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Publicado em 17 de Junho às 02:44:00

Setor de Seguros: Quem espera sempre alcança…

Escolha Genial

Nossa Escolha Genial para o setor de seguros é por Porto Seguro. Com um valuation atraente de 11,7x P/L21, a companhia é praticamente a única que conseguiu acertar na prestação de seguros automotivos de forma consistente, se tornando a maior seguradora de auto, reconhecida pela qualidade. Ao nosso ver, seu padrão de serviço elevado se torna uma vantagem competitiva pela dificuldade de ser replicado. Além disso, também auxilia nas vendas cruzadas (cross selling), aumentando o número de produtos vendidos por cliente (várias categorias de seguro, cartão de crédito, empréstimo de automóveis). Como seguro auto vem crescendo pouco por conta de vários anos de economia fraca e mudanças de hábito, a Porto está lançando um seguro automotivo com um ticket mais baixo, endereçado a frota brasileira ainda não segurada, que corresponde a 70% do total da frota. A somatória desses fatores, junto ao cenário macro positivo com a expectativa de elevação dos juros, justificam a nossa recomendação de compra.

Se preferir, assista o vídeo do analista deste relatório.

Visão geral do setor

A nossa visão para o setor de seguros é moderadamente positiva, principalmente pela retomada do crescimento econômico e por conta da alta de juros (Selic), que tende a beneficiar os resultados financeiros, uma linha de resultado muito relevante no setor. Entretanto, nem todos os segmentos agradam no curto prazo. Com a segunda onda da pandemia, algumas categorias de produtos, como vida e saúde, devem sofrer mais com aumento de sinistros. Em linhas gerais, em função do mercado com grande potencial, ainda sub-penetrado e a volta dos juros, estamos mais otimistas com o setor de seguros.

Mas nem sempre os ganhos financeiros com uma Selic mais alta perduram por muito tempo, fato que depende da competitividade de cada segmento. Em seguro de veículos, por exemplo, as companhias tendem a ficar mais agressivas com o preço cobrado nos seguros, a medida que a taxa de juros sobe para ganharem volume. Assim, o ganho financeiro que teriam é compensado. Em contraste, empresas que enfrentam menos competição, não precisam repassar tão rápido a alta de juros nos preços, e acabam se beneficiando mais.

No longo prazo, estamos otimistas principalmente com seguro de vida, previdência e seguro saúde. O aumento da expectativa de vida no Brasil e o déficit da previdência pública (INSS) deve aumentar cada vez mais a procura por produtos de previdência privada. Acreditamos que a BB Seg esteja bem posicionada no produto apesar de ser alvo constante de ataques das rivais dado que é hoje a maior seguradora em previdência. Em vida, as margens são muito boas e a penetração ainda é muito baixa, mas os volumes poderiam ser mais interessantes. Por último, o seguro saúde tem muita demanda e crescimento, mas as margens são apertadas e os custos médicos além de gerar volatilidade, podem crescer mais rápido que as receitas e certamente mais que a inflação.

Análise Inicial Porto Seguro [PSSA3]

Recomendação: COMPRAR
Preço alvo: R$ 70

A Porto é a tese de investimento que mais nos anima no setor de seguros. Primeiro, e não menos importante, seu valuation atraente de 11,7x P/L21 e 9,7x P/L22 está abaixo da média histórica e das concorrentes. O indicador preço sobre lucro (P/L) mostra a relação entre seu valor de mercado e lucro anual da empresa. Quanto menor a relação, mais barata tende a ser a companhia. Com a Selic subindo ao longo de 2021, o resultado financeiro deve se beneficiar completamente apenas em 2022, dado que a Selic media deverá ser maior em 2022 que 2021. Portanto, nossa recomendação de compra considera valuation atraente, boa governança e resultados crescentes.

A companhia distribui cerca de 50% dos lucros aos acionistas, mantendo constantes pagamentos de dividendos ao longo dos anos. Após uma desaceleração no crescimento de prêmios emitidos (receita) em 2019, que avançaram somente 1,3% a/a, a companhia iniciou uma recuperação em 2020, com avanço de 2,2% a/a. Acreditamos que os prêmios emitidos devam crescer em torno de 7 a 9% nos próximos anos. Em termos de lucro, a pandemia trouxo bons frutos no segmento de seguro auto, já que o distanciamento social trouxe menos circulação de veículos e, portanto, menos sinistros de colisões.

A Porto tem a vantagem de ser a única empresa do setor de seguros que consegue entregar bons resultados no segmento de veículos de forma consistente. Em 2021, a empresa está lançando uma nova linha de seguros auto para um público de mais baixa renda, dominado hoje pela assistência veicular de cooperativas. Isso expandiria o seu mercado endereçado para 70% dos veículos não segurados no Brasil. Do lado negativo, as receitas ainda são bastante concentradas em seguro para automóveis, característica que estão trabalhando para mudar, principalmente porque o futuro distante do seguro auto é ainda difícil de se visualizar com mudanças relevantes no hábito de consumo de automóveis, carros autônomos, Uber e outros aplicativos. A empresa está dando mais autonomia às quatro principais verticais de negócio com seus próprios CEOs: seguros, saúde, negócios financeiros e serviços. Depois do segmento automotivo, saúde é o segundo mais relevante, com 12% de participação do total de prêmios ganhos, seguido pelo residencial, com 10% de participação.

Dentre os parceiros da empresa está o Itaú, que detém cerca de 30% da Porto. Como fruto da sociedade, o banco distribui seguro auto e patrimonial com marca Itaú, mas com o serviço sendo prestado pela Porto. Apesar de na nossa opinião poderem aproveitar a parceria mais ostensivamente, parece não haver muito engajamento neste sentido com resultados mais instáveis. Além da marca de seguros do Itaú, a Porto também detém a Azul, com um produto mais barato, possibilitando uma estratégia multimarca.

A Porto Seguro foi a seguradora mais beneficiada da nossa cobertura durante a pandemia. O uso reduzido de carros durante a pandemia, que reduziu o número de acionamentos dos seguros (sinistros), deve se estender para 2021. O ano de 2020 teve um resultado atipicamente positivo, o que faz com que possamos esperar um lucro menor de 9,3% em 2021. A tese de investimento de longo prazo da Porto é pautada principalmente pelo aumento da eficiência operacional, diversificação, integração, excesso de capital e digitalização. A estratégia de crescimento advém do foco em outras linhas de produtos, permitindo melhorar o cross selling a partir de uma carteira de 9 milhões de clientes e 35 mil corretores. A diversificação já pode ser observada com a queda da participação de seguros de veículos no total de prêmios ganhos, de 67,2% em 2016 para 61% em 2020.

A gestão eficiente foi capaz de reduzir a proporção entre despesas administrativas e receitas de 15,5% em 2015 para 13,7% no terceiro trimestre de 2020 e otimizar o capital com a venda gradual de propriedades. Mas mesmo assim, a companhia opera com um excesso de capital de R$2,8 bi de um total de R$7,0 bi de capital total, dos quais cerca de R$1bi estão alocados em propriedades imobiliárias, que poderiam caso fossem vendidas poderiam destravar valor.

Além disso, a companhia amplia a atuação do segmento saúde com o “Cuida”, um produto para consumidores de baixa renda, cujo mercado tem alto potencial de crescimento, uma vez que o público ainda é pouco atendido.

Em um planejamento mais recente para ganhar mais dinamismo e eficiência, a Porto está criando grupos de trabalho sob a responsabilidade de profissionais técnicos. Com isso, a companhia almeja atribuir foco às atividades que antes tinham menos prioridade, a exemplo de marketing. Em paralelo, 9 diretorias foram trocadas desde o final de 2019. Na nossa visão, mudanças são positivas, tendo em vista o desafio ambicioso de dobrar o número de clientes em 5 anos.

Pontos positivos e oportunidades

  • Histórico de sucesso no seguro auto apesar de segmento muito competitivo.
  • Reconhecimento de qualidade na marca e nos serviços prestados.
  • Forte relacionamento com rede de corretores terceirizados.
  • Linha de produtos diversificadas (seguros, produtos financeiros, serviços, etc).
  • Pandemia beneficiou os resultados do seguro auto e deve diminuir de forma permanente a circulação de frota nas grandes cidades.
  • Lançando uma nova linha de seguros auto para um público de mais baixa renda, dominado hoje pela assistência veicular de cooperativas.
  • Estratégia multimarcas em seguro auto.
    • “Porto Seguro”: posicionamento Premium e uma marca forte com maior qualidade percebida.
    • “Azul”: focado em um perfil de cliente diferente. Tende a ser mais barato, pois não inclui serviços adicionais como “Porto Seguro”.
    • “Itaú”: focado nos clientes e canais de distribuição do Itaú.
  • Redução do índice de perdas de auto devido à implantação da lei de desmontagem.
  • Capital em excesso de cerca de 40% do seu capital regulatório.
  • Governança e gestão reconhecida pelo mercado.

Desafios e riscos

  • Alta concorrência no segmento de seguro auto.
  • Cenário macroeconômico: provavelmente impactará negativamente a subscrição (redução nas vendas de carros novos, demanda mais fraca por renovações devido à menor renda disponível) e taxas de perda (maior desemprego tende a estar relacionado a maiores roubos e fraudes).
  • Dependência de corretores terceirizados para venda de seguros.
  • Pouca escala no seguro saúde onde a concorrência vem crescendo via fusões e aquisições.
  • Cenário de longo prazo incerto para seguro automóvel, sua principal linha de negócios, com mudanças de hábito de consumo de auto, carros autônomos e aplicativos de automóveis.

Análise Inicial SulAmérica [SULA11]

Recomendação: MANTER
Preço alvo: R$ 39,50

Apesar da reconhecia qualidade, a nossa tese para SulAmérica se resume a percepção de que todas as empresas do setor de seguros em saúde ficaram para trás ao deixar novas entrantes verticalizadas consolidarem o mercado com crescimento e rentabilidade expressivos. Desta forma, a nossa recomendação é de manutenção, ou seja, se você está fora do papel, mantenha-se assim. Em termos de múltiplo, com 16,5x P/L, a ação não está cara em relação às novas entrantes como Hapvida e Intermédica, que estão se fundindo. Em contrapartida, a empresa possui bem menos crescimento e está mais cara se comparada à Porto, por exemplo. Acreditamos que a receita deva crescer entre 9 e 10% nos próximos anos, com demanda consistente por seguro saúde, mas com a volatilidade de lucro, caraterística do segmento de saúde que tem margens mais apertadas.  

A empresa trabalha em dois segmentos principais, o primeiro de seguros, com produtos de saúde correspondentes a 97% das receitas, e o segundo é asset, com produtos de vida e previdência cuja participação é de 3%. Na tentativa de impulsionar a asset, a empresa adquiriu parte da corretora Órama. Entretanto, é na saúde que a empresa possui mais desafios pela frente.

Na base da pirâmide, a Hapvida e Intermédica estão crescendo com o modelo de verticalização de clínicas, permitindo atender clientes de ticket menor. Com a potencial fusão das duas, aumenta-se ainda mais a competição, o que torna inevitável que estas colidam com as incumbentes (como a Porto e SulAmérica) quando fizerem upsell de planos mais sofisticados em grandes centros urbanos do Sudeste. De modo a contê-los, a SulAmérica precisa ampliar o crescimento e lucratividade, mesmo que seja ampliando o portfólio para a base da pirâmide.

A SulAmérica teve a oportunidade de consolidar o setor de seguros quando efetuou a venda da operação de veículos para a Alianz, em 2019, por R$ 3 bilhões. Em contrapartida, a companhia fez duas pequenas aquisições, a da Órama por R$ 100 milhões e da Paraná Clinicas por R$ 385 milhões. A Paraná tem suas operações verticalizadas, dando a SulAmérica sua primeira experiência nesse modelo de seguradora com clínicas. Contudo, com somente 90 mil beneficiários frente aos 7 milhões do grupo, o movimento tem pouco impacto, e a seguradora pode estar perdendo um tempo valioso. Com a fusão, a Hapvida e Intermédica terão 13 milhões de clientes, e principalmente, terão atuação no sudeste, principal mercado da SulAmérica.

Apesar de gostarmos do trabalho e aprimoramentos feitos pela empresa, que é centenária na área de saúde, as incumbentes deixaram vários novos entrantes verticalizados dominarem planos de médio e baixo tickets. No curto prazo, SulAmérica é uma companhia que teve benefícios com a pandemia da Covid-19, podendo estendê-las para o futuro. A empresa foi a primeira a implementar várias inovações no Brasil como a telemedicina e cuidado coordenado, por exemplo, que veio para ficar com a pandemia. Entretanto, não vemos essas iniciativas como suficientes para assegurar uma vantagem competitiva no longo prazo.

Pontos positivos e oportunidades

  • Tem conseguido entregar melhorias consistentes do lado operacional do segmento de Saúde (79,5% de loss ratio no 4T20) com iniciativas que reduziram índices de sinistralidade e com melhores resultados entre as grandes incumbentes (Bradesco Saúde e Amil).
  • Considerando a difícil situação dos concorrentes no segmento de saúde, a Sula tem conseguido ganhar market share orgânico.
  • Potencial fit defensivo de M&A (fusão) com Amil para conter avanço de Hapvida e Intermédica.
  • Venda recente de portfólio de grandes riscos para AXA a uma relação P/VP atraente de 4,2x, que também reduz a volatilidade dos resultados, que é inerente a este negócio.
  • Venda recente de operação de auto por um P/VP atraente de 4,3x, possibilitando aumentar o foco no segmento de saúde, o core bussiness da companhia, e obter uma boa posição de caixa.

Desafios e riscos

  • A empresa está fazendo o down selling (venda cruzada com planos mais baratos), mas com certo atraso após o setor de seguros estar sendo consolidado por novos entrantes verticalizados com crescimento agressivo via aquisições.
  • Impacto temporário negativo da Covid ainda é um pouco incerto. Apesar da queda dos custos com eletivas num primeiro momento, a combinação de custo medico com Covid e volta das eletivas está pressionando o 1.º semestre de 2021.
  • O setor saúde precisa de mudanças, com melhor equilíbrio ao longo de toda a cadeia de saúde. Hoje, a pressão sobre as empresas do setor de seguros vem de reguladores e fornecedores. A estrutura regulatória é esmagadoramente inclinada para o lado do consumidor. Fornecedores de equipamentos médicos, próteses e produtos têm as maiores margens na cadeia da saúde.
  • Maior desemprego pode causar um aumento nas frequências e uma queda nas renovações.
  • A inflação médica tende a crescer mais do que a inflação geral de preços.

Análise Inicial BB Seguridade [BBSE3]

Recomendação: COMPRAR
Preço alvo: R$ 32

Acreditamos que a BB Seg conseguirá ampliar os lucros para 2021 na faixa dos 17%, junto a um repasse de lucros aos acionistas (payout) de cerca de 80%. O aumento de juros ajudando o resultado financeiro, crescimento de dois dígitos de lucro e payout robusto, fazem parte de um panorama favorável para BBSE3, que negocia a 11,1x P/L21, 9,9x P/VP21, e dividend yield de 7%. Apesar de o Banco do Brasil representar 95% da distribuição da BB Seg, a companhia vem buscando dissociar-se da dependência do canal bancário para venda de seguros, desenvolvendo canais de alternativos como o “Ciclic” para seguros e produtos de pensão, cooperativas para o segmento rural e o Banco Votorantim em seguros e corretores autônomos para ofertas de planos corporativos. Com contrato de distribuição com o BB até 2033, o sucesso dos novos canais de distribuição pode aumentar o poder de barganha da companhia antes de renegociá-lo no futuro. Em razão da conjuntura, estamos otimistas com a empresa, justificando a nossa recomendação de compra.

Na nossa visão, a BB Seguridade é uma companhia resiliente, entregando bom crescimento e uma distribuição dos lucros acima dos pares do setor de seguros, atingindo um payout geralmente acima de 80%. Com o ROE entre 66 e 70%, é uma empresa que não consome muito capital para crescer, característica impulsionada pela exposição em produtos de grande rentabilidade, como vida, correspondente a 30% das receitas de seguros, e previdência, equivalente a 36% da receita total. No entanto, para o médio prazo, esperamos um crescimento moderado de lucro. Assim, a nossa projeção de crescimento acentuado para 2021 pode ser justificada pela base de comparação fraca em 2020 resultante da pandemia e do aumento da Selic.

O portfólio de seguros da companhia a coloca em uma posição privilegiada em índice de sinistralidade (loss ratio), indicador que corresponde a quanto do valor recebido de contratos de seguro foi utilizado para ressarcir o segurado. No 4º trimestre de 2020, a BB Seguros estava com um loss ratio de 31%, muito abaixo de carteiras mais arriscadas, como a da SulAmérica, por exemplo, cujo indicador é de 80% por conta da exposição em saúde. Do lado negativo, no curto prazo pode haver a piora no indicador devido a preços agressivos praticados. Além disso, o segmento de previdência possui um produto indexado ao IGP-M, que gerou a necessidade da integralização de R$ 1,2 bilhões em 2020, em função da alta do indicador e perda subsequente, podendo gerar mais dor de cabeça adiante.

Pontos positivos e oportunidades

  • Bom pagador de dividendos.
  • A unidade de seguros está mudando o foco para produtos com maior lucratividade, como seguro de vida tradicional distribuído no canal de bancário do BB.
  • Volta do crescimento de lucro em 2021 e 2022, parcialmente ajudado pela volta dos juros e também pelo crescimento de vendas moderado.
  • Venda do seguro patrimonial que gerava volatilidade nos resultados.
  • Venda do IRB antes dos escândalos contábeis que abalaram seus resultados e sua ação.
  • Seguro agrícola mudou as políticas para se tornar menos dependente de subsídios de seguro do governo.
  • Unidade de previdência ainda deve apresentar crescimento de reservas, visto que a base de clientes do BB ainda é pouco penetrada e a empresa está ampliando sua segmentação de clientes de renda ultra-alta para alta renda (segmento Estilo).

Desafios e riscos

  • Controlador da BB Seguridade é o Banco do Brasil (BB), sendo controlado pelo governo federal. Recentemente, a troca frequente de CEOs no BB ampliou o desconto nas ações do banco com efeito negativo para as ações da BB Seguridade.
  • Competição mais acirrada em seguros e previdência.
  • Volatilidade nos resultados financeiros de unidade de previdência por conta do descasamento de indexadores entre passivos e ativos.
  • Impostos corporativos mais elevados.
  • A desaceleração do crédito impacta diretamente os prêmios de seguro de vida prestamista.
  • O seguro rural pode ser impactado por eventuais problemas de safra.
  • Possibilidade do BB vender parte de sua participação na BB Seguridade. Embora a administração de ambas as empresas pareçam contra, pode haver uma decisão vinda diretamente do Tesouro.

Análise Inicial IRB [IRBR3]

Recomendação: MANTER
Preço alvo: R$ 6,40

Após fraudes contábeis que abalaram profundamente seu desempenho em 2020, amplificadas pelos efeitos da pandemia, a ação do IRB continua a negociar com múltiplos pouco atraentes de 25,7x P/L21, 15,7x P/L22, 1,3x P/VP21 e 1,2x P/VP22, considerando a baixa rentabilidade atual e incertezas da rentabilidade (ROE) futura. O ano de 2021 deve ser um ano de recuperação depois dos prejuízos de 2020, mas o processo de fortalecimento deve ser lento na nossa visão. Nosso preço alvo de R$6.4 considera premissas generosas (custo de capital de apenas 12,6%, ROE de 17% e crescimento de 7.5%), mesmo assim, não conseguimos chegar a um valor animador para empresa. Grande parte da limpeza de contratos com prejuízo foi feita em 2020 e deve ter menos impacto maléfico em 2021, mas sua sinistralidade (loss ratio) recorrente ainda gera dúvidas e a receita financeira deve ser mais fraca que o histórico. A empresa ainda segue com CEO interino, conselho relativamente novo e diretoria mais cautelosa. 

Em linhas gerais, o IRB é um caso à parte do setor de seguros, pois grande parte da sua análise se baseia na incógnita de seus resultados futuros. Após o IPO, a companhia mostrou uma performance operacional consistente e crescente, mas que se provou fraudulenta, culminando na destituição do CEO, CFO e de vários diretores e funcionários envolvidos no escândalo, após a gestora Squadra ter publicado uma carta refutando os demonstrativos e os executivos terem mentido sobre ter o Warren Buffet como acionista da empresa em ligação com analistas. 2020 foi um ano de reestruturação, com a revisão de contratos deficitários, enfrentamento à Covid e reestruturação de reservas legais que aumentaram o endividamento da resseguradora e geraram um prejuízo de R$ 1.5 bilhões – uma reversão do usual cenário de lucros crescentes em anos anteriores.

Apesar de para 2021 esperamos uma recuperação, o custo das dívidas contraídas deve retardá-la. Para nós, a melhora operacional da resseguradora já está precificada, por isso, mantemos uma recomendação de manter. O retorno sobre seu patrimônio (ROE) a patamares de 30% não devem ser mais vistos.

Pontos positivos e oportunidades

  • Com cerca de 30-40% de participação de mercado, seu domínio exerce influência. A competitividade dá posição vantajosa de “formador de preços”, ou seja, geralmente ajuda a definir os preços praticados no mercado.
  • Histórico longo de subscrição de risco e dados de sinistro conferem à resseguradora vantagem na análise de dados.
  • O custo administrativo baixo tende a beneficiar o resultado no longo prazo. Em 2020, ele correspondeu a somente 5,5% dos prêmios ganhos.
  • Apesar da crescente penetração dos produtos de seguros, a penetração brasileira e latino-americana permanece baixa. Além disso, a indústria de resseguros é mais incipiente no Brasil, fazendo com que, na teoria, deva crescer mais do que o setor de seguros.
  • A expectativa de juros mais altos no Brasil, se comparados a outros países, deve proporcionar um resultado financeiro melhor em comparação a pares internacionais.

Desafios e riscos

  • Após fraudes, a empresa ainda se recupera. Retorno recorrente de longo prazo, assim como o loss ratio após a reestruturação, ainda são desconhecidos.
  • Desde o final do monopólio do IRB, o número de resseguradoras saltou para mais de 120 licenciadas em apenas oito anos, aumentando o excesso de capacidade, portanto, pressionando os preços.
  • Golden Share. O governo federal tem a golden share que elege o presidente do concelho de administração e tem poder de veto sobre mudança de nome e de localidade.
  • As uniões (fusões) entre seguradoras (Ace/Itau, Axa/SulAmerica, Zurique/Santander, Ace/Chubb) está aumentando a competição e o poder de barganha das seguradoras.
  • Maiores impostos no Brasil tornam as resseguradoras locais menos competitivas do que seus pares internacionais. Impostos corporativos de 45%.

Um pouco mais sobre o setor de seguros

Ao falar do setor de seguros, precisamos segmentar entre os vários produtos ofertados. As caraterísticas entre eles variam consideravelmente. A distinção mais clara é o índice de sinistralidade (loss ratio), indicador que nos mostra a relação entre o ganho da seguradora e o montante utilizado para ressarcir o segurado caso acione o produto. O Brasil possui um solo fértil para seguradoras, pois sua demanda é justificada pela ausência ou ineficiência do Estado. O racional é de que um indivíduo que contrata um plano de saúde provavelmente não o faria caso hospitais públicos fossem excepcionais.

A SulAmérica é a companhia mais relevante de seguros de saúde dentre as nossas coberturas. Essa categoria de produto apresenta um bom crescimento, acima de 2 dígitos, puxado por uma alta inflação médica, que impacta preços, e demanda crescente. Em contrapartida, o loss ratio é alto, flertando entre 70-80%. Novas entrantes e modelos de negócio inovadores estão consolidando o setor de saúde com crescimento via aquisições e rentabilidade superior aos planos de seguro. A prova desse movimento é a redução de cerca de 3.000 operadoras de saúde para cerca de 1.000 nos últimos anos. A maioria das operadoras de saúde quebrou em decorrência da competição e foi consolidada entre as principais. A verticalização proporciona à seguradora comercializar o plano e ter o hospital, aumentando sua eficiência e diminuindo justamente o gargalo das perdas com indenizações.

Os produtos de vida e previdência possuem uma dinâmica um pouco diferente, crescendo também na faixa dos 1 a 2 dígitos baixos. Na nossa visão, o crescimento do seguro de vida tradicional é modesto comparado ao potencial de penetração, pois acreditamos ser um produto com poucas vantagens para o beneficiário. O seguro de vida prestamista (atrelado ao crédito) é o que cresce no Brasil. Já previdência deve continuar com uma dinâmica favorável ao crescimento, ganhando cada vez mais destaque em razão do déficit previdenciário do INSS.

Os produtos de grandes riscos, chamados P&C são constituídos, por exemplo, por seguros de plataformas de petróleo, prédios, veículos, residência e outros. Em geral, apresenta um crescimento médio de 10%, mas tem suas exceções. O segmento de seguros de veículos joga contra neste quesito, apresentando uma expansão volátil, entre 5-10% anualmente. Acreditamos que os seguros de veículos para a baixa renda, já explorados por cooperativas, podem ampliar o crescimento. No país, a Porto Seguro se destaca quase que sozinha na prestação de serviços veiculares.

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