou um volume total transacionado de US$56,5b (+56,9% a/a; +11,8% vs. Est. Genial). O TPV de contas digitais segue crescendo forte, quase dobrando ano contra ano, com expansão de +89,5%, principalmente impulsionado pela maior adesão da conta remunerada. Já o TPV de adquirência segue resiliente e entregando crescimento, com +41,6% ano contra ano.
Queda no fintech take-rate já era esperada. Com o volume total transacionado de contas digitais quase dobrando, o segmento ganhou participação no todo e, por se tratar de um canal que possui menor monetização, impactou diretamente no comissionamento. Já no lado do TPV de adquirência, com a estratégia da companhia em focar nos clientes Small and Medium Business – que possui um maior nível de competição -, o Mercado Pago tem investido em oferecer menores taxas para atrair lojistas. Com isso, a companhia reportou um take-rate de 3,2% (-0,52 bps a/a; -0,37 bps vs. Est. Genial).
Mercado Crédito
Aceleração do crescimento da carteira de crédito. A carteira de crédito consolidada totalizou US$3,8b (+33% a/a; +11% t/t) – acelerando o ritmo de crescimento sequencial em relação ao observado nos últimos trimestres (+4,7% t/t 3T23; +6,6% t/t 2T23). Essa expansão foi impulsionada, principalmente, pelo crescimento das carteiras de cartão de crédito e ‘Consumer’ no Brasil, que compensaram a contração da operação de crédito na Argentina decorrente da desvalorização da moeda local.
Tendências estáveis de inadimplência. A inadimplência curta (NPL 15-90 dias) apresentou uma leve aceleração sequencial (+0,6p.p. t/t), em função de uma maior penetração da operação de cartão de crédito no mix de produtos da vertical. Por outro lado, o NPL > 90 dias seguiu em trajetória decrescente (-1,6p.p. t/t), a medida em que a priorização de cohorts de baixo risco tem melhorado os níveis de inadimplência, ajudando a amenizar os impactos do envelhecimento da carteira (aging).
Consolidado
Receita líquida em linha com nossas estimativas. Com sólidos crescimentos de topline, tanto em e-commerce (+48% a/a), com em fintech (+34% a/a), o Mercado Livre reportou uma receita líquida consolidada de US$4,7b (+42% a/a; +13% t/t), em linha com nossa expectativa (-0,8% vs. Est. Genial).
One-off nos custos… O Mercado Livre reportou um gasto não recorrente de -US$89m nos custos. Deste valor, US$31m são relativos ao julgamento do STF em relação à necessidade de pagamento retroativo do DIFAL referente ao período entre abril e dezembro de 2022. Os outros US$58m se referem a um provisionamento relacionado à processos judiciais correntes (mais detalhes abaixo). Com esse efeito, a margem bruta apresentou uma redução de -2,7p.p. a/a, chegando a 45,9%.
Excluindo impactos não recorrentes a margem é de 47,9% (-0,3p.p. a/a), ainda levemente pressionada por (i) maiores investimentos na rede logística e (ii) redução dos shipping fees, com maior participação de uma política de frete grátis via MELI+ (programa de fidelidade).
… E também nas despesas. O segundo gasto não recorrente do trimestre de -US$320m se refere a uma provisão relativa a processos judiciais em curso que discutem a possibilidade de cobrança de imposto de renda sobre pagamentos das subsidiárias brasileiras à subsidiária argentina pela prestação de serviços de suporte informático e outros serviços de TI. Segundo a empresa, o risco de perder o caso é agora provável, levando ao provisionamento desses gastos no trimestre. Do valor total, US$58m foi registrado no custo das receitas e $261m nas despesas de desenvolvimento de produto.
Frente a esse montante de efeitos extraordinários, o Mercado Livre reportou um resultado operacional de US$240m (-31% a/a), com uma pressão de -6p.p. na margem. Excluindo estes impactos, a margem operacional teria sido de 13,4% (+1,8p.p. a/a).
Vale ressaltar que, considerando que as despesas não recorrentes se referem, majoritariamente, a períodos anteriores, se adicionarmos as despesas referentes ao 4T22 ao EBIT do período, a comparação 4T23 vs. 4T22 implicaria em um ganho de 2,7p.p. a/a.
Não-recorrente tem forte impacto no resultado. Somado ao efeito das despesas one-off no trimestre, a companhia registrou -US$107m em perdas cambiais, principalmente pela intensa desvalorização do câmbio na Argentina. Frente a isso, o Mercado Livre reportou um lucro líquido de US$165m, estável vs. 2022 (+0,6% a/a), porém, abaixo tantos das nossas expectativas (-45% vs. Est. Genial), quanto do consenso (-54,7% vs. Bloomberg Cons.).