Estávamos esperando um trimestre mais fraco para a Minerva, em linha com as expectativas do mercado, porém os resultados vieram ainda mais fracos. Isto pode ser explicado principalmente pelos menores volume e preço médio de venda no mercado externo, e pela piora no resultado financeiro da companhia, impactado por maiores despesas financeiras (dada a elevação da taxa de juros DI) e por um resultado de hedge cambial bastante negativo.
Entretanto, o ciclo positivo do gado no Brasil e no Paraguai, o qual deve proporcionar uma redução de custos e, consequentemente, implicar em uma expansão de margens, somado a uma crescente demanda oriunda da China com o término das restrições impostas pela política de Covid-zero, colaboram para seguirmos otimistas com as ações da companhia, mantendo assim nosso preço-alvo de R$ 20,00 e recomendação de COMPRA para o frigorífico.
Análise dos resultados
A maior exportadora de carne bovina da América do Sul reportou um trimestre bem mais fraco que o anterior e abaixo das nossas expectativas e do consenso do mercado, embora tenha fechado o ano com números bastante fortes e com uma receita líquida recorde.
Sendo prejudicada por um volume de vendas mais fraco no mercado externo, e por um preço médio de venda no mercado externo também menor, a companhia reportou uma receita líquida de R$ 6,8b, uma queda de 8,9% a/a com uma retração de 18,9% t/t. Esta maior retração no trimestre se deve, majoritariamente, por quedas acentuadas nas receitas oriundas da produção na Argentina, Colômbia e Uruguai.
A companhia entregou um EBITDA de R$ 607m, queda de 17,4% a/a e de 24,7% t/t, e uma margem EBITDA que apresentou um declínio de 0,7 p.p., atingindo 8,9% e estando em linha com nossas expectativas. Por fim, a companhia reportou um prejuízo de R$ 25m, bem abaixo de nossas expectativas e do consenso de mercado, dado um forte impacto negativo de R$ 198m oriundo de instrumentos financeiros de proteção cambial (hedge), além do impacto de uma taxa de juros DI mais elevada.
Mesmo com um quarto trimestre mais fraco, a Minerva encerrou o ano entregando uma receita líquida de R$ 31b, maior patamar histórico para a companhia e um avanço de 14,9% em relação a 2021, um EBITDA de R$ 2,8b, o qual representa um crescimento de 17,6% a/a, uma margem EBITDA com crescimento de 0,3 p.p., e um bottom-line (lucro líquido) de R$ 655m , 9,4% maior que em 2021. Nota-se ainda que a companhia finalizou o ano com uma alavancagem, já ajustada pela aquisição da ALC (Australian Lamb Company), de 2,15x Dívida Líquida/EBITDA, o menor patamar desde 2007.
Observa-se também que a companhia irá enviar para aprovação em Assembleia de Acionistas, o pagamento de R$ 209m em dividendos complementares, equivalentes a R$ 0,36 por ação (ou dividend yield de 3%), totalizando assim o montante de R$ 337m, equivalentes a R$ 0,58 por ação (ou dividend yield de 4,9%) distribuídos como proventos em relação ao exercício fiscal de 2022.
Olhando adiante
Recentemente, houve a confirmação de um caso atípico da doença de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “vaca louca“, encontrado em um boi no estado do Pará. Devido a isso, as exportações de carne bovina para a China foram temporariamente suspensas.
Como o foco da Minerva é em exportações (segmento que representa cerca de 70% de sua receita), e a China é historicamente responsável por aproximadamente 50% da receita deste segmento, caso essa suspensão não seja brevemente retirada, o resultado operacional da companhia deve vir fraco no próximo trimestre. Por meio de sua operação no Brasil, a companhia costuma exportar para a China a partir de 3 plantas brasileiras. Enquanto a suspensão permanece, a companhia buscará atender a demanda chinesa por meio de 3 plantas de abate no Uruguai e 1 na Argentina.
Como acreditamos que a suspensão mencionada não deve perdurar por muito tempo, em especial devido ao caráter do caso (atípico, ou seja, sem possibilidade de disseminação) e pela expectativa do novo governo brasileiro apresentar uma postura menos combativa em relação à China, seguimos otimistas com a companhia, a qual deve, em 2023, se beneficiar do momento positivo do ciclo do gado no Brasil e Paraguai, e apresentar um payout de, no mínimo, 50% do lucro líquido neste ano (cerca de R$ 600m em dividendos, ou um dividend yield de 7,9%).
Vemos ainda com bons olhos a aquisição da Breeders and Packers (BPU Meat) por US$ 40m no Uruguai, um mercado nichado e premium, a habilitação de mais uma planta da companhia para exportar para a Indonésia, um dos maiores consumidores de carne Halal no mundo e com potencial de crescimento, e a reversão do ciclo do gado na América do Norte, a qual tem pressionado os custos do gado na região e pode levar os EUA a importarem mais carne bovina de países em que a produção esteja mais barata, como Brasil e Paraguai, fator que poderia vir a beneficiar a Minerva.