Nesta quarta-feira (25/05/23), conversamos com o Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola. Seguem abaixo os principais takeaways da conversa.
Composição de Hedge. A companhia progrediu significativamente na implementação de hedge para os fertilizantes, estabelecendo uma posição favorável, considerando que o insumo está subindo e a SLC fixou a preços razoavelmente baixos para safra 23/24, abaixo do spot. Com relação aos defensivos, a companhia aguarda a abertura de uma melhor janela para realizar o hedge, considerando que a tendência da commodity é de queda. Porém, a SLC deve começar a fixar preços em breve e voltar a comprar os produtos.
As liquidações da safra atual de soja e milho foram problemáticas devido ao desequilíbrio nos prêmios, em decorrência de um excesso de oferta. No entanto, a expectativa da companhia é de que a liquidez aumente nos próximos meses, juntamente com a recuperação do mercado e possíveis alterações na produção dos EUA com a entrada do período de Weather Market, que deve impulsionar a safra.
Na nossa avaliação, colaborada por Sr. Pavinato, há uma quantidade relevante de especuladores com posições vendidas em soja e no milho, o que pode representar uma oportunidade se ocorrerem eventos climáticos que mudem o direcionamento, e parte do posicionamento em operações vendidas tenham que ser recompradas, resultando em aumentos nos preços.
Acreditamos que o ambiente atual é considerado desafiador em termos de oportunidades de fixação, o que levou a SLC a estar atrás em relação ao andamento do seu calendário histórico. A expectativa da companhia, segundo Pavinato, é que o mercado ofereça alguma oportunidade nas próximas semanas e meses para realizar as fixações necessárias. Acreditamos que principalmente para algodão, a dinâmica de preços tem sido mais desfavorável, o que também contribui para o atraso das operações de hedge. A visão da companhia é deveremos observar uma aceleração nos preços do algodão no futuro, puxado pelo consumo resiliente do segmento vestuário, principalmente nos EUA.
Prêmio das Commodities Agrícolas. Sr. Pavinato explicou que os prêmios da soja estão se recuperando gradualmente, indicando uma melhora no mercado. Ele destacou que a liquidação da soja não foi diretamente causada pela falta de armazenamento, mas pelo fato de os produtores brasileiros terem produzido uma safra recorde e estarem exportando em níveis recordes, com a falta de armazenamento tendo também contribuído a levarem os preços nessa direção. Produtores venderam suas colheitas durante os meses de março, abril e maio, gerando um excesso de oferta no momento da colheita. Assim como nós, Panivato também enxerga que a demanda da China continua firme para commodities agrícolas, e as importações estão em níveis altos, o que contribui para o fluxo do mercado.
Com a colheita da soja encerrada, o foco agora se volta para o milho. A colheita do milho está começando, e já foram realizadas algumas vendas para abrir espaço nos armazéns. O CEO da SLC mencionou que haverá um grande volume de milho entrando no mercado nos próximos meses, o que pode levar a uma liquidação do milho a preços mais baixos.
Cenário global. Sr. Pavinato destaca que, ao analisar a oferta e demanda a nível global, é importante considerar o estoque de passagem, que desempenha um papel crucial na definição dos preços. Nossa avaliação é que de fato para a safra 23/24 fatores como produção, demanda e estoque de passagem a nível mundial têm influência significativa nos preços vistos aqui.
No caso da soja, é esperado um excedente de produção de aproximadamente 25m de toneladas. Ele acredita que os estoques mundiais aumentarão, mas não atingirão níveis tão altos quanto em 2018 e 2019. É importante observar que a China possui estoques significativamente maiores hoje do que em anos anteriores. Excluindo a China, os estoques globais de passagem representam ~10% da demanda, um nível considerado baixo para o ciclo 23/24.
Quanto ao milho, a China também detém a maior parte dos estoques. Excluindo a China, os estoques de passagem representam apenas ~10% da nova safra. A produção de milho é esperada para 1,22b de toneladas, enquanto o consumo é previsto em 1,20b de toneladas. Essa diferença entre produção e consumo resulta em um equilíbrio entre estoques e demanda a nível mundial, melhorando em 2023 e 2024.
No entanto, Pavinato ressalta que, ao longo desse caminho, várias mudanças podem ocorrer, especialmente relacionadas a eventos climáticos. Ele menciona a importância do clima na determinação da produção e, consequentemente, dos preços. O aquecimento global e eventos climáticos mais extremos continuam sendo uma preocupação, e qualquer alteração no cenário climático pode afetar a produção e os preços das commodities, então o cenário que ele projetado hoje como base, como por exemplo a supersafra nos EUA, pode não necessariamente se concretizar.
O CEO também discute a importância dos especuladores e investidores financeiros no mercado de commodities. No momento, não enxergamos muitas posições compradas nas commodities. No entanto, o posicionamento desses investidores pode mudar com base em eventos não previstos, como mudanças climáticas significativas, que impactam a oferta e os preços.
Perspectivas para preços de terras. Sr. Pavinato destacou que historicamente os preços das terras nunca apresentaram queda, mantendo-se estáveis ou em alta. Ele ressaltou que a última avaliação de terras foi realizada em junho do ano anterior e, desde então, na visão dele, houve um aumento contínuo nos preços até janeiro, de forma que a próxima avaliação deve ocorrer em meados deste ano, de forma que a expectativa da companhia é de um aumento no valuation das terras. Esse processo, conduzido pela consultoria Deloitte, utiliza uma metodologia científica abrangente, que considera não apenas o preço da soja como referência, mas também análises de negócios realizados na região. A nossa visão de que, no entanto, o mercado experimentou uma redução nos preços das commodities agrícolas nos meses seguintes, o que cria um contraponto para ser observado. Avaliamos que mesmo diante de uma expectativa da SLC de aumento no valor das terras, que os valores das terras devem se manter flat.