O leilão do 5G é o momento de grandes oportunidades para as empresas abrirem mais um arsenal de opções para o desenvolvimento dos seus negócios, estando os participantes um passo à frente das suas competidoras. Das companhias que cobrimos, TIM e Vivo estarão no certame, enquanto a Oi optou pela não participação tendo em vista seu processo de venda de ativos móveis.
Trazendo para o português claro
Ao falarmos de serviços móveis, sempre existe uma associação entre a geração usada e o espectro ou faixa de frequências correspondente. Essas faixas são como licenças para que as operadoras possam usufruir do serviço, como se fossem os slots ocupados por aviões dentro dos aeroportos para que estes possam realizar seus voos. Dessa forma, para que as empresas consigam tais licenças, é necessária a realização de um leilão, onde os interessados competem entre si para decidir quem fica com qual fatia de frequência em questão.
Continuando a analogia, da mesma forma que diferentes slots alocam aviões com velocidades distintas possivelmente mais altas, no mundo móvel também existem frequências que atingem velocidades superiores, como é o caso das faixas do 5G. A partir da aquisição do espectro é que as empresas começam a se planejar e desenvolver toda uma infraestrutura para as infinitas aplicações possibilitadas por essa nova geração.
Equivalentemente ao “metro (m)” para distâncias, existe uma unidade de medida para representar frequência, o Hertz (Hz), indicando quantas vezes um certo evento ocorre dentro de um segundo. Usualmente, podemos encontrar nomes como KHz (Kilohertz = 1 mil Hertz), MHz (Megahertz = 1 milhão de Hertz), GHz (Gigahertz = 1 bilhão de Hertz), etc. Além disso, existe a nomenclatura de dados ou informação digital representada por “bits (b)”, isso nos dá uma ideia de velocidade de dados se vinculado à ideia de tempo, ou seja, quando verificamos quantos bits são transmitidos ou recebidos em um segundo, gerando a representação em bps (bits por segundo). Similarmente ao Hz, temos suas variantes Kbps, Mbps, Gbps, etc. Outra representação que pode ser encontrada para informação de dados é o de conjunto de 8 bits, chamada Bytes, no qual se utiliza a letra “B” (não confundir com “b” de bits).
Dinâmica do leilão
Cada operadora interessada enviou no dia 27 de outubro os documentos necessários bem como suas propostas de preços para os lotes oferecidos. Hoje, o primeiro passo é a abertura dos envelopes para averiguar as ofertas. Após apresentação dos lances iniciais, a comissão abrirá um prazo de 5 minutos para os participantes com uma contraproposta de, ao menos, 5% superior ao maior lance até o momento.
Outro fator importante é o fatiamento dos lotes a fim de evitar a ausência de interessados, onde a redução dos blocos pode se tornar atrativa principalmente para players menores.
Considerando eventuais atrasos e o número de lotes a serem negociados, esse processo pode se alongar por até três dias, de acordo com a previsão do secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações Artur Coimbra ou até 2 dias, segundo integrantes da Anatel.
Os lotes ofertados, bem como os compromissos e os interessados podem ser vistos na tabela abaixo (retirado do Valor Ecônomico).
O valor do leilão estimado está em torno de R$ 50 b, segundo a Anatel. Desse total, o governo arrecadará R$ 3 b, sendo mais R$ 7 b destinados à conectividade das escolas públicas e não entram para os cofres públicos. Os R$ 40 b restantes são destinados às diversas obrigações destacadas na tabela e à própria rede de infraestrutura necessária para implementação do 5G.
Um ponto importante a se destacar é o baixo valor arrecadatório que contrasta com os valores vistos em outros países, sendo um importante incentivo aos investimentos massivos na rede e um grande atrativo para as empresas participantes em busca de bons retornos. Nos EUA, para efeitos comparativos, o total arrecadado no começo do ano foi de US$ 80,9 b (aprox. R$ 450 b na cotação atual) para a banda C, que será utilizada no 5G, enquanto no Brasil, algo em torno de R$ 10 b se considerarmos em conjunto os R$ 7 b da conectividade às escolas públicas.
Por que o 5G é tão importante?
- Velocidade de dados. É uma das principais melhoras frente à geração anterior, possibilitando alcançar velocidades 50 a 100 vezes superiores ao que temos com o 4G, de acordo com Leonardo Capdeville, CTO da TIM. Serviços como streaming, video-conferências, fazer downloads ainda mais rápidos, serão algumas das atividades a se beneficiar da nova geração, proporcionando além da velocidade maior, confiabilidade nas transmissões e recepções de dados.
- Latência. Se no 4G a latência geralmente fica entre 40 e 50 ms, no 5G isso vai ser reduzido para 1 a 5 ms. Essa é uma das características mais importantes para o emprego de atividades que demandam tempo de resposta mais curtos, como as reações dos veículos autônomos, a realização de cirurgias à distância junto à telemedicina, a utilização de drones com maior precisão, dentre muitos outros.
- Capacidade. Com faixas maiores de frequências, pode-se alocar uma gama maior de dispositivos, indo ao encontro da alta conectividade proposta pelos serviços de IoT (Internet of Things).
- Crescimento do PIB. As atividades proporcionadas pelo 5G estão vinculadas a atividades fundamentais da economia. Um exemplo é o agronegócio, que tende a ser fortemente beneficiado pelas melhorias trazidas pela alta conectividade do 5G. A expectativa de aumento do PIB nos próximos 20 anos proporcionado pelo 5G é de R$ 6,5 trilhões, segundo o Ministério das Comunicações.
Para mais informações sobre a evolução dos serviços móveis (do 1G ao 5G), aplicações e outros efeitos para as empresas que cobrimos, leia o nosso relatório sobre o 5G aqui.
Quando de fato vamos ver o 5G em nossas vidas?
Segundo o calendário da Anatel, espera-se ter o seguinte cronograma para a operação do 5G:
- Nas capitais e no Distrito Federal até 31 de julho de 2022;
- Em cidades com mais de 500 mil habitantes até 31 de julho de 2025;
- Em municípios com mais de 200 mil habitantes até 31 de julho de 2026;
- Em cidades com mais de 100 mil habitantes até 31 de julho de 2027;
- Em cidades com mais de 30 mil habitantes, 50% precisam ter cobertura até 31 de julho de 2028 e 100% até 31 de julho de 2029;
- Em cidades com menos de 30 mil habitantes, 30% devem estar cobertas até 31 dezembro de 2026, 60% até 31 de dezembro de 2027, 90% até 31 de dezembro de 2028 e 100% até 31 de dezembro de 2029.
Vale ressaltar que não significa que em 31 de julho de 2022 toda população terá acesso ao 5G nas capitais, porém trata-se de um processo gradativo onde ao menos a implementação de estações radio-base será realizada.
Expectativas de investimentos
De acordo com o Ministérios das Comunicações e as estimativas da Anatel, o Brasil deve movimentar R$ 169 b nos próximos 20 anos. Desse valor, R$ 70 b devem ser investidos pelas operadoras para cumprir as obrigações previstas no edital, como a ampliação da cobertura 4G em localidades sem a tecnologia e em rodovias federais. Os R$ 99 b restantes seriam investimentos necessários para a realização e prestação comercial de serviços de telecomunicações. Essas projeções correspondem às despesas com bens de capital, como aquisição de máquinas, equipamentos, estações rádio-base, antenas, implantação de redes e outros elementos de infraestrutura.
A equipe da Genial estará monitorando todo o desenrolar desse leilão e trará mais detalhes sobre os resultados ao longo dos dias.