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    Publicado em 02 de Fevereiro às 13:58:28

    Santander (SANB11) | Resultado 4T22: Rentabilidade despenca com maiores provisões

    O Santander reportou um 4T22 bem abaixo das estimativas nossas e do mercado. Com uma baixa rentabilidade, o lucro líquido recorrente foi de apenas R$ 1,6b, caindo substancialmente em -47% t/t e -58% a/a. O lucro veio consideravelmente (-36%) abaixo das nossas estimativas de R$ 2,5b e -42% abaixo do consenso de mercado. 

    Seguindo a mesma trajetória de piora visto no último trimestre, o ROE do 4T22 despencou substancialmente para 8,1%, bem abaixo dos usuais 20% e 4,1 pp abaixo das nossas expectativas. A tendência mais fraca é reflexo de 3 fatores no custo de crédito: (i) deterioração no ciclo de crédito com maiores provisões, principalmente para pessoa física (PF); (ii) eventos subsequentes no segmento de atacado (com Americanas); e (iii) empréstimos mais seletivos pressionando as receitas com o processo de antecipação da piora do ciclo de crédito implementada no 4T21. Consequentemente, as provisões para perdas de crédito subiram substancialmente em 18,5% t/t e 106% a/a para R$ 6,7b. 

    Apesar do banco não abrir os números referentes aos eventos subsequentes, que incluem o provisionamento para os créditos tóxicos das Americanas, olhando as movimentações nos ratings de crédito, estimamos uma provisão de apenas 30% no 4T22. Considerando uma dívida total de R$ 3,65b com Americanas, provisionamento de 30% e imposto de 45%, chegamos a lucro reportado sem Americanas de R$ 2,2b, ainda 12% abaixo de nossas estimativas de R$ 2,5b. 

    Além do forte aumento no custo de crédito, as receitas com juros (NII) continuaram fracas 13% abaixo a/a e praticamente igual ao tri passado, ainda pressionadas por um resultado negativo de -R$ 1,26b de tesouraria (NII mercado) combinados com uma queda t/t de -2,6% na margem com clientes.  

    Por fim, o Santander se beneficiou de créditos tributários, levando a alíquota efetiva de imposto positiva. Não fosse isso, o resultado poderia ser bem pior que o reportado.

    O banco também vendeu carteira de crédito em R$ 1,9b no 4T22, sendo R$ 1,2 em carteira de crédito ativa e R$ 0,7b em written-off. A carteira ativa vendida estavam 100% provisionadas, não impactando o aumento do custo de crédito no trimestre. Porém, R$ 0,6b estavam em atraso acima de 90 dias, e estimamos que a venda tenha melhorado o índice de inadimplência em 10 bps.  

    2023 deve ser difícil. Com a piora do ciclo de crédito, receita pressionada com fraca tesouraria e apenas 30% dos créditos podres de Americanas provisionadas, esperamos que em 2023 os resultados continuem pressionados (vide: Perspectiva 2023 e Prévia 4T22). Para 2023, estimamos um (i) crescimento da carteira de crédito ainda fracos; (ii) margem pressionada pelo mix de produtos com menores spreads; (iii) nível de provisões ainda altos por conta das pioras nas safras antigas, maior exposição a pessoa física e caso Americanas; e (iii) margem com o mercado pressionado pelo cenário de juros altos. Dessa forma, reiteramos nossa recente alteração de recomendação de MANTER para VENDER. 

    Crédito: abaixo dos pares, mas com soft guidance agressivo para 2023

    Sem muitas mudanças, a carteira de crédito terminou o trimestre com R$ 489,7b com uma alta de +1,1% t/t e +5,9% a/a, com um ritmo de crescimento bem menor que seus pares. De fato, o Santander tem sido mais conservador, tentando antecipar a piora do ciclo de crédito.  

    A carteira cresceu t/t principalmente no segmento de pessoa física devido ao movimento sazonal do trimestre, sendo destaque as linhas de cartão de crédito e crédito consignado. 

    Apesar dos números fracos de crédito e baixo apetite de crédito em 2022, o Santander veio com um soft guidance agressivo (ambição) para certos produtos para 2023. A Febraban estima crédito crescendo meros 8% em 2023. Enxergando o copo meio cheio, o soft guidance agressivo pode indicar que o Santander esteja enxergando que o ciclo de inadimplência está terminando esse ano e que o banco estaria mais favorável a tomar mais risco. Por outro lado, o caso de Americanas pode atrapalhar uma trajetória de melhora.   

    Receita com juros: tesouraria negativa com desaceleração da margem de clientes  

    A receita com juros (NII) apresentou um aumento de +1,1% t/t e queda de -12,9% a/a, atingindo o montante de R$ 11,9b no 4T22. Esta linha foi marcada principalmente pelo NII Mercado (tesouraria) que continuou apresentando resultados negativos de -R$ 1,3b no 4T22, mas com uma melhora de 18,1% t/t. A melhora em relação ao trimestre passado se deu pela manutenção da curva de juros, conforme já esperávamos. Porém, devido a Selic alta, o portfólio de ALM continua pressionado e gerando resultados negativos e como divulgamos nossa prévia, não acreditamos em uma retomada para um dado positivo no curto prazo.  

    Já o NII Clientes também apresentou uma queda -2,6% t/t, sendo impactado pela maior seletividade na mudança de mix da carteira e foco em produtos colateralizados, o que resultou em uma queda de -0,52pp t/t no spread, mesmo com as carteiras reprecificadas.  

    Receita de serviços e tarifas: ainda sofrendo 

    A receita de serviços e tarifas atingiu o montante de R$ 5,1b no 4T22, apresentando um aumento de 7,2% t/t e 1,9% a/a. Dessa forma, finalizou 2022 com um total de R$ 19,3b (-0,3% a/a).   

    A linha de cartões apresentou queda de -6,7% a/a, mas devido a sazonalidade de final de ano, teve um crescimento de +7,2% t/t. No comparativo do 4T22 vs 4T21, a receita de seguros impulsionou o resultado, apresentando um aumento de +12,0% a/a, devido ao aumento do número de novas vendas e do seguro prestamista. O resultado de corretagem e colocações de títulos apresentou um forte crescimento de 88,6% a/a sob uma base comparativa fraca no 4T21. Também houve um aumento na linha de consórcios (+15,1% a/a), mesmo com a alteração regulatória na contabilização das receitas de consórcios que ocorreu no trimestre passado, sendo o crescimento impulsionado por uma maior originação. 

    Inadimplência: continua piorando 

    A inadimplência de 60 dias (NPL) continuou sua trajetória de deterioração saindo de 4,3% no 3T22 para 4,5% no 4T22. Já acima de 90 dias, apresentou um aumento de +0,1pp t/t de 3,0% no 3T22 para 3,1% no 4T22. Em relação ao 4T21, o NPL 90 dias cresceu em 0,4pp a/a, sendo impulsionado principalmente na frente de pessoa física com +0,7pp a/a. Além disso, estimamos que a venda da carteira de crédito tenha contribuído com 10 bps no índice de inadimplência.  

    Em resumo, podemos notar que os níveis de inadimplência vieram crescendo ao longo de 2022, principalmente na frente de pessoa física que é mais sensível ao cenário macro de juros e inflação elevada. 

    Despesa com provisão para crédito: o que mais atrapalhou 

    As provisões aumentaram substancialmente em 81% em 2022 para R$ 21,8b. No 4T22, as provisões aceleraram, com um aumento de +18,5% t/t e +105,8% a/a no montante de R$ 6,7b. 

    O aumento se deu em grande parte pelo crescimento de inadimplência nas operações de crédito a pessoas físicas e um adicional de provisionamento por eventos subsequentes no segmento de atacado, provavelmente relacionados ao caso Americanas. 

    Pode-se perceber que houve uma redução na provisão de crédito de risco AA de R$ 203,7b no 3T22 para R$ 200,4b no 4T22, sendo que esta categoria requer um provisionamento de 0,0%. Já a categoria de risco E saiu de R$ 7,6b no 3T22 para R$ 11,2b no 4T22 (+ R$ 3,6b t/t) e esta linha requer uma PDD de 30%. Assim, acreditamos que parte dos créditos AA foram transferidos para o risco E, provavelmente relacionados ao caso de Americanas. 

    No relatório divulgado pela Americanas, o Santander possuía uma exposição de R$ 3,65b com a varejista. Com a entrada da Americanas em recuperação judicial, os bancos são obrigados a provisionar pelo menos 30% dessa dívida, nível de risco E. Portanto, acreditamos que o banco já alocou os 30% no 4T22, podendo ter que aumentar ao longo de 2023 conforme for desenrolando o caso de Americanas. 

    Despesas administrativas: sob controle 

    As despesas administrativas totais apresentaram um crescimento de +10,9% t/t e +6,4% a/a no 4T22, mas no consolidado do ano de 2022 apresentou um aumento de +2,1% a/a, sendo 3,69pp abaixo do IPCA de 2022 (5,79%). Grande parte do aumento no trimestre ocorreu pela linha de “despesas com pessoal”, marcada pelo dissídio que ocorreu em set/22 e impactou o 4T22 como um todo, apresentando um crescimento de +4,8% t/t. Ainda, podemos identificar que linha de processamento de dados apresentou um aumento de +8,7% t/t e propaganda (+17,0% t/t), devido ao efeito sazonal do trimestre. 

    Impostos: golzinho de mão 

    No 4T22 a alíquota de imposto foi negativa em -12,6% devido a principalmente ao benefício de Juros sobre Capital Próprio, o que auxiliou na geração de lucro líquido. 

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