Quanto Menor Colchão, Mais Dura a Queda
O lucro do Santander foi de R$ 4b no 1T22, crescendo 3,2% a/a e caindo 0,2% t/t. Apesar do lucro vir em linha com as expectativas do mercado, a qualidade do resultado não foi tão boa na nossa avaliação. O resultado operacional foi fraco, em função da elevação das provisões (+60,5% a/a e 30,2% t/t) e baixo crescimento da margem financeira (+6,8% a/a e 1,2% t/t). O resultado operacional retraiu 8,1% a/a e 7,1% t/t. O lucro foi salvo pela queda nos impostos em função dos benefícios fiscais do pagamento de JCP.
Para o ano de 2022, estamos menos otimistas com o Santander do que para demais bancos, dado (i) o menor índice de cobertura (colchão de provisão) para fazer frente a elevação da inadimplência e (ii) expectativa de crescimento de lucro modesto próximo a 5% no ano. O índice de cobertura (90d) fechou o 1T em 215% (-5,53 p.p). Ao valuation de 1,41x P/VP recomendamos MANTER.
Margem financeira: pressão da margem com mercado
A margem financeira (NII) do Santander subiu modestos 6,8% a/a e 1,2% t/t. O NII foi impactado negativamente pela queda substancial de 95,5% e 97% da margem com o mercado (NII mercado), resultado da sensibilidade negativa a movimentos da curva de juros. Isso porque o banco pré-estabelece a remuneração do capital de giro na margem com clientes no começo do ano. Ou seja, no começo do 2021, a remuneração foi marcada na faixa dos 2% e o diferencial entre essa taxa inicial e a taxa efetiva de 4-5% ficou na margem com o mercado. Para 2022, essa taxa inicial de remuneração na margem com clientes é bem superior, em torno de 11-12%. Por isso, esperamos que a margem com o mercado se mantenha pressionada ao longo do ano. Por outro lado, a margem com clientes (NII clientes) avançou 29,6% a/a e 12,9% t/t, beneficiada pela melhoria do mix de produtos e spread de captação, mas não o suficiente para compensar a queda da margem com o mercado.
Qualidade de crédito: tendência de piora
Assim como esperávamos, a inadimplência (NPL 60 d) cresceu 0,34 pp t/t e 0,92 pp a/a, atingindo 3,7% da carteira. O índice de cobertura (90 d) caiu 5,53 pp t/t e 68,15 pp a/a para 215%. Esperamos uma continuidade da elevação da inadimplência para 2022, que deve atingir os patamares do pré-pandemia. A cobertura deve continuar a ser consumida, reduzindo gradativamente o índice de cobertura ao longo do ano.
Em linha com elevação da inadimplência, as provisões (custo de crédito) subiram consideravelmente em 60,5% a/a e 30,2% t/t, sendo o principal detrator do resultado. Esperamos uma continuidade das provisões em patamares mais elevados no comparativo anual. O crescimento das provisões é uma das principais causas para a expectativa de um modesto crescimento de lucro em 2022 entre 5%.
Carteira de crédito: efeitos do câmbio
A carteira de crédito caiu 1,6% t/t, avançando 7,2% a/a. O menor ritmo de crescimento anual e queda trimestral são resultados da retração de 10,8% a/a e 7,7% t/t da carteira de grandes empresas. A carteira de grandes empresas foi impactada negativamente pela variação cambial do 1T e menor originação. O saldo da carteira em moeda estrangeira caiu 21,6% a/a e 8,3% t/t.
Imposto: salvador da pátria
Como resultado do menor NII e elevação das provisões, o resultado operacional caiu 8,1% a/a e 7,1% t/t. No entanto, o lucro foi ajudado pela queda de 38,6% a/a e 11,2% t/t do imposto. A alíquota efetiva caiu 3,3 p.p t/t e 17,6 p.p a/a, chegando a 27,9%. O banco sinalizou que a alíquota efetiva deve terminar o ano entre 30-33%.
A menor alíquota advém do benefício fiscal do pagamento de JCP (juros sobre capital próprio) anunciado no 1T. O JCP anunciado foi de R$ 1b. Na mesma data foi anunciado o pagamento de dividendos no valor de R$ 700m. O pagamento ocorrerá em 16/mai com as ações negociando ex-diretores a partir de 20/abr. O dividend yield do pagamento é de 1,4%.
Tarifas bancárias: efeitos sazonais
As receitas de tarifas do Santander cresceram 5,7% a/a e caíram 7,3% t/t. A queda t/t é resultado da sazonalidade em cartões (-13,7% t/t) e seguros (-25,7% t/t). Seguros costumam ter um desempenho comercial mais fraco e cartões são impactados com o menor consumo no início do ano.
Despesas: corte de custos
As despesas do Santander ficaram sob controle, caindo 3,1% a/a e crescendo 1,8% t/t. O dissídio de salários do ano passado, que foi na faixa dos 11% vêm pressionando os custos, com as despesas com pessoal subindo 14% a/a e 2% t/t. Em compensação, o Santander fechou 200 agências no trimestre, que correspondiam a 10% do total.