Os números do 3T22 do Santander foram bem aquém das expectativas, com quedas em várias linhas de receita em relação ao tri passado e piora nas despesas com provisão para crédito duvidoso. O fraco resultado poderia ser ainda pior se não fosse uma forte melhora nas despesas com impostos por conta do pagamento de JCP (R$ 700m). O lucro (BRGAAP) de apenas R$ 3,04b veio -20,7% abaixo das nossas expectativas, -17,9% abaixo do consenso, representando uma queda substancial de -23,6% t/t e -28,9% a/a. Com isso, o ROE (rentabilidade) do banco despencou da faixa dos 20% para 15,16% nesse tri.
O desempenho mais fraco foi impactado principalmente pelas seguintes dinâmicas:
- Receita de operações com o mercado (tesouraria) continuou negativa em -R$ 1,55b
- Margem com clientes contraiu marginalmente t/t
- Receitas de serviços e tarifas caiu -3% t/t e -2% a/a
- Despesas de provisões para crédito duvidoso (líquido de recuperação) atingiu R$ 5,6b, aumento de 6% t/t e 72% a/a
Podia ser pior. Preferência por Itaú e BB para o trimestre.
Já esperávamos uma dinâmica mais delicada do Santander no 3T22 (para mais detalhes acesse nossa prévia) mas os números vieram bem mais fracos e como se não bastasse, a alíquota de imposto de apenas 7% contribuiu parcialmente para melhorar o lucro do banco. Com isso, acreditamos que o resultado bem mais fraco engatilhe revisões negativas das estimativas dos analistas. Para a temporada de balanços, reiteramos nossa preferência por Itaú e Banco do Brasil que devem apresentar boas dinâmicas operacionais, resultando em um bom crescimento de lucro tanto no comparativo trimestral como no anual.
Nem tudo foi ruim. Mensagem mais construtiva do CEO e CFO.
Durante o conference call com analistas e investidores essa manhã, o CEO passou uma mensagem mais otimista, reiterando uma melhora nas novas safras de crédito após tomarem certas medidas no 4T21. Esse ano, o banco ainda deve sofrer com as provisões necessárias para refletir a piora nas safras de crédito anteriores a essas medidas. Como havíamos ressaltado anteriormente, acreditamos que por ter um colchão de provisões (cobertura) abaixo dos pares, qualquer piora de ciclo de crédito, força o Santander a aumentar suas despesas de provisões de forma mais contundente e tempestiva. No entanto, a melhora das novas safras só ficará mais visível em 2023, quando poderíamos observar uma redução nos índices de inadimplência, aceleração no crescimento de crédito e, portanto, uma melhor dinâmica de crescimento de lucro. Outro indicador positivo foi o crescimento de cliente tanto t/t como a/a, que formam uma boa base para 2023.
Destaques do 3T22
Crédito
A carteira de crédito acelerou marginalmente o crescimento nesse tri saindo de 2,9% t/t no 2T22 para 3,4% t/t nesse trimestre, crescendo mais em alguns segmentos e corroborando o discurso do CEO de que o banco estaria com uma agenda voltada ao crescimento com as novas safras vindo com menos inadimplência. A carteira de crédito cresceu +3,4% t/t e +7,6% a/a. A pessoa física continua com forte representatividade, sendo 57,9% da carteira total.
Receita com juros
A receita liquida de juros (NII) continua sofrendo, com queda de -5.5% t/t e -17,2% a/a.
NII Clientes
Apesar do crescimento da carteira, a margem com clientes caiu de -1,0% t/t por conta do mix mais conservador, com produtos de menor risco, mas com menor taxa, contribuindo para uma compressão do spread consolidado. Na comparação anual, o NII clientes continua crescendo bem mais que a carteira de crédito.
NII Mercado
A margem de mercado (tesouraria) continua pressionada devido a marcação à mercado por conta do aumento dos juros. O banco reportou uma perda bruta de -R$ 1,55b, praticamente no mesmo patamar do 2T22. A administração estima que essa linha deve ser impactada negativamente até meados 2023.
Receita de serviços e tarifas
As receitas com serviços e tarifas viram mais fracas com queda de -3% t/t e -2,0% a/a, movimento inverso do número de clientes que continuou crescendo. A receita de consórcio caiu -20% t/t, impactada por uma nova regra do Banco Central. Mas mesmo assim, tirando este efeito, o resultado continua em queda de -1,9% t/t.
Inadimplência
O índice de inadimplência piorou tanto nas carteiras PF como PJ. A inadimplência acima de 90 dias atingiu 3,0%, aumentando em 0,11 pp no trimestre. Já o índice acima de 60 dias subiu para 4,6%, piorando 0,14 pp t/t e 0,93 pp a/a.
Despesa com provisão para crédito
A despesa com provisões liquidas de recuperação atingiu R$ 5,5b (aumento significativo de +6,0% t/t e +72,6% a/a) e continua pesando no resultado do banco, por conta da herança de safras passadas com . A carteira renegociada continua subindo, alcançando R$ 35,4 bilhões no 3T22, representando um aumento de 11,7% t/t e 54,6% a/a.
Despesas administrativas
Do lado positivo, as despesas administrativas ficaram bem controladas, apresentando uma queda de -2,6% t/t e -1,1% a/a, puxada pelas despesas gerais. A despesa pessoal que foi impactada principalmente pelo dissídio em setembro teve um aumento de +6,3% t/t e 9,4% a/a.
Imposto
Apresentou uma alíquota significativamente baixa, próximo de 7%, devido ao benefício fiscal produzido pela distribuição de Juros sobre Capital Próprio (JCP) de R$ 700 m, o que impactou de forma benéfica no resultado da companhia.
Clientes
O Santander continuou crescer a base de clientes. Clientes vinculados (os que usam o Santander como principal banco) cresceram robustos +14% a/a, sendo que estes geram 5x mais receita que os não-vinculados.