O que é o relatório WASDE?
O WASDE (World Agricultural Supply and Demand Estimates) é um relatório mensal publicado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que fornece previsões abrangentes de oferta e demanda para as principais culturas (globais e Estados Unidos) e pecuária (somente nos EUA). O relatório fornece uma análise da condição fundamental dos mercados de commodities agrícolas para uso de agricultores, governos e outros participantes do mercado.
Análise Completa
Milho: A previsão para a produção global de grãos diminuiu em 3,3m de toneladas em relação ao mês passado. A produção de milho estrangeiro é reduzida para a Argentina, a UE, a Sérvia e o Uruguai, com exceção da Rússia. As mudanças comerciais globais incluem reduções nas exportações de milho para a Argentina, México, Birmânia e Sérvia, mas com aumento nas exportações da Ucrânia e Rússia. As importações de milho são reduzidas para o Egito, Estados Unidos, Tailândia e Venezuela, mas aumentadas para a UE, Turquia e Uruguai. No Brasil a produção se manteve inalterada em 125 milhões de toneladas e exportações em 50 milhões. As perspectivas para os preços médios da safra são inalteradas.
Soja: As previsões de oferta e demanda dos EUA para a soja em 2022/23 permanecem inalteradas em relação ao mês passado. A produção global de soja é reduzida em 5,5 milhões de toneladas para 369,6 milhões, com cortes para Argentina e Uruguai, mas aumento na produção brasileira. As previsões para o esmagamento de soja também são reduzidas para Argentina, China, Bangladesh, Paquistão e Egito. As exportações de soja são reduzidas para o Uruguai, mas aumentam para o Brasil de 153m toneladas para 154m de toneladas.
Algodão: O relatório sobre o balanço global de algodão em 2022/23 mostra uma produção mais alta e comércio reduzido, resultando em estoques finais mais altos. A produção mundial está projetada em 829k fardos a mais do que em março, com um aumento de 1m de fardos para a China, mais do que compensando uma colheita menor no Brasil. Os estoques finais de 2022/23 no mundo são projetados em 867k fardos a mais, com o maior aumento na Índia, onde os estoques projetados são 450k fardos maiores em função da redução das exportações. O volume esperado de comércio mundial em 2022/23 é 745k fardos menor neste mês, com redução das importações para Bangladesh, China e Turquia. Por outro lado, as exportações mais elevadas dos Estados Unidos e da Austrália são mais do que compensadas por uma redução de 550k fardos para o Brasil e 400k fardos para a Índia. O consumo global projetado para 2022/23 é 65k fardos maior neste mês, com um aumento de 500k fardos para a China compensando as reduções em Bangladesh e Turquia.
No que diz respeito à perspectiva brasileira, o país é um dos maiores produtores de algodão do mundo e a redução na produção de algodão no Brasil pode afetar o mercado global de algodão. Por outro lado, a redução das importações da China, um dos maiores importadores de algodão brasileiro, pode ter um impacto negativo nas exportações brasileiras de algodão.
Bovinos: A previsão para a produção de carne bovina em 2023 aumentou em relação à previsão do mês passado, em especial, dado o aumento das previsões de produção para o segundo semestre do ano. Espera-se que a produção atinja 12,14m de toneladas neste ano (previsão do mês anterior era de 12,09m toneladas).
Os preços do gado devem subir sequencialmente ao longo de todos os trimestres, impulsionado pela contínua demanda, com exceção do primeiro, no qual espera-se uma pequena redução de preços com base em dados reportados, para 161 US$/cwt. O ano deve encerrar com preços de gado em US$ 167/cwt.
As exportações de carne bovina americana devem aumentar, devido a dados comerciais recentes e uma alta demanda dos mercados asiáticos. As importações de carne bovina também devem subir devido a uma maior oferta da Oceania.
Suínos: A produção de carne suína deve aumentar na primeira metade do ano, baseado em dados recentes de abate, mas diminuir na segunda metade do ano, totalizando, assim, 12,41m de toneladas no ano. Espera-se uma diminuição nos preços de suínos ao longo dos trimestres, com base em movimentos de preços recentes e uma demanda modesta. Assim, espera-se um preço, ao final do ano, de US$ 62/cwt. Tanto as exportações de carne suína americana, quanto as importações de proteína suína devem aumentar, de acordo com dados recentes.
Impacto nas empresas sob cobertura
Agrícolas: A SLC (SLCE3), BrasilAgro (AGRO3) e Boa Safra (SOJA3) devem ser beneficiadas pela menor oferta global de soja e milho, o que deve ter um impacto positivo no preço de ambas commodities. Já olhando para o algodão, é esperado um aumento na produção global, o que deve impactar o preço da commodity negativamente. Outro ponto relevante relacionado ao algodão é o fato de projetarem um menor nível de importação da China, um dos importadores do Brasil, o que deve levar a um arrefecimento do preço da commodity, impactando a SLC e BrasilAgro negativamente.
Frigoríficos: O aumento da previsão de produção de bovinos favorece as operações americanas da JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), dado que isto poderia contribuir para custos menores. No entanto, como o aumento é pequeno, esperamos pouco impacto nos preços ao longo do ano, os quais, como mencionado, devem seguir elevados. Portanto, as margens das duas companhias devem seguir pressionadas em suas operações de bovinos nos EUA.
Já em relação aos dados de suínos, como espera-se uma redução dos preços ao longo dos trimestres, a JBS (JBSS3), único frigorífico brasileiro que produz carne suína nos EUA, deverá ser beneficiada, com menores custos, e, consequente arrefecimento da pressão observada nas margens das operações da JBS USA Pork nos últimos trimestres.