Mas com uma ajuda de imposto…
O Santander divulgou resultados do 3T21 com lucro de R$ 4,35b, em linha com as nossas estimativas de R$ 4,25 e 5,3% acima do consenso de R$ 4,1b. Contudo, vale destacar que o resultado antes de imposto veio fraco, com queda de 2,3% a/a e 6,7% t/t. Por isso, o avanço do lucro de 4,1% t/t e 11,2% a/a pode ser atribuído em boa parte ao pagamento de R$ 3,4b de juros sobre capital próprio no 3T21, gerando um benefício fiscal, o que fez com que a nossa percepção do resultado fosse mais para neutra a levemente positiva, dado que o trimestre teve mais positivos que negativos na nossa visão. O imposto foi de R$ 1,87b no trimestre versus R$ 2,4 no 2T21 e no 3T20, ajudando o banco a impulsionar seu lucro. O banco provavelmente manteve sua posição de liderança em termos de rentabilidade com um ROE de 21,8%.
Na nossa avaliação, apesar do lucro acima das expectativas, as crescentes provisões são um sinal de alerta para um eventual pico de inadimplência no início de 2022, dado que o banco mantém um índice de cobertura inferior a rivais. Com a retomada de produtos rotativos, que possuem maior risco de inadimplência, somada a um índice de cobertura inferior a outros players de 153%, as provisões (líquidas de recuperação) apresentaram um crescimento de 41,2% a/a e 11% t/t, tendência que poderá se acentuar a depender do ritmo de elevação da inadimplência.
O destaque do resultado foi o excelente desempenho da margem financeira bruta, que cresceu 20,3% a/a e 9,1% t/t, mesmo em cenário de maior pressão de spread com a rápida elevação da taxa de juros. A margem com clientes do Santander aumentou 14,8% a/a e 5,4% t/t, o que acreditamos que deva ocorrer também com a maioria dos bancos privados em decorrência da melhora de mix com a retomada de volumes rotativos, cujos spreads são mais elevados. Do lado da margem com o mercado (tesouraria do banco), o resultado foi muito forte com uma aceleração de 32,8% a/a e 29,4% t/t, fruto de operações de hedge, que tem dentre seus objetivos proteger a margem de juros da elevação da taxa Selic.
Assim como esperávamos, um bom indicador dos bons resultados operacionais, e principalmente do crescimento do banco é o aumento das receitas de tarifas em 2,8% a/a mesmo com saída da Getnet dos resultados. A surpresa ficou justamente para as receitas de cartões cujo avanço foi de 31% a/a e 9,5% t/t, explicado pela retomada econômica e crescimento da base de clientes cartonistas em 47% a/a e 8% t/t, que ajuda a explicar os expressivos crescimentos dos volumes.
Pontos Positivos
- ROE mais alto do setor. Mesmo já sendo o mais alto entre os grandes bancos ao longo do último ano, ROE do Santander avançou mais 0,7 p.p t/t e 1,1 p.p a/a. Bradesco e Itaú reportam na sequência, mas achamos difícil superar essa marca.
- Crescimento expressivo de clientes. Abriu em média + de 870k contas por mês, crescimento em ritmo de fintech.
- Crescimento das receitas de juros (NII). Com melhora de mix o NII e NIM (spread) avançaram. A NIM cresceu 0,59 p.p. t/t e 0,76 p.p. a/a.
- Receitas de tarifas crescendo mesmo sem Getnet. Receitas de tarifas cresceram mesmo sem contribuição da Getnet.
- Alíquota efetiva mais baixa por conta do JCP. A alíquota efetiva foi de 30,4% versus 37,3% no tri passado e 39,4% no 3T20.
- Índice de capital (tier 1) saudável. Com proposta de tributação de dividendos, vantagens ao controlador e nível de capital saudável (12,9%) pode haver um payout extraordinário.
Pontos Negativos
- Imposto menor. Apesar de positivo por contribuir para o lucro, menor alíquota efetiva (que seria menos recorrente), ajudou o crescimento do lucro, dado que resultado antes de imposto era decrescente t/t e a/a.
- Elevação do provisionamento. Crescimento de provisões refletem o índice de cobertura mais baixo dentre os grandes bancos privados (153%).
- Dissídio com aumento salarial pressionando custos. Mesmo mais eficiente que demais bancos, dissídio de 11% deverá continuar pressionando despesas administrativas. A relação custo/ receitas chegou a 37,9%, elevação de 5% t/t.
- Outras receitas e despesas operacionais crescendo 102,1% a/a. Elevação nas despesas relativas à atualização monetária sobre provisões para processos judiciais, despesas de cartão, comissões para abertura de contas e variação cambial.