Neste relatório, compartilhamos nossas impressões sobre o Porto Day e as expectativas para 2024. No geral, acreditamos que a mensagem da Porto foi positiva apesar de não trazer muitas novidades. De novidade e com aspectos positivos destacamos:
- Novo CEO. A apresentação do novo CEO, Paulo Kakinoff, que assumirá oficialmente o cargo no início de 2024. Ele já deixou o conselho de administração e está realizando estágios em diversas áreas da seguradora para compreender melhor o ambiente operacional.
- Vertical Serviços. O lançamento oficial da quarta vertical de negócios, ao lado das já conhecidas verticais de Seguros, Saúde e Banco, marca um ponto importante para a empresa. Essas quatro verticais passarão a ser o foco e o eixo de crescimento nos próximos anos. Uma mudança significativa em relação à estrutura anterior é a designação de um CEO específico para a unidade de Serviços, diferentemente do modelo anterior que não contava com essa posição. Além disso, a vertical de Serviços deixará de englobar unidades que não são mais prioridade para a Porto, como Auto Fácil (automóvel por assinatura), Tech por Assinatura (celular por assinatura) e Monitoramento. Antecipamos que esses três negócios serão agrupados em uma quinta unidade denominada “Outros Negócios”, com perspectiva, na nossa visão, de eventual venda ou fusão com outros parceiros.
- Venda Cruzada. Num contexto relevante para a indústria de seguros, a Porto busca intensificar a venda cruzada (cross-selling), aumentando o número de negócios por CPF e a participação de mercado. Esse impulso será alcançado por meio do aprimoramento do cross-selling entre suas verticais, por meio da otimização do uso de dados, oferta de produtos, assertividade, experiência do usuário (UX) e tecnologia.
- Itaú. Um tema que gerou controvérsias ao longo de muitos anos, especialmente devido ao fraco desempenho de vendas, o canal bancário Itaú experimentou uma melhora significativa após a reestruturação da seguradora do Itaú. Essa reestruturação deve continuar contribuindo para o crescimento desse canal de distribuição. Adicionalmente, no banco digital da Porto, a seguradora pretende utilizar o modelo BAAS (bank as a service) do Itaú para sua plataforma bancária.
Do lado um pouco mais negativo no Porto Day, o foco foi direcionado ao seguro auto, que pode enfrentar desafios para apresentar crescimento de prêmios emitidos (vendas) e reduzir o nível de sinistralidade até 2024, considerando os níveis recordes em 2023. No entanto, nossa análise de sensibilidade, que leva em conta a variação anual dos prêmios emitidos em relação à sinistralidade (consulte o tópico Porto Seguro), indicou que o impacto no lucro e na rentabilidade do grupo não deveria ser muito significativo, dado o cenário atual que projetamos. Isso se deve ao fato de que a receita (prêmio ganho) é reconhecida gradualmente, e o sólido desempenho de 2023 deve contribuir para a linha de resultados dos próximos trimestres. Além disso, outros tipos de seguros continuam com forte expansão em 2024. Assim, mesmo considerando 0% de crescimento nos prêmios emitidos e um índice de sinistralidade de 59% (+2pp em relação às nossas estimativas para 2023), a ação ainda apresentaria uma avaliação atrativa, com um P/L de apenas 7,6x.
Sensibilidade do Crescimento de Prêmio Emitido em 2024 x Índice de Sinistralidade: Valuation continua atraente em 2024
Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de COMPRA, com um preço-alvo de R$ 35,0 para o final de 2024, com base no modelo de Gordon Growth, utilizando os seguintes parâmetros: ROE de 18,4%, crescimento de 8,6% e custo de capital de 14,30%. Observamos ainda um upside interessante de 22,0% e múltiplos atrativos de 7,4x P/L para 2024 e 1,4x P/VP para 2023.
Novo CEO: Foco em gerar resultado
Paulo Kakinoff fez seu primeiro contato com o mercado após o anúncio de que assumiria o cargo de CEO da Porto. Seu mandato se inicia em janeiro de 2024, e acreditamos que está bem-preparado para liderar a empresa. Conforme destacado em nosso relatório de conversa com investidores, Kakinoff já integra o conselho da empresa há 3 anos. Além disso, ele acumula cerca de 21 anos de experiência na indústria automobilística e ocupou o cargo de CEO na Gol, uma indústria altamente competitiva, onde demonstrou uma gestão mais transparente e uma melhoria significativa no relacionamento com o cliente. A transição da liderança está ocorrendo de maneira harmoniosa e natural, com Kakinoff envolvido operacionalmente (“in field”) durante esse período para compreender todos os aspectos fortes e fracos da empresa, o que, em nossa análise, deve resultar em decisões mais acertadas.
Atualmente, o novo CEO identifica alguns pontos que merecem aprimoramento durante seu mandato, tais como (i) a jornada digital dos clientes; (ii) o fortalecimento do cross-selling entre as verticais, visando uma maior penetração dos produtos na base de usuários da Porto; e (iii) a simplificação da integração dos processos com os corretores, tornando a oferta de produtos cada vez mais eficiente. Adicionalmente, Kakinoff vê oportunidades para promover o up-selling dos produtos por meio de “combos”, como, por exemplo, a inclusão de seguro para celular e bicicleta quando o cliente contratar um seguro residencial. Atualmente, a Porto possui uma média de 1,7 negócios por CPF, e Kakinoff acredita que ultrapassar a marca de 2 negócios por CPF teria um impacto positivo significativo no lucro. Portanto, inferimos que o foco será aprimorar o número de negócios por cliente, viabilizado pela otimização do cross-selling. Adicionalmente, o novo CEO reafirmou os três fundamentos da empresa que lhe concedem um diferencial competitivo: (i) Essência humana; (ii) Dedicação ao cliente; e (iii) Compromisso com a qualidade.
Porto Seguro: Tendência mais fraca para 2024, mas futuro é promissor
O segmento de seguro automotivo na vertical de Seguros foi quem apresentou maiores desafios para 2024. O CEO da vertical, Rivaldo Leite, indicou que a tendência é que os prêmios emitidos permaneçam estáveis no próximo ano e que provavelmente não conseguirá alcançar o mesmo nível de ROE registrado em 2023. O principal motivo para a estagnação dos prêmios em 2024 é o processo intenso de reprecificação dos contratos que a Porto implementou nos últimos anos, algo que será mais desafiador de replicar, especialmente diante do declínio de preços na tabela FIPE.
Além disso, há concorrentes, como a Allianz, que já reduziram os preços, embora outros ainda não tenham seguido o mesmo caminho, já que o mercado está focado em entregar resultados. Rivaldo também mencionou que será desafiador alcançar uma sinistralidade inferior à de 2023. Um aspecto positivo é que a gestão da Porto está focada em alcançar resultados, evitando entrar em guerras de preços e optando por perder frotas em vez de comprometer os resultados.
Diante dessa notícia mais negativa, conduzimos uma análise de sensibilidade para compreender o impacto no lucro de 2024 decorrente da estagnação dos prêmios emitidos da Porto e dos maiores níveis de sinistralidade no próximo ano. Em nossos estudos, com crescimento de 0% a/a nos prêmios emitidos e um índice de sinistralidade de 59% (+2pp a/a em relação às nossas projeções para 2023), o lucro da Porto seria de R$ 2,4b (+7,2% a/a em relação às nossas estimativas de 2023), representando ainda um valuation atrativo, em nossa visão, de apenas 7,6x P/L para 2024. No cenário mais desafiador, em que os prêmios emitidos diminuem 5% a/a e a sinistralidade aumenta para 61%, o valuation seria de 8,3x P/L para 2024, ainda considerado atrativo em nossa perspectiva.
Sensibilidade do Crescimento de Prêmio Emitido em 2024 x Índice de Sinistralidade: Lucro, Crescimento de Prêmio Ganho e Valuation
O impacto no lucro líquido da empresa não é tão significativo com a estagnação dos prêmios emitidos, uma vez que estes representam apenas a venda dos seguros, enquanto a receita (prêmios ganhos) é reconhecida de forma gradual. A receita será beneficiada em 2024 pelo sólido desempenho de 2023. Assim, em nossas simulações, com a estabilidade ano a ano dos prêmios emitidos, a receita do segmento apresentaria um crescimento de +5,6% a/a, e no pior cenário, expandiria em +3,1% a/a.
Rivaldo acredita que os outros seguros continuarão apresentando um desempenho sólido para 2024, o que, em nossa perspectiva, contribuirá para compensar o segmento automotivo mais fraco em termos de vendas.
Para além dos resultados em si, observamos um plano estratégico interessante para o longo prazo da vertical de negócios, incluindo: (i) o foco da empresa em oportunidades regionais visando aumentar a participação de mercado; (ii) a melhoria na relação com a distribuição de produtos via Itaú, após a reestruturação do banco de sua unidade de seguros, o que deve impulsionar o crescimento; (iii) incentivos como premiações para corretores, elevando a motivação da equipe de vendas; (iv) o lançamento de novos produtos em diversos tipos de seguros, como patrimonial e vida; e (v) a introdução de tecnologias para combater sinistros, como medidas preditivas, e simplificar sinistros de terceiros.
Ademais, a Porto contratou Patrícia Chacon como diretora de operações (COO). Patrícia, ex-Liberty, foi reconhecida por impulsionar a melhoria tecnológica na antiga empresa e alcançou a posição de CEO. No campo acadêmico, Patrícia possui MBA pela Harvard e diploma em negócios e tecnologia na The Wharton School.
Porto Saúde: Em busca de share
A vertical de Saúde tem conquistado mercado, especialmente em São Paulo. No intuito de melhorar o controle da sinistralidade, a Porto Saúde montou um time médico, que já representa aproximadamente 30% das consultas e 20% das cirurgias da empresa em São Paulo. Sami Foguel, CEO da vertical de Saúde, destacou que 99,6% das vidas que ingressam na Porto provêm de concorrentes, e no 3T23 já contavam com 510 mil vidas no seguro saúde, registrando um aumento de 61% em comparação com 2021. A métrica de despesa administrativa mensal por vida reduziu de R$ 58 em 2019 para R$ 49 em 2022, e o índice de sinistralidade no terceiro trimestre de 2023 já retornou aos níveis pré-pandêmicos de forma mais rápida que a média do mercado. Além disso, as receitas atingiram R$ 4,2b nos 9M23, resultando em um lucro líquido de R$ 135m (excluindo a transação com a Oncoclínicas), um aumento de 136% em relação a 2021.
Diversos fatores contribuem para o sólido desempenho da vertical, tais como: (i) a implementação de tecnologia e inovação, exemplificadas por canais digitais (aplicativo, portais, entre outros), atendimento omnichannel, jornada do prestador e inteligência médica (telemedicina, home care, entre outros), e dados e inteligência (data lake, rede integrada, entre outros); (ii) verticalização virtual, que inclui parcerias estratégicas (Joint Venture com a Oncoclínicas e hospitais como Oswaldo Cruz) e o time médico Porto, composto por 500 profissionais em 330 endereços; e (iii) a potência da força de vendas, com mais de 24 mil corretores ativos. Além disso, a Porto lançou um novo produto na vertical voltado para empresas (Linha Pro), segmento no qual pretende expandir cada vez mais, onde há uma grande oportunidade, já que detém apenas 2,8% do market share coletivo empresarial no eixo Rio-São Paulo.
Porto Serviços: Uma nova vertical
Comandada por um novo CEO, Lene Araújo, a Porto formalizou a criação da vertical de Serviços, que exclui as linhas de negócio Auto Fácil (carro por assinatura), Tech Fácil (celular por assinatura) e Monitoramento. Na nossa avaliação, a exclusão desses negócios da vertical Serviços é positiva, melhorando o foco da gestão na vertical. Dado o resultado negativo dessas três linhas de negócios, acreditamos que eventualmente possam ser descontinuados, vendidos ou fusionados.
A nova vertical incluirá (i) Mobilidade: guincho, cargas ou trocas de baterias e pneus, chaveiros; (ii) Residência e Empresas: reparos em linha branca, serviços hidráulicos, serviços elétricos; e (iii) Cotidiano das pessoas: instalações de TVs, ar-condicionado, serviços de help desk, entre outros. Segundo a apresentação da Porto, a vertical teria registrado uma receita de R$ 1,8 bilhão e um lucro líquido de R$ 227 milhões (R$ 185m correspondentes aos 81% de participação da Porto) nos 9M23, resultando em uma margem líquida de 13,7%. Considerando esses segmentos, a Porto realizou 3,7 milhões de serviços no acumulado do ano, equivalente a mais de 13 mil serviços por dia, com um NPS de 83 (um índice muito elevado). A vertical tem a capacidade de atuar em diversos segmentos de empresas, como varejo, seguradoras, utilities, telecom, bancos, montadoras, locadoras, entre outros. Além disso, a recente aquisição da Unigás contribuiu com 90 mil serviços nos 9M23. Além disso, a Porto pretende ressaltar qualquer pessoa pode adquirir os serviços oferecidos (não necessitam ser clientes de seguro da Porto), ou seja, podem contratá-los de forma independente. Nesse sentido, a vertical pode ajudar a capturar clientes e aumentar o cross-selling entre as diferentes verticais.
Porto Bank: Cross-sell deve gerar crescimento
O Porto Bank tem um forte potencial de crescimento segundo o management. No 3T23, a unidade apresentou um lucro líquido de R$ 125m e uma rentabilidade (ROE) bastante atrativa, atingindo 33,3%. Apesar dos bons números, a inadimplência (+90 dias) atingiu 7,4%, um patamar elevado, mas com sinais de queda. A Porto continua com contenção na originação para clientes mais arriscados (mar aberto), com foco nos clientes Porto. Além disso, o management destacou que, considerando a nova política de crédito, a inadimplência reduziria para 6,4%, refletindo uma abordagem mais conservadora. A inadimplência de curto prazo (15 a 90 dias) já apresenta uma melhora significativa, saindo de 5,1% no 1T23 para 4,5% no 3T23.
O management enfatizou novas possibilidades de crescimento de receita e diversificação. Hoje as receitas da vertical são: 50% provenientes de taxas e 50% de operações de crédito. Além disso, a gestão destacou o crescimento da receita nos produtos de acúmulo (consórcio de imóvel e auto, e produtos de capitalização), com foco na melhora do cross-selling. A parceria de Banking as a Service (BaaS) pode ajudar o time-to-market do Porto Bank, além de gerar economias em comparação com o desenvolvimento de tecnologia própria pela Atar. Além disso, a gestão visa transformar a oferta de banco digital em uma conta de utilização mais ampla, considerando inclusive desenvolver algum tipo de remuneração para os clientes com saldo em conta.
Atualmente, apenas 20% dos clientes Porto Seguro, 8% dos clientes Porto Saúde e 5% dos clientes de Serviços estão vinculados ao Porto Bank, indicando um considerável potencial de crescimento com a própria base de usuários interna. 30% dos corretores já vendem produtos do Porto Bank de forma recorrente, o que deve contribuir para aumentar o número de usuários ao longo do tempo.