2022 termina da mesma forma que 2023 começa: com bons olhos para o setor agro brasileiro. O Brasil, na posição de maior país exportador agrícola, surfa no ciclo positivo das commodites e, dada suas vantagens competitivas, os riscos para as empresas do setor são mitigados. Sendo assim, mantemos nossa recomendação de compra para todas as companhias agro que cobrimos, sendo elas: SLC Agrícola (SLCE3), Boa Safra Sementes (SOJA3) e BrasilAgro (AGRO3).
Momento do Setor Agrícola
O setor agrícola brasileiro vem se aproveitando de um cenário de alta mundial no preço das commodities em 2022, causado principalmente por uma baixa no estoque mundial. Essa conjuntura externa foi formada devido a uma restrição na oferta desses produtos, grande parte em decorrência da pandemia do COVID, da continuidade da guerra na Ucrânia e do fenômeno climático “La Niña”, que tem colocado os níveis de produção agrícola na América do Norte, na Argentina e no sul do Brasil abaixo do ótimo. As precárias condições climáticas nessas áreas impulsionam ainda mais demanda para as empresas agrícolas brasileiras, tendo em vista que o centro-oeste e o nordeste são as regiões de maior plantio e não foram afetadas pelo “La Niña”.
Para toda regra existe uma exceção, e nesse caso, ela se chama cana-de-açúcar. Essa commodity foi na contramão de seus pares e teve uma redução em seu preço ao longo do ano. Esse movimento foi causado principalmente por políticas públicas do Governo Brasileiro de isenção de impostos sobre o preço de combustíveis, o que reduziu a margem para o produtor. Mas por pouco tempo. Já é previsto o fim dessas isenções tributárias, o que tende a normalizar as margens para o produtor.
Sendo assim, para o 4T22, enxergamos um resultado promissor para o setor, com as commodities em oferta restrita, preços de fertilizantes (insumos agrícolas) caindo e produção brasileira em altos níveis (nas regiões de maior impacto), além de um câmbio em patamares historicamente altos.
Expectativas 2023: A mesma perspectiva (ou quase).
Acreditamos em um cenário de permanência do setor em patamares acima da média histórica, entretanto abaixo do resultado de 2022. Ademais, um ponto de atenção para o ano é o algodão, que por se tratar de uma matéria prima mais dispensável ao ser humano, em um cenário de forte desaceleração global da economia, essa commodity seria uma das primeiras a ter sua demanda reduzida, impactando negativamente sobre seu preço.
Expectativa de Resultados
SLC Agrícola (SLCE3)
4T22: Nenhuma surpresa.
Na posição de líder do setor agrícola brasileiro em Market Share, esperamos um resultado sólido da SLC no 4T22, com uma forte geração de caixa – dado que os insumos já foram integralmente pagos no primeiro semestre de 2022 – e, como mencionado acima, os fatores macro e climáticos beneficiaram a empresa.
Estimamos um EBITDA de R$ 526,6m (excluindo valores justos de ativos biológicos), projetando um aumento de 39% t/t e uma diminuição de 9% a/a, além de uma Margem EBITDA de 40% para 2022. Caso concretizada, essa margem EBITDA seria a maior da história da companhia.
Expectativas 2023: Mantemos nossa visão
Para 2023 esperamos que a empresa continue operando com margens bem acima de seu histórico, porém abaixo das altas vistas em 2022, devido a um possível arrefecimento dos preços das commodities. Um ponto de atenção é o incerto cenário de redução da demanda pelo algodão, que, se concretizado, pode acabar diminuindo as margens esperadas.
Não esperamos grandes investimentos para 2023, já que a empresa ainda está digerindo as aquisições feitas em 2022, as quais representaram um aumento de aproximadamente 45% de área. Sendo assim, acreditamos que a empresa deve fazer investimentos oportunísticos ou expandir via arrendamentos.
Por fim, a empresa distribuirá 50% do lucro (é esperado o pagamento de 600m de dividendos em maio/23), caso aprovado na AGE, o que representa um dividend yield de 5,5%, além de ja estar com 66% das commodities vendidas para o ano.
Boa Safra Sementes (SOJA3)
4T22: As boas margens voltarão?
Estamos otimistas com o 4T22, uma vez que o atraso na janela do plantio nos faz esperar uma boa geração de caixa, considerando o recorde de pedidos firmes no 3T22, que serão entregues e faturados no 4T22. Os pedidos somam um valor total de R$ 464m. Ademais, é esperada uma redução nos custos – que tiveram um aumento significativo no 3T22 por conta de efeitos não recorrentes – além de um aumento de sementes vendidas na composição de receita, o que impacta positivamente as margens.
Projetamos um EBITDA de R$ 84,9m, o que representa uma queda de 9,9% t/t e um aumento de 124% a/a, constituindo uma margem de 20,3% pro 4T, que, se concretizada, representa um aumento de 960bps frente ao 3T22.
Expectativas 2023: Surfando na boa onda do setor
O ano começa com um cenário macroeconômico positivo para a empresa, como mencionado no “Momento do Setor” acima. Além disso, a empresa está ampliando sua estrutura com a construção da Unidade de Beneficiamento Primavera e o novo Centro de Distribuição. Atualmente, o endividamento total da empresa está em R$ 472,9m e desse montante, 77,1% (R$ 364,4m) deverá ser amortizado no curto prazo (12 meses). Todavia, a empresa conta com um caixa disponível de R$ 396,5m, sendo suficiente para suprir essas obrigações, além de um previsto aumento nessas disponibilidades, a partir de uma forte geração de caixa no 4T22.
Sendo assim, esperamos um resultado sólido da empresa no ano, com uma capacidade produtiva adicional de 212 mil big bags, um cenário de preço da soja bem acima dos patamares históricos e uma normalização nos preços de fertilizantes.
BrasilAgro (AGRO3)
4T22: Cana-de-açúcar queimada.
Estimamos que o resultado do 4T22 da empresa (que corresponde ao 2T23 do Ano Fiscal) venha abaixo das expectativas. Principalmente, por causa da cana-de-açúcar, que foi muito impactada, por dois fatores:
(i) Queda no preço da cana;
(ii) Incêndio inesperado de uma fazenda de cultivo de cana.
Essa piora no resultado da cana, aliada a uma pressão nos custos devido a fretes e insumos, nos faz enxergar um trimestre com prejuízo.
Estamos prevendo um EBITDA de R$ 22,6 milhões (ex-ativos biológicos), o que representa uma queda de 79% t/t e uma queda de 85% a/a.
Expectativas 2023: Nem tudo está perdido.
Mesmo acreditando que seja difícil uma reversão total dos impactos causados no 4T22, temos uma boa perspectiva para a empresa em 2023 (ano calendário).
Na ótica macroeconômica, temos um cenário de favorável para a empresa, como mencionado no “Momento do Setor Agrícola”. Esperamos uma normalização da operação de cana-de-açúcar. Além disso, enxergamos o mercado imobiliário agrícola aquecido, favorável para venda de terras, tendo em vista a capitalização de produtores que devem investir esses recursos para aumento da capacidade produtiva, sendo as terras agrícolas uma ótima opção.
Por fim, é estimado uma melhora das margens de produção da empresa (a partir da diminuição de custos), que atualmente conta com baixo endividamento e que busca manter um dividend yield de 5-6%.
Para ver mais detalhes das perspectivas de longo prazo da empresa, confira o relatório: BrasilAgro (AGRO3) | Investor Day: Estratégias e perspectivas para 2023 e adiante